Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Sully Prudhomme - Os Laços

Constante na seção “La Vie Intérieure” (“A Vida Interior”) de “Stances” (“Estâncias”), estas quatro quadras, que no original apresentam rimas no formato “abab”, foram vertidas ao português no formato “abba”: tratam elas do estado de ser cativo do ente lírico, em razão dos “mil seres” que ama, da existência deveras dependente” desses “frágeis nós”.

 

Tem-se o pensamento do poeta às voltas com a linguagem que emerge diretamente do coração, agrilhoado diante do proliferar das causas de seus próprios tormentos, melhor dizendo, dos estímulos que muito lhe despertam o desvelo: o verdadeiro, o desconhecido, a melodia, as belezas da natureza, tudo quanto possa revelar luz própria.

 

J.A.R. – H.C.

 

Sully Prudhomme

(1839-1907)

 

Les Chaines

 

J’ai voulu tout aimer, et je suis malheureux,

Car j’ai de mes tourments multiplié les causes;

D’innombrables liens frêles et douloureux

Dans l’univers entier vont de mon âme aux choses.

 

Tout m’attire à la fois et d’un attrait pareil:

Le vrai par ses lueurs, l’inconnu par ses voiles;

Un trait d’or frémissant joint mon cœur au soleil,

Et de longs fils soyeux l’unissent aux étoiles.

 

La cadence m’enchaîne à l’air mélodieux,

La douceur du velours aux roses que je touche;

D’un sourire j’ai fait la chaîne de mes yeux,

Et j’ai fait d’un baiser la chaîne de ma bouche.

 

Ma vie est suspendue à ces fragiles nœuds,

Et je suis le captif des mille êtres que j’aime:

Au moindre ébranlement qu’un souffle cause en eux

Je sens un peu de moi s’arracher de moi-même.

 

Dans: “Stances et Poèmes” (1865)

 

O ancoradouro do Louvre - París (FR)

(Eugene Galien-Laloue: pintor francês)

 

Os Laços

 

Querendo a tudo amar, trago a alma dolorida,

Porque multipliquei a causa dos tormentos...

Frágeis laços, grilhões inúmeros, cruentos,

Prendem meu coração às coisas desta vida.

 

Tudo a um tempo me atrai e enlaça-me igualmente:

Por seu brilho, a verdade e seus véus, o mistério;

Minha alma se une ao sol num raio de ouro, etéreo,

E em mil fios de seda a cada estrela ardente...

 

A cadência me prende à ária que triste evoca;

Seduz-me a veludez da rosa entre os abrolhos:

Eu de um sorriso fiz o grilhão dos meus olhos

E fiz também de um beijo a cadeia da boca!

 

Assim cativo sou dos seres que adoro, a esmo...

Suspenso é meu viver nesta rede que o enlaça...

E quando o menor sopro entre aqueles perpassa,

Sinto um pouco de mim se arrancar de mim mesmo.

 

Em: “Estâncias e Poemas” (1865)

 

(Tradução de Álvaro Reis em “Musa Francesa”,

Salvador, 1917)

 

Referências:

 

Em Francês

 

PRUDHOMME, Sully. Les chaines. In: __________. Oeuvres de Sully Prudhomme: poesias (1865-1867). Paris, FR: Alphonse Lemerre Èditeur, 1883. p. 9. Disponível neste endereço. Acesso em: 8 jan. 2022.

 

Em Português

 

PRUDHOMME, Sully. Os laços. Tradução de Álvaro Reis. In: __________. Diário íntimo & Pensamentos. Tradução e notas de Mello Nóbrega. Estudo introdutivo de Gabriel D’Aubarède. Rio de Janeiro, GB: Opera Mundi, 1973. p. 258. (“Biblioteca dos Prêmios Nobel de Literatura”)

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