O título deste poema, a julgar pelas inferências do escopo de seus versos, tanto diz respeito ao velho mundo europeu – a Sicília como exemplo –, quanto ao estado primordial da natureza, em plena pré-história talvez, antes mesmo que houvesse palavras e templos dedicados aos deuses e suas muitas disputas e intervenções sobre o destino humano.
Nota-se certo talhe religioso nas palavras de Simic, muito embora o poeta não evidencie consolar-se diante das orientações doutrinárias emanadas da fé. Veja-se que, com relação à eternidade, mesmo ela se rende a um momento em específico, quando se põe a bisbilhotar a forma como sucedem as coisas para os comuns mortais, seus prazeres, suas distrações e regalos.
J.A.R. – H.C.
Charles Simic
(n. 1938)
The Old World
I believe in the soul; so far
It hasn’t made much difference.
I remember an afternoon in Sicily.
The ruins of some temple.
Columns fallen in the grass like naked lovers.
The olives and goat cheese tasted delicious
And so did the wine
With which I toasted the coming night,
The darting swallows,
The Saracen wind and moon.
It got darker. There was something
Long before there were words:
The evening meal of shepherds...
A fleeting whiteness among the trees...
Eternity eavesdropping on time.
The goddess going to bathe in the sea.
She must not be followed.
These rocks, these cypress trees,
May be her old lovers.
Oh to be one of them, the wine whispered to me.
Viela na Sicília
(Joanne Hastie: artista canadense)
O Velho Mundo
Acredito na alma; até agora
Não fez muita diferença.
Recordo-me de uma tarde na Sicília.
As ruínas de algum templo.
Colunas caídas na relva como amantes desnudos.
As azeitonas e o queijo de cabra sabiam deliciosos,
Assim como o vinho
Com que brindei a noite que se avizinhava,
As andorinhas velozes,
O vento sarraceno e a lua.
Fez-se mais escuro. Algo ocorreu
Muito antes de que houvesse palavras:
A refeição noturna dos pastores...
Uma brancura fugaz entre as árvores...
A eternidade a espreitar no oportuno momento.
A deusa dirigindo-se ao banho de mar...
Não se lhe deve fazer companhia.
Essas rochas, esses ciprestes,
Podem ser seus velhos amantes.
Oh, quisera ser um deles, sussurrou-me o vinho.
Referência:
SIMIC, Charles. The old world. In:
ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed.
New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 50.
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