Quietude,
tranquilidade, calma e outros adjetivos é tudo o que sintetiza o momento de
remanso do casal a que os versos do infratranscrito poema dizem respeito. Mesmo
a menção ao Oceano Pacífico alinha-se, em justa medida, à composição deste
cenário quase arquetípico de uma relação amorosa que, para ser sincero, trouxe-me
à imaginação as nuances de uma antiga composição da dupla Roberto Carlos &
Erasmo Carlos – “Proposta” (1973).
Lá nos recessos do
coração, há uma sensação de lentidão, silêncio, quietude e confiança, palavras
que convergem, conforme a presumível intenção do poeta, para a ideia de
tranquilidade do título. Nas referências às partes do corpo – face, coxas, cérebros,
corações – depreende-se a conexão física entre os amantes e destes com o mundo
à volta, fazendo ecoar, por igual, um sentido de harmonia pelo soneto.
J.A.R. – H.C.
Kenneth Rexroth
(1905-1982)
Quietly
Lying here quietly
beside you,
My cheek against your
firm, quiet thighs,
The calm music of
Boccherini
Washing over us in
the quiet,
As the sun leaves the
housetops and goes
Out over the Pacific,
quiet –
So quiet the sun
moves beyond us,
So quiet as the sun
always goes,
So quiet, our bodies,
worn with the
Times and the
penances of love, our
Brains curled, quiet
in their shells, dormant,
Our hearts slow,
quiet, reliable
In their interlocking
rhythms, the pulse
In your thigh
caressing my cheek. Quiet.
Um casal numa pousada
tocando música,
uma mulher à escuta
na porta
(Pieter Fontijn:
pintor holandês)
Tranquilamente
Recostado aqui
tranquilamente a teu lado,
Minha face contra
tuas firmes coxas em repouso,
A música calma de
Boccherini
Banhando-nos na
quietude,
Enquanto o sol se
afasta dos telhados e se vai
Sobre o Pacífico,
bonançoso –
Tão plácido o sol se
move para além de nós,
Tão plácido como o
sol sempre se vai,
Tão quietos, nossos
corpos, fatigados pelos
Momentos e
penitências do amor, nossos
Cérebros enovelados, serenos
em suas conchas,
adormecidos,
Lentos os nossos
corações, sossegados, imperturbáveis
Em seus ritmos
entrelaçados, o pulsar
De tua coxa a acariciar-me
a face. Tranquilo.
Referência:
REXROTH, Kenneth.
Quietly. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems.
New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 138.
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