O poeta russo de
origem hebraica sumaria a verdade em três vertentes que lhe parecem melhor
caracterizá-la, em associação às suas respectivas particularidades, a saber: (i)
a verdade do indivíduo – da força, do poder, da malignidade; (ii) a verdade do
dogma (a conexão com a temática religiosa afigura-se aqui iniludível, a meu
ver) – por muitos abraçada; e (iii) a verdade da beleza – uma aspiração
universal.
Tchernihovski vê
precedência e nobreza na verdade da beleza, pois que superior às outras duas, vale
dizer, primeiramente em relação à que advém da pura vontade, nem sempre moderada
por um intelecto sadio – quando então poderá redundar em atos contra a
humanidade – e, depois, porque o dogma, ao sabor do momento, demanda intenso
esforço para contemporizar com a concórdia, com a liberdade e com a livre persuasão.
J.A.R. – H.C.
Saul Tchernihovski
(1875-1943)
Três Verdades (*)
Três verdades há no
mundo:
a verdade e a verdade
e o fulgor da verdade.
A verdade da
valentia,
a verdade da força,
a verdade da verdade;
a verdade da beleza.
Cada geração escolhe
sua verdade
enquanto vive sua
alma
e seu espírito não
envelhece.
Passaram as gerações
e outra anuncia seu
advento.
Três verdades há no
mundo:
a verdade e a verdade
e o fulgor da verdade.
A verdade do indivíduo,
a verdade de muitos,
e a verdade do homem:
a verdade do povo.
Nações em nações
escolhem sua verdade,
alargam-na,
cultivam-na,
até que nela
desapareçam.
Qual a nação que
ascende na onda?
Três verdades há no
mundo:
a verdade e a verdade
e o fulgor da verdade.
A verdade do
indivíduo: a verdade da força;
a verdade do dogma: a
verdade de muitos;
e a verdade da
beleza: a verdade do povo.
A verdade do
indivíduo é a verdade da maldade;
na verdade de muitos
alenta a mentira;
a verdade da beleza ergue-se
sobre o universo.
Um mergulho em
Asnières
(Georges Seraut:
pintor francês)
Nota:
(*). Não logrei encontrar
na grande rede o poema em russo, senão apenas em hebraico (vide aqui), motivo pelo qual suponho que tal
tenha sido o idioma em que originalmente redigido o poema, haja vista a
ascendência judaica do poeta.
Referência:
TCHERNIHOVSKI, Saul.
Três verdades. Tradução de J. Guinsburg. In: GUINSBURG, J.; TAVARES, Zulmira
Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina
Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1960. p. 300. (Coleção “Judaica”; v.
12)
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