Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Carlos de Oliveira - Mapa

O poeta debruça-se sobre o próprio ato de criação, ou melhor, sobre a capacidade de dar vida às palavras, transformando, por meio de suas faculdades imaginativas, um espaço monotônico e vazio, assolado pela aridez topográfica, em algo mais fecundo e dinâmico, pleno de vitalidade e de significados.

 

Mapear o mundo através da escrita é a missão desse “cartógrafo”, não um mero observador, senão uma espécie de demiurgo, com plenos poderes alquímicos para transformar terrenos infecundos, de “recifes desertos”, em obras de arte singularizadas por suas próprias formas e texturas, locus metabólico onde a vida prorrompe em feições inauditas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Carlos de Oliveira

(1921-1981)

 

Mapa

 

I

 

O poeta

[o cartógrafo?]

observa

as suas

ilhas caligráficas

cercadas

por um mar

sem marés,

arquipélago

a que falta

vento,

fauna, flora,

e o hálito húmido

da espuma,

 

II

 

pensando

que

talvez alguma

ave errante

traga

à solidão

do mapa,

aos recifes desertos,

um frêmito,

um voo,

se for possível

voar

sobre tanta

aridez.

 

Em: “Micropaisagem” (1968)

 

Paisagem de estuário com peixes e duna

(Jan van Kessel, o Velho: pintor flamengo)

 

Referência:

 

OLIVEIRA, Carlos de. Mapa. In: __________. Trabalho poético. Segundo volume. Lisboa, PT: Sá da Costa, 1976. p. 95-96.

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