Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

W. B. Yeats - A Clavícula de uma Lebre

Ao caminho convencional até o matrimônio, preconizado pelas instituições sociais e religiosas, o falante prefere uma senda alternativa, capaz de acercá-lo de um paraíso idílico, onde poderia experimentar uma felicidade despreocupada – como se integrante fosse da corte do Rei Artur.

 

Aos olhos do protagonista, vãos seriam os encargos, as expectativas, as rigidezes e as limitações impostos pela sociedade, considerando-se a transitoriedade do existir humano: melhor seria que se adotasse um modo de vida mais aberto à dança, à música e ao amor fugaz.

 

Ou ainda por outra linha de arguição, um tanto freudiana, desafiadora por igual ante as normas estabelecidas: entre o mundo do desejo e a realidade, sempre há algo a ser transgredido para que se possa alcançar a plena liberdade e a satisfação do prazer momentâneo.

 

J.A.R. – H.C.

 

W. B. Yeats

(1865-1939)

 

The Collar-Bone of a Hare

 

Would I could cast a sail on the water

Where many a king has gone

And many a king’s daughter,

And alight at the comely trees and the lawn,

The playing upon pipes and the dancing,

And learn that the best thing is

To change my loves while dancing

And pay but a kiss for a kiss.

 

I would find by the edge of that water

The colar-bone of a hare

Worn thin by the lapping of water,

And pierce it through with a gimlet and stare

At the old bitter world where they marry in churches,

And laugh over the untroubled water

At all who marry in churches,

Through the white thin bone of a hare.

 

In: “The Wild Swans at Coole” (1919)

 

A dança

(André Derain: pintor francês)

 

A Clavícula de uma Lebre

 

Quisera poder velejar sobre as águas

Singradas por tantos reis

E por tantas filhas de reis,

Saltar ante um gracioso bosque com gramado,

Entre danças e pífanos,

Para assim aprender que nada há de melhor

Que mudar de amores enquanto se dança,

Sem retribuir um beijo com mais de um beijo.

 

Às margens desse mar encontraria

A clavícula de uma lebre

Desgastada pelo marulhar das águas,

E a perfuraria com uma verruma para observar

O amargo e velho mundo onde todos se casam nas igrejas,

E riria sobre as águas em calmaria

De quantos lá se unem em matrimônio,

Através do alvor do osso desbastado da lebre.

 

Em: “Os Cisnes Selvagens em Coole” (1919)

 

Referência:

 

YEATS, W. B. The collarbone of a hare. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 111.

Nenhum comentário:

Postar um comentário