Loas ao poeta e, por extensão, ao seu próprio mister: o poema é como o orvalho que se forma sobre os ombros do vate, repleto de elementos a revolver-lhe o coração. Quando em estado maduro, cai ao chão como um fruto, para alimentar os que ávidos por uma palavra distinta e visionária, por uma epifania que lhes abra “as portas da percepção”.
Ao descortinar o estado de beleza oculto no mundo, os versos são como mantras em rituais que nos levam ao êxtase: eles nos trazem sons, perfumes, memórias, sensualidade, associações, as quarto estações, o viver e o morrer, provendo-nos assim do néctar da poesia, de que tanto carecemos em nosso atribulado quotidiano.
J.A.R. – H.C.
Augusto Meyer
(1902-1970)
Poeta
Deixa cair todo este orvalho puro
sobre os teus ombros doloridos.
Vê como é suave a terra:
mesmo nos galhos mais bruscos,
olha: há carícias amigas.
Tudo é mais coração, porque és mais coração.
Orvalho... Orvalho... Parece
que em tua vida alguma cousa amadurece.
Deixa cair, deixa rolar teu poema
como um fruto maduro, pelo chão.
Em: “Coração Verde” (1924-1925)
Jardim sob o orvalho da montanha
(Charlie Ramirez: artista porto-riquenho)
Referência:
MEYER, Augusto. Poeta. In: __________. Poesias:
1922-1955. Rio de Janeiro: Livraria São José Editora, 1957. p. 21.
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