Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Edna St. Vincent Millay - Soneto XIX

A voz lírica põe-se a lucubrar sobre a questão da inevitabilidade da morte e, por conseguinte, a impermanência do amor, recordando-nos de que a beleza e a juventude são passadiças. Cumpre, por decorrência, desfrutar a vida enquanto se possa, pois todos haveremos de retornar ao “pó primordial”, tenhamos experimentado ou não uma existência devotada ao bem-querer e ao convívio fraterno.

 

De um outro soneto – obviamente o da “Fidelidade”, de Vinicius – acorreu-me um paralelo com a mensagem e Millay, consentâneo à ideia de infinitude do amor mesmo à vista de limitações temporais, digo melhor, do propósito de se manter intensa a chama enquanto subsista: que o paraíso seja aqui, adotando-se como parâmetro para o amor o amar sem medida, porque o amanhã poderá não existir!

 

J.A.R. – H.C.

 

Edna St. Vincent Millay

(1892-1950)

 

Sonnet VIII

 

And you as well must die, belovèd dust,

And all your beauty stand you in no stead;

This flawless, vital hand, this perfect head,

This body of flame and steel, before the gust

Of Death, or under his autumnal frost,

Shall be as any leaf, be no less dead

Than the first leaf that fell, – this wonder fled.

Altered, estranged, disintegrated, lost.

Nor shall my love avail you in your hour.

In spite of all my love, you will arise

Upon that day and wander down the air

Obscurely as the unattended flower,

It mattering not how beautiful you were,

Or how belovèd above all else that dies.

 

Flores emurchecidas

(Cezar Ferdinand Lungu: artista romeno)

 

Soneto XIX

 

Tu também morrerás, cinza adorada.

Essa beleza é certo que pereça,

Essa mão, essa esplêndida cabeça,

Esse corpo de argila iluminada.

 

Sob o gume da morte ou sob a geada

Serás mais uma folha que estremeça

E co’as outras te vás – verde e travessa,

Depois de morta, sem cor, desintegrada.

 

De nada o meu amor terá valido.

Apesar deste amor, tu chegarás

Ao fim do dia e tombarás vencido,

 

Obscuro como a flor que cai, por mais

Que tenhas sido belo e tenhas sido

Mais amado que todos os mortais.

 

Referências:

 

Em Inglês

 

MILLAY, Edna St. Vincent. Sonnet VIII. In: __________. First fig and other poems. Edited by Joslyn T. Pine. Mineola, NY: Dover Publications, 2000. p. 44. (‘Dover Thrift Editions’)

 

Em Português

 

MILLAY, Edna St. Vincent. Soneto XIX. Tradução de Ana Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e notas). Obras-primas da poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, ago. 1957. p. 327-328.

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