Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Cecília Meireles - Explicação

O tom do poema se mostra algo merencório, como se a voz lírica estivesse numa curva qualquer de fim de tarde, a relembrar a sua própria história de vida e de personagens que nela pontilharam, mas que já desembarcaram do comboio da existência terrena: sente-se certo desconsolo com o entorno humano já um tanto devoluto.

 

O tempo se passa bem mais no particípio do que no porvir, e os versos conjugam jornadas de reminiscências – memórias lacrimejantes para “antigos ventos” –, a muito ultrapassar todo o “resto” que se delongou “para mais tarde”: na sucessão de dias e noites, aguarda-se um pousar mais firme sobre a terra, uma espécie de “segunda vinda”, antes da própria falante do que de um Deus que a conhece, mas que se alheia no empíreo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Cecília Meireles

(1901-1964)

 

Explicação

 

A Alberto de Serpa

 

O pensamento é triste; o amor, insuficiente;

e eu quero sempre mais do que vem nos milagres.

Deixo que a terra me sustente:

guardo o resto para mais tarde.

 

Deus não fala comigo – e eu sei que me conhece.

A antigos ventos dei as lágrimas que tinha.

A estrela sobe; a estrela desce ...

– espero a minha própria vinda.

 

(Navego pela memória

sem margens.

 

Alguém conta a minha história

e alguém mata os personagens.)

 

Em: “Vaga Música” (1942)

 

A praia em Trouville

(Claude Monet: pintor francês)

 

Referência:

 

MEIRELES, Cecília. Explicação. In: __________. Obra poética. Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar, 1983. p. 192.

 

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