Este poema da poetisa austríaca pode ser interpretado como um libelo contra a guerra, enquanto conflagração que praticamente se “naturalizou” internacionalmente, pelos mais distintos motivos, alguns dos quais, aos olhos de Bachmann, bastante fúteis, motivo pelo qual propõe boicote, insubordinação e até mesmo deserção como recursos para combatê-la.
Trata-se, de fato, de formas passivas de resistência e de dissuasão à lógica da corrida armamentista pós-2GM, ensejadora da denominada “Guerra Fria”, visando desconstruir o discurso dos militares e da propaganda de guerra por meio do emprego inconsistente e falacioso de argumentos – como, v.g., os empregados na invasão ao Iraque, em meados de 2003, flagrante e notoriamente motivada pela busca de acesso sem amarras, pelos EUA e outras forças, às grandes reservas de petróleo daquele país.
J.A.R. – H.C.
Ingeborg Bachmann
(1926-1973)
Alle Tage
Der Krieg wird nicht mehr erklärt,
sondern fortgesetzt. Das Unerhörte
ist alltäglich geworden. Der Held
bleibt den Kämpfen fern. Der Schwache
ist in die Feuerzonen gerückt.
Die Uniform des Tages ist die Geduld,
die Auszeichnung der armselige Stern
der Hoffnung über dem Herzen.
Er wird verliehen,
wenn nichts mehr geschieht,
wenn das Trommelfeuer verstummt,
wenn der Feind unsichtbar geworden ist
und der Schatten ewiger Rüstung
den Himmel bedeckt.
Er wird verliehen
für die Flucht von den Fahnen,
für die Tapferkeit vor dem Freund,
für den Verrat unwürdiger Geheimnisse
und die Nichtachtung
jeglichen Befehls.
O Juramento dos Horácios
(Jacques-Louis David: pintor francês)
Todo Dia
A guerra não é mais declarada,
só levada adiante. O inaudito
é cotidiano agora. O herói
guarda distância da luta. O fraco
é jogado no campo de batalha.
O uniforme da vez é a paciência,
a condecoração é a mísera estrela
da esperança sobre o peito.
Ela é entregue,
quando nada mais ocorre,
quando o bombardeio cala,
quando o inimigo se torna invisível
e a sombra do eterno armamento
encobre o céu.
Ela é entregue
pelo abandono da bandeira,
pela ousadia frente ao amigo,
pela delação de pífios segredos
e pela negligência
ante cada comando.
Referência:
BACHMANN, Ingeborg. Alle tage / Todo
dia. Tradução de Matheus Guménin Barreto. In: MENDONÇA, Vanderley (Ed.). Lira
argenta: poesia em tradução. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Selo Demônio
Negro, 2017. Em alemão: p. 262; em português: p. 263.
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