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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Saul Tchernihovski - Três Verdades

O poeta russo de origem hebraica sumaria a verdade em três vertentes que lhe parecem melhor caracterizá-la, em associação às suas respectivas particularidades, a saber: (i) a verdade do indivíduo – da força, do poder, da malignidade; (ii) a verdade do dogma (a conexão com a temática religiosa afigura-se aqui iniludível, a meu ver) – por muitos abraçada; e (iii) a verdade da beleza – uma aspiração universal.

 

Tchernihovski vê precedência e nobreza na verdade da beleza, pois que superior às outras duas, vale dizer, primeiramente em relação à que advém da pura vontade, nem sempre moderada por um intelecto sadio – quando então poderá redundar em atos contra a humanidade – e, depois, porque o dogma, ao sabor do momento, demanda intenso esforço para contemporizar com a concórdia, com a liberdade e com a livre persuasão.

 

J.A.R. – H.C.

 

Saul Tchernihovski

(1875-1943)

 

Três Verdades (*)

 

Três verdades há no mundo:

a verdade e a verdade e o fulgor da verdade.

A verdade da valentia,

a verdade da força,

a verdade da verdade;

a verdade da beleza.

Cada geração escolhe sua verdade

enquanto vive sua alma

e seu espírito não envelhece.

Passaram as gerações

e outra anuncia seu advento.

 

Três verdades há no mundo:

a verdade e a verdade e o fulgor da verdade.

A verdade do indivíduo,

a verdade de muitos,

e a verdade do homem:

a verdade do povo.

Nações em nações

escolhem sua verdade,

alargam-na, cultivam-na,

até que nela desapareçam.

Qual a nação que ascende na onda?

 

Três verdades há no mundo:

a verdade e a verdade e o fulgor da verdade.

A verdade do indivíduo: a verdade da força;

a verdade do dogma: a verdade de muitos;

e a verdade da beleza: a verdade do povo.

A verdade do indivíduo é a verdade da maldade;

na verdade de muitos alenta a mentira;

a verdade da beleza ergue-se sobre o universo.

 

Um mergulho em Asnières

(Georges Seraut: pintor francês)

 

 

Nota:

 

(*). Não logrei encontrar na grande rede o poema em russo, senão apenas em hebraico (vide aqui), motivo pelo qual suponho que tal tenha sido o idioma em que originalmente redigido o poema, haja vista a ascendência judaica do poeta.

 

Referência:

 

TCHERNIHOVSKI, Saul. Três verdades. Tradução de J. Guinsburg. In: GUINSBURG, J.; TAVARES, Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1960. p. 300. (Coleção “Judaica”; v. 12)

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