Constante na seção
“La Vie Intérieure” (“A Vida Interior”) de “Stances” (“Estâncias”), estas quatro
quadras, que no original apresentam rimas no formato “abab”, foram vertidas ao
português no formato “abba”: tratam elas do estado de ser cativo do ente
lírico, em razão dos “mil seres” que ama, da existência deveras dependente”
desses “frágeis nós”.
Tem-se o pensamento
do poeta às voltas com a linguagem que emerge diretamente do coração, agrilhoado
diante do proliferar das causas de seus próprios tormentos, melhor dizendo, dos
estímulos que muito lhe despertam o desvelo: o verdadeiro, o desconhecido, a melodia,
as belezas da natureza, tudo quanto possa revelar luz própria.
J.A.R. – H.C.
Sully Prudhomme
(1839-1907)
Les Chaines
J’ai voulu tout
aimer, et je suis malheureux,
Car j’ai de mes tourments
multiplié les causes;
D’innombrables liens
frêles et douloureux
Dans l’univers entier
vont de mon âme aux choses.
Tout m’attire à la
fois et d’un attrait pareil:
Le vrai par ses
lueurs, l’inconnu par ses voiles;
Un trait d’or
frémissant joint mon cœur au soleil,
Et de longs fils
soyeux l’unissent aux étoiles.
La cadence m’enchaîne
à l’air mélodieux,
La douceur du velours
aux roses que je touche;
D’un sourire j’ai
fait la chaîne de mes yeux,
Et j’ai fait d’un
baiser la chaîne de ma bouche.
Ma vie est suspendue
à ces fragiles nœuds,
Et je suis le captif
des mille êtres que j’aime:
Au moindre
ébranlement qu’un souffle cause en eux
Je sens un peu de moi
s’arracher de moi-même.
Dans: “Stances et
Poèmes” (1865)
O ancoradouro do
Louvre - París (FR)
(Eugene Galien-Laloue:
pintor francês)
Os Laços
Querendo a tudo amar,
trago a alma dolorida,
Porque multipliquei a
causa dos tormentos...
Frágeis laços,
grilhões inúmeros, cruentos,
Prendem meu coração
às coisas desta vida.
Tudo a um tempo me atrai
e enlaça-me igualmente:
Por seu brilho, a
verdade e seus véus, o mistério;
Minha alma se une ao
sol num raio de ouro, etéreo,
E em mil fios de seda
a cada estrela ardente...
A cadência me prende
à ária que triste evoca;
Seduz-me a veludez da
rosa entre os abrolhos:
Eu de um sorriso fiz
o grilhão dos meus olhos
E fiz também de um
beijo a cadeia da boca!
Assim cativo sou dos
seres que adoro, a esmo...
Suspenso é meu viver
nesta rede que o enlaça...
E quando o menor
sopro entre aqueles perpassa,
Sinto um pouco de mim
se arrancar de mim mesmo.
Em: “Estâncias e
Poemas” (1865)
(Tradução de Álvaro
Reis em “Musa Francesa”,
Salvador, 1917)
Referências:
Em Francês
PRUDHOMME, Sully. Les
chaines. In: __________. Oeuvres de Sully Prudhomme: poesias
(1865-1867). Paris, FR: Alphonse Lemerre Èditeur, 1883. p. 9. Disponível neste endereço. Acesso em: 8 jan.
2022.
Em Português
PRUDHOMME, Sully. Os
laços. Tradução de Álvaro Reis. In: __________. Diário íntimo &
Pensamentos. Tradução e notas de Mello Nóbrega. Estudo introdutivo de
Gabriel D’Aubarède. Rio de Janeiro, GB: Opera Mundi, 1973. p. 258. (“Biblioteca
dos Prêmios Nobel de Literatura”)
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