Em meio a uma
atmosfera polifacética de mistério e fascínio, pejada de associações mitológicas
e literárias, o poeta tece versos que nos levam a refletir sobre o nosso lugar
no mundo, ou melhor, sobre o processo de individuação que todo ser humano deve
enfrentar para encontrar seu próprio caminho na vida – esse arcabouço labiríntico
a nos impor contínuos obstáculos e desafios, suscitando-nos a emersão dos medos
e demônios interiores.
Em tal jornada
transformadora, sem embargo, há também esperança de um renascer mais conforme
aos nossos desejos de liberdade e de concretização do vasto potencial de que somos
dotados: esse é o itinerário do herói que, “nel mezzo del cammin”, em trânsito
por um inferno dantesco, encontrará drummondianas pedras e pedras obstrutoras, frente
às quais assumirá o múnus de as converter em catres onde pousar a cabeça em
seus momentos mais serenos, para poder assim alcançar as luzes mais agudas do
solstício.
J.A.R. – H.C.
Daniel Faria
(1971-1999)
Labirinto III
No meio do caminho da
nossa vida
No meio do poema,
havia
Uma pedra onde
reclinar a cabeça.
A mulher andava no
meio das estradas
Por sobre o mundo
tecendo e destecendo
Duas asas que o pai
soldava para o filho.
No meio do filho
estava o labirinto
E o touro de Ariadne
puxado por um fio
Lavrando
No coração de Teseu tão
manso
No meio da idade
aonde existe
O primeiro sinal do solstício.
Ariadne na Ilha de
Naxos
(Watts George
Frederick: artista inglês)
Referência:
FARIA, Daniel. Labirinto
III. In: __________. Poesia. Edição de Vera Vouga. 1. ed. Porto, PT:
Assírio & Alvim, mai. 2012. p. 68.
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