O medo da morte assombra o poeta, tanto quanto o existir à mercê das sugestões dos outros, levando-o a decidir-se, com ênfase, pelo enfrentamento de suas próprias fraquezas, em busca da serenidade que, talvez, sobrevenha com um ritmo de vida menos frenético: não seria a agitação quotidiana um escape ao desafio de termos que arrostar os nossos próprios temores, inquietações, irresoluções?!
Afastar os pensamentos negativos e os sentimentos que deles decorrem mostra-se um lenitivo praticável: a iluminação para um estado de dúvida sobrevém pela “oitiva” de nossas próprias intuições, numa luta ferina para superar o lado “mais pérfido” que periga espalhar-se, como uma moléstia, pelos quatro cantos da alma.
J.A.R. – H.C.
Pablo Neruda
(1904-1973)
El Miedo
Todos me piden que dé saltos,
que tonifique y que futbole,
que corra, que nade y que vuele.
Muy bien.
Todos me aconsejan reposo,
todos me destinan doctores,
mirándome de cierta manera.
¿Qué pasa?
Todos me aconsejan que viaje,
que entre y que salga, que no viaje,
que me muera y que no me muera.
No importa.
Todos ven las dificultades
de mis vísceras sorprendidas
por radioterribles retratos.
No estoy de acuerdo.
Todos pican mi poesía
con invencibles tenedores
buscando, sin duda, una mosca.
Tengo miedo.
Tengo miedo de todo el mundo,
del agua fría, de la muerte.
Soy como todos los mortales,
inaplazable.
Por eso en estos cortos días
no voy a tomarlos en cuenta,
voy a abrirme y voy a encerrarme
con mi más pérfido enemigo,
Pablo Neruda.
En: “Estravagario” (1958)
Rapazinho mal-humorado
(Elizabeth Lana: artista norte-americana)
O Medo
Todos me pedem para saltitar,
tonificar e jogar futebol,
para que corra, nade e voe.
Muito bem.
Todos me aconselham a descansar,
todos me indicam médicos,
olhando-me de certa maneira.
O que se passa?
Todos me aconselham a viajar,
a entrar e a sair, a não viajar,
a morrer e a não morrer.
Não importa.
Todos veem as dificuldades
de minhas vísceras surpreendidas
por imagens radiográficas.
Não estou de acordo.
Todos trincham minha poesia
com invencíveis garfos
buscando, sem dúvida, uma mosca.
Tenho medo.
Tenho medo de todo o mundo,
da água fria, da morte.
Sou como todos os mortais,
improtraível.
Por isso, nestes curtos dias,
não vou levá-los em conta,
vou me abrir e me enclausurar
com meu mais pérfido inimigo:
Pablo Neruda.
Em: “Extravagário” (1958)
Referência:
NERUDA, Pablo. El miedo. In:
__________. Extravagaria. A bilingual editon: Spanish x English.
Translated by Alastair Reid. 1st. ed. London, EN: Jonathan Cape Ltd., 1972. p.
56 e 58.
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