Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Vladímir Maiakóvski - Guerra e paz: prólogo

Embora não se tenha aqui o inteiro teor deste longo poema de Maiakóvski – composto pelo infratranscrito prólogo, uma dedicatória e cinco seções (v. link no campo de referências) –, deduz-se pelo título, desde logo, um insuspeito espectro temático, que vai da gravidade da guerra à valentia nos campos de batalha, da vida que se defende à morte por toda parte.

 

O falante, à maneira de um soldado, expressa as suas ideias de modo apaixonado e desafiador, confrontando o pragmatismo e a trivialidade da vida quotidiana com o poder letal do conflito – a obstaculizar a expressão do amor –, sugerindo, com desapego, que a morte tem o poder de nos libertar das preocupações e dos pecados terrenais.

 

Declarando-se um “arauto das verdades futuras”, o ente lírico enfatiza, ademais, o seu papel de mensageiro da verdade e da justiça em meio ao caos que se instala com a refrega, resistindo à conformidade e à complacência daqueles que não estão diretamente envolvidos nos combates.

 

J.A.R. – H.C.

 

Vladímir Maiakóvski

(1893-1930)

 

Война и мир

 

Пролог

 

Хорошо вам.

Мертвые сраму не имут.

Злобу

к умершим убийцам туши.

Очистительнейшей влагой вымыт

грех отлетевшей души.

 

Хорошо вам!

А мне

сквозь строй,

сквозь грохот

как пронести любовь к живому?

Оступлюсь

и последней любовишки кроха

навеки канет в дымный омут.

 

Что́ им,

вернувшимся,

печали ваши,

что́ им

каких-то стихов бахрома?!

Им

на паре б деревяшек

день кое-как прохромать!

 

Боишься?!

Трус!

Убьют?!

А так

полсотни лет еще можешь, раб, расти.

Ложь!

Я знаю,

и в лаве атак

я буду первый

в геройстве,

в храбрости.

 

О, кто же,

набатом гибнущих годин

званый,

не выйдет брав?

Все!

А я

на земле

один

глашатай грядущих правд.

 

Сегодня ликую!

Не разбрызгав,

душу

сумел,

сумел донесть.

Единственный человечий,

средь воя,

средь визга,

голос

подъемлю днесь.

 

А там

расстреливайте,

вяжите к столбу!

Я ль изменюсь в лице!

Хотите

туза

нацеплю на лбу,

чтоб ярче горела цель?!

 

(1915-1916)

 

Guerra e paz

(Peter Proksch: pintor austríaco)

 

Guerra e paz (*)

 

Prólogo

 

Vós outros tendes sorte.

A vergonha não cai sobre os mortos.

Logo cessais

de odiar os assassinos mortos.

Julgais

que o mais puro dos líquidos lava

o pecado da alma que se evola.

 

Tendes sorte.

Mas eu

como levarei meu amor à vida

através das fileiras,

através do estrondo?

Apenas um passo em falso

e a migalha do último e pequenino amor

rolará para sempre num torvelinho de fumo.

 

Aqueles que regressam

que lhes importa

vossas tristezas?

Que falta lhes faz

a franja de alguns versos?

Basta-lhes um par de muletas

com que renguear pelo resto da vida.

Tens medo?

Covarde!

Te matarão!

 

E tu,

tu poderias viver escravo

cinquenta anos mais.

Mentira!

 

Sei

que na lava do ataque

serei o primeiro

em audácia,

em valor.

 

Ah! que bravo recusaria atender

ao toque de rebate do futuro?

Mas na terra

hoje

sou o único arauto das verdades em marcha!

 

Hoje estou exultante!

Sem desperdiçar nem uma gota,

despejei minh’alma até o fim.

Minha voz,

a única humana,

entre lamentos e gemidos

ergue-se à luz do dia.

 

Depois

atai-me a um poste,

fuzilai-me!

Por causa disso

haverei de mudar?

Na fronte

desenharei um alvo

para que nítido se destaque

quando apontem.

 

(1915-1916)

 

Nota:

 

(*). Trata-se de um longo poema, do qual, nesta postagem, vai apenas o seu prólogo.

 

Referências:

 

МАЯКОВСКИЙ, Владимир. Война и мир: пролог. Disponível neste endereço. Acesso em: 18 jan. 2025.

 

MAIAKÓVSKI, Vladímir. Guerra e paz: prólogo. Tradução de Emilio Carrera Guerra. In: __________. O poeta-operário: antologia poética. Tradução e estudo biográfico de Emílio Carrera Guerra. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1991. p. 124-125.

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