Evocando uma
atmosfera fantasiosa e devaneadora – muito em linha com a obra do escritor
inglês Lewis Carroll (1832-1898), a servir-lhe como título –, este poema de
Correa detém-se sobre a natureza do desejo, acenando para a possibilidade de
libertação e de reavivamento da alma, por meio da força da imaginação e da
conexão com a natureza.
O poeta chileno metaforiza
o ser humano na figura de uma árvore, em que os frutos são a expressão de
nossos desejos e os sentidos apontam, em determinado momento, para um despertar
que vai de encontro ao fastio imiscuído em nossas vidas, em meio às limitações e
aos obstáculos do quotidiano.
A mensagem subjacente
aos versos convida-nos a ter uma união simbiótica com o entorno, para que regressemos
a um estado primordial de harmonia e paz, semelhante ao das plantas ou pássaros,
livre das preocupações e das tensões do modo de vida contemporâneo,
tornando-nos conscientes da complexidade do mundo e das incertezas que pairam
sobre as nossas fluidas existências.
J.A.R. – H.C.
(1915-1995)
Alicia en el País de las Maravillas
Cuando se descargan los deseos del árbol
Cuando el árbol abre bien el ojo y recupera el
olfato
y se fija en nosotros que nos identificamos con el
fastidio del lago
Pese a la furia de las nubes y de las manos que
imploran piedad
Entonces la imaginación es sacudida por inevitables
cataclismos.
Algún día se desatará el nudo que perturba el hilo
de la memoria
Algún día no habrán los extremos de sueño y vigilia
Y tú bella desconocida podrás tenderte libremente
sobre la yerba
del placer
En tu pecho crecerá el muérdago el oxiacanto
La mirada tuya será mi propia mirada
Y te sangrarás esperándome todas las tardes a la
entrada de los
golfos a los que ahora me empujas
A esos golfos temidos por los perros
Arrancados a viva fuerza de los territorios del
demonio.
No tendremos la inquietud
Ni el asalto a mansalva
Ni la nube de la que tú sabes sacar tanto partido
Ni la piedra que nos endurece el ojo y la nariz
Ni yo mismo que me compadezco de su pobre ser.
El hombre volverá a su estado de planta
De nariz trepadora
De pájaro errante
En buenas cuentas con sus cinco sentidos
independientes
y entregados al más cruel y perfecto desorden.
Ilustração para a
obra
de Lewis Carroll
(Rodney Matthews:
ilustrador inglês)
Alice no País das
Maravilhas
Quando a árvore se desembaraça de seus desejos,
Quando a árvore arregala
os olhos e recupera o olfato
E se fixa em nós que
nos identificamos com o fastio do lago,
Apesar da fúria das
nuvens e das mãos que imploram
por misericórdia,
Então a imaginação
torna-se refém de inevitáveis cataclismos.
Algum dia se desatará
o nó que perturba o fio da memória,
Algum dia não haverá
mais os extremos de sono e vigília,
E tu, bela
desconhecida, poderás deitar-te livremente
sobre a relva do
prazer.
Em teu peito crescerá
o visco, o oxiacanto;
O teu olhar será o
meu próprio olhar
E, à minha espera,
sangrarás todas as tardes à entrada dos golfos
para os quais agora
me empurras,
A esses golfos
temidos pelos cães,
Arrancados à viva
força dos territórios do demônio.
Não teremos a
inquietude,
Nem assalto à
mancheia,
Nem a nuvem da qual
sabes tirar tanto proveito,
Nem a pedra que nos
endurece o olho e o nariz,
Tampouco eu mesmo que
me compadeço de teu pobre ser.
O homem retornará ao
seu estado vegetal,
De nariz trepador,
De pássaro errante,
Em boas contas com os
seus cinco sentidos independentes
E entregues à mais
cruel e perfeita desordem.
Referência:
CORREA, Enrique
Gómez. Alicia en el país de las maravillas. In: BORDA, Juan Gustavo Cobo
(Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispano-americana. 1.
ed. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1985. p. 161-162. (Colección
‘Terra Firme’)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário