Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Daniel Faria - Labirinto III

Em meio a uma atmosfera polifacética de mistério e fascínio, pejada de associações mitológicas e literárias, o poeta tece versos que nos levam a refletir sobre o nosso lugar no mundo, ou melhor, sobre o processo de individuação que todo ser humano deve enfrentar para encontrar seu próprio caminho na vida – esse arcabouço labiríntico a nos impor contínuos obstáculos e desafios, suscitando-nos a emersão dos medos e demônios interiores.

 

Em tal jornada transformadora, sem embargo, há também esperança de um renascer mais conforme aos nossos desejos de liberdade e de concretização do vasto potencial de que somos dotados: esse é o itinerário do herói que, “nel mezzo del cammin”, em trânsito por um inferno dantesco, encontrará drummondianas pedras e pedras obstrutoras, frente às quais assumirá o múnus de as converter em catres onde pousar a cabeça em seus momentos mais serenos, para poder assim alcançar as luzes mais agudas do solstício.

 

J.A.R. – H.C.

 

Daniel Faria

(1971-1999)

 

Labirinto III

 

No meio do caminho da nossa vida

No meio do poema, havia

Uma pedra onde reclinar a cabeça.

 

A mulher andava no meio das estradas

Por sobre o mundo tecendo e destecendo

Duas asas que o pai soldava para o filho.

No meio do filho estava o labirinto

 

E o touro de Ariadne puxado por um fio

Lavrando

No coração de Teseu tão manso

No meio da idade aonde existe

O primeiro sinal do solstício.

 

Ariadne na Ilha de Naxos

(Watts George Frederick: artista inglês)

 

Referência:

 

FARIA, Daniel. Labirinto III. In: __________. Poesia. Edição de Vera Vouga. 1. ed. Porto, PT: Assírio & Alvim, mai. 2012. p. 68.

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