Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Ingeborg Bachmann - Todo Dia

Este poema da poetisa austríaca pode ser interpretado como um libelo contra a guerra, enquanto conflagração que praticamente se “naturalizou” internacionalmente, pelos mais distintos motivos, alguns dos quais, aos olhos de Bachmann, bastante fúteis, motivo pelo qual propõe boicote, insubordinação e até mesmo deserção como recursos para combatê-la.

Trata-se, de fato, de formas passivas de resistência e de dissuasão à lógica da corrida armamentista pós-2GM, ensejadora da denominada “Guerra Fria”, visando desconstruir o discurso dos militares e da propaganda de guerra por meio do emprego inconsistente e falacioso de argumentos – como, v.g., os empregados na invasão ao Iraque, em meados de 2003, flagrante e notoriamente motivada pela busca de acesso sem amarras, pelos EUA e outras forças, às grandes reservas de petróleo daquele país.

J.A.R. – H.C.

 

Ingeborg Bachmann

(1926-1973)

 

Alle Tage

 

Der Krieg wird nicht mehr erklärt,

sondern fortgesetzt. Das Unerhörte

ist alltäglich geworden. Der Held

bleibt den Kämpfen fern. Der Schwache

ist in die Feuerzonen gerückt.

Die Uniform des Tages ist die Geduld,

die Auszeichnung der armselige Stern

der Hoffnung über dem Herzen.

 

Er wird verliehen,

wenn nichts mehr geschieht,

wenn das Trommelfeuer verstummt,

wenn der Feind unsichtbar geworden ist

und der Schatten ewiger Rüstung

den Himmel bedeckt.

 

Er wird verliehen

für die Flucht von den Fahnen,

für die Tapferkeit vor dem Freund,

für den Verrat unwürdiger Geheimnisse

und die Nichtachtung

jeglichen Befehls.

 

O Juramento dos Horácios

(Jacques-Louis David: pintor francês)

 

Todo Dia

 

A guerra não é mais declarada,

só levada adiante. O inaudito

é cotidiano agora. O herói

guarda distância da luta. O fraco

é jogado no campo de batalha.

O uniforme da vez é a paciência,

a condecoração é a mísera estrela

da esperança sobre o peito.

 

Ela é entregue,

quando nada mais ocorre,

quando o bombardeio cala,

quando o inimigo se torna invisível

e a sombra do eterno armamento

encobre o céu.

 

Ela é entregue

pelo abandono da bandeira,

pela ousadia frente ao amigo,

pela delação de pífios segredos

e pela negligência

ante cada comando.


Referência:

BACHMANN, Ingeborg. Alle tage / Todo dia. Tradução de Matheus Guménin Barreto. In: MENDONÇA, Vanderley (Ed.). Lira argenta: poesia em tradução. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Selo Demônio Negro, 2017. Em alemão: p. 262; em português: p. 263.

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