Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Kenneth Rexroth - Tranquilamente

Quietude, tranquilidade, calma e outros adjetivos é tudo o que sintetiza o momento de remanso do casal a que os versos do infratranscrito poema dizem respeito. Mesmo a menção ao Oceano Pacífico alinha-se, em justa medida, à composição deste cenário quase arquetípico de uma relação amorosa que, para ser sincero, trouxe-me à imaginação as nuances de uma antiga composição da dupla Roberto Carlos & Erasmo Carlos – “Proposta” (1973).

 

Lá nos recessos do coração, há uma sensação de lentidão, silêncio, quietude e confiança, palavras que convergem, conforme a presumível intenção do poeta, para a ideia de tranquilidade do título. Nas referências às partes do corpo – face, coxas, cérebros, corações – depreende-se a conexão física entre os amantes e destes com o mundo à volta, fazendo ecoar, por igual, um sentido de harmonia pelo soneto.

 

J.A.R. – H.C.

 

Kenneth Rexroth

(1905-1982)

 

Quietly

 

Lying here quietly beside you,

My cheek against your firm, quiet thighs,

The calm music of Boccherini

Washing over us in the quiet,

As the sun leaves the housetops and goes

Out over the Pacific, quiet –

So quiet the sun moves beyond us,

So quiet as the sun always goes,

So quiet, our bodies, worn with the

Times and the penances of love, our

Brains curled, quiet in their shells, dormant,

Our hearts slow, quiet, reliable

In their interlocking rhythms, the pulse

In your thigh caressing my cheek. Quiet.

 

Um casal numa pousada tocando música,

uma mulher à escuta na porta

(Pieter Fontijn: pintor holandês)

 

Tranquilamente

 

Recostado aqui tranquilamente a teu lado,

Minha face contra tuas firmes coxas em repouso,

A música calma de Boccherini

Banhando-nos na quietude,

Enquanto o sol se afasta dos telhados e se vai

Sobre o Pacífico, bonançoso –

Tão plácido o sol se move para além de nós,

Tão plácido como o sol sempre se vai,

Tão quietos, nossos corpos, fatigados pelos

Momentos e penitências do amor, nossos

Cérebros enovelados, serenos em suas conchas,

adormecidos,

Lentos os nossos corações, sossegados, imperturbáveis

Em seus ritmos entrelaçados, o pulsar

De tua coxa a acariciar-me a face. Tranquilo.

 

Referência:

 

REXROTH, Kenneth. Quietly. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 138.

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