Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Augusto Meyer - Poeta

Loas ao poeta e, por extensão, ao seu próprio mister: o poema é como o orvalho que se forma sobre os ombros do vate, repleto de elementos a revolver-lhe o coração. Quando em estado maduro, cai ao chão como um fruto, para alimentar os que ávidos por uma palavra distinta e visionária, por uma epifania que lhes abra “as portas da percepção”.

Ao descortinar o estado de beleza oculto no mundo, os versos são como mantras em rituais que nos levam ao êxtase: eles nos trazem sons, perfumes, memórias, sensualidade, associações, as quarto estações, o viver e o morrer, provendo-nos assim do néctar da poesia, de que tanto carecemos em nosso atribulado quotidiano.

J.A.R. – H.C.

 

Augusto Meyer

(1902-1970)

 

Poeta

 

Deixa cair todo este orvalho puro

sobre os teus ombros doloridos.

 

Vê como é suave a terra:

mesmo nos galhos mais bruscos,

olha: há carícias amigas.

 

Tudo é mais coração, porque és mais coração.

 

Orvalho... Orvalho... Parece

que em tua vida alguma cousa amadurece.

 

Deixa cair, deixa rolar teu poema

como um fruto maduro, pelo chão.

 

Em: “Coração Verde” (1924-1925)

 

Jardim sob o orvalho da montanha

(Charlie Ramirez: artista porto-riquenho)


Referência:

MEYER, Augusto. Poeta. In: __________. Poesias: 1922-1955. Rio de Janeiro: Livraria São José Editora, 1957. p. 21.

Nenhum comentário:

Postar um comentário