A voz lírica põe-se a
lucubrar sobre a questão da inevitabilidade da morte e, por conseguinte, a
impermanência do amor, recordando-nos de que a beleza e a juventude são passadiças.
Cumpre, por decorrência, desfrutar a vida enquanto se possa, pois todos
haveremos de retornar ao “pó primordial”, tenhamos experimentado ou não uma existência
devotada ao bem-querer e ao convívio fraterno.
De um outro soneto –
obviamente o da “Fidelidade”, de Vinicius – acorreu-me um paralelo com a mensagem
e Millay, consentâneo à ideia de infinitude do amor mesmo à vista de limitações
temporais, digo melhor, do propósito de se manter intensa a chama enquanto subsista:
que o paraíso seja aqui, adotando-se como parâmetro para o amor o amar sem
medida, porque o amanhã poderá não existir!
J.A.R. – H.C.
(1892-1950)
And you as well must die, belovèd dust,
And all your beauty stand you in no stead;
This flawless, vital hand, this perfect head,
This body of flame and steel, before the gust
Of Death, or under his autumnal frost,
Shall be as any leaf, be no less dead
Than the first leaf that fell, – this wonder fled.
Altered, estranged, disintegrated, lost.
Nor shall my love avail you in your hour.
In spite of all my love, you will arise
Upon that day and wander down the air
Obscurely as the unattended flower,
It mattering not how beautiful you were,
Or how belovèd above all else that dies.
Flores emurchecidas
(Cezar Ferdinand Lungu:
artista romeno)
Soneto XIX
Tu também morrerás,
cinza adorada.
Essa beleza é certo
que pereça,
Essa mão, essa
esplêndida cabeça,
Esse corpo de argila
iluminada.
Sob o gume da morte
ou sob a geada
Serás mais uma folha
que estremeça
E co’as outras te vás
– verde e travessa,
Depois de morta, sem
cor, desintegrada.
De nada o meu amor
terá valido.
Apesar deste amor, tu
chegarás
Ao fim do dia e
tombarás vencido,
Obscuro como a flor
que cai, por mais
Que tenhas sido belo
e tenhas sido
Mais amado que todos
os mortais.
Referências:
Em Inglês
MILLAY, Edna St.
Vincent. Sonnet VIII. In: __________. First fig and other poems. Edited
by Joslyn T. Pine. Mineola, NY: Dover Publications, 2000. p. 44. (‘Dover Thrift
Editions’)
Em Português
MILLAY, Edna St.
Vincent. Soneto XIX. Tradução de Ana Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça. In:
MILLIET, Sérgio (Seleção e notas). Obras-primas da poesia universal. 3.
ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, ago. 1957. p. 327-328.
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