A voz lírica nos
alerta sobre as lutas que empreendemos em vida e que nada mais são do que “moinhos
de vento”, vitórias falazes que não nos completam, nem nos tornam melhores
pessoas: seriam corridas empreendidas tendo as nossas próprias sombras como
competidoras ou adversárias, em outras tantas raias.
Sem ouvirmos os
aplausos ao final de cada contenda, damos início a outra peleja, e mais outra,
assim levando o fado sem comprazer-nos em completa realização: (Ec 2:11) “No entanto,
quando avaliei tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto
me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do
vento; não há nenhum proveito no que se faz debaixo do sol.”
J.A.R. – H.C.
Blanca Varela
(1926-2009)
“Curriculum Vitae”
digamos que ganaste
la carrera
y que el premio
era otra carrera
que no bebiste el
vino de la victoria
sino tu propia sal
que jamás escuchaste
vítores
sino ladridos de
perros
y que tu sombra
tu propia sombra
fue tu única
y desleal competidora
En: “Canto villano”
(1972-1978)
Na vindima: verão
(Aleksei Venetsianov:
pintor russo)
“Curriculum Vitae”
digamos que ganhaste
a corrida
e que o prêmio obtido
foi outra corrida
que não bebeste o
vinho da vitória
mas o teu próprio sal
que jamais ouviste aplausos
senão cães a ladrar
e que tua sombra
tua própria sombra
foi tua única
e desleal competidora
Em: “Canto vilão”
(1972-1978)
Referência:
VARELA, Blanca. “Curriculum
vitae”. In: __________. Breve antología. Selección y nota introductoria
de Perla Schwartz y José Luis Sierra. Edición de Laura González Duran. México,
DF: UNAM; Coordinación de Difusión Cultural; Dirección de Literatura, 2012. p.
18. (Material de Lectura; Serie ‘Poesía Moderna’, n. 140)
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