Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Enrique Gómez Correa - Alice no País das Maravilhas

Evocando uma atmosfera fantasiosa e devaneadora – muito em linha com a obra do escritor inglês Lewis Carroll (1832-1898), a servir-lhe como título –, este poema de Correa detém-se sobre a natureza do desejo, acenando para a possibilidade de libertação e de reavivamento da alma, por meio da força da imaginação e da conexão com a natureza.

 

O poeta chileno metaforiza o ser humano na figura de uma árvore, em que os frutos são a expressão de nossos desejos e os sentidos apontam, em determinado momento, para um despertar que vai de encontro ao fastio imiscuído em nossas vidas, em meio às limitações e aos obstáculos do quotidiano.

 

A mensagem subjacente aos versos convida-nos a ter uma união simbiótica com o entorno, para que regressemos a um estado primordial de harmonia e paz, semelhante ao das plantas ou pássaros, livre das preocupações e das tensões do modo de vida contemporâneo, tornando-nos conscientes da complexidade do mundo e das incertezas que pairam sobre as nossas fluidas existências.

 

J.A.R. – H.C.

 

Enrique Gómez Correa

(1915-1995)

 

Alicia en el País de las Maravillas

 

Cuando se descargan los deseos del árbol

Cuando el árbol abre bien el ojo y recupera el olfato

y se fija en nosotros que nos identificamos con el fastidio del lago

Pese a la furia de las nubes y de las manos que imploran piedad

Entonces la imaginación es sacudida por inevitables cataclismos.

 

Algún día se desatará el nudo que perturba el hilo de la memoria

Algún día no habrán los extremos de sueño y vigilia

Y tú bella desconocida podrás tenderte libremente sobre la yerba

del placer

En tu pecho crecerá el muérdago el oxiacanto

La mirada tuya será mi propia mirada

Y te sangrarás esperándome todas las tardes a la entrada de los

golfos a los que ahora me empujas

A esos golfos temidos por los perros

Arrancados a viva fuerza de los territorios del demonio.

 

No tendremos la inquietud

Ni el asalto a mansalva

Ni la nube de la que tú sabes sacar tanto partido

Ni la piedra que nos endurece el ojo y la nariz

Ni yo mismo que me compadezco de su pobre ser.

 

El hombre volverá a su estado de planta

De nariz trepadora

De pájaro errante

En buenas cuentas con sus cinco sentidos independientes

y entregados al más cruel y perfecto desorden.

 

Ilustração para a obra

de Lewis Carroll

(Rodney Matthews: ilustrador inglês)

 

Alice no País das Maravilhas

 

Quando a árvore se desembaraça de seus desejos,

Quando a árvore arregala os olhos e recupera o olfato

E se fixa em nós que nos identificamos com o fastio do lago,

Apesar da fúria das nuvens e das mãos que imploram

por misericórdia,

Então a imaginação torna-se refém de inevitáveis cataclismos.

 

Algum dia se desatará o nó que perturba o fio da memória,

Algum dia não haverá mais os extremos de sono e vigília,

E tu, bela desconhecida, poderás deitar-te livremente

sobre a relva do prazer.

Em teu peito crescerá o visco, o oxiacanto;

O teu olhar será o meu próprio olhar

E, à minha espera, sangrarás todas as tardes à entrada dos golfos

para os quais agora me empurras,

A esses golfos temidos pelos cães,

Arrancados à viva força dos territórios do demônio.

 

Não teremos a inquietude,

Nem assalto à mancheia,

Nem a nuvem da qual sabes tirar tanto proveito,

Nem a pedra que nos endurece o olho e o nariz,

Tampouco eu mesmo que me compadeço de teu pobre ser.

 

O homem retornará ao seu estado vegetal,

De nariz trepador,

De pássaro errante,

Em boas contas com os seus cinco sentidos independentes

E entregues à mais cruel e perfeita desordem.

 

Referência:

 

CORREA, Enrique Gómez. Alicia en el país de las maravillas. In: BORDA, Juan Gustavo Cobo (Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispano-americana. 1. ed. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1985. p. 161-162. (Colección ‘Terra Firme’)

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