Para o poeta, a felicidade é uma miragem de um castelo que não existe, cujo caminho que lhe dá acesso é deveras pantanoso, sem contar com o fato de que o fosso à volta está cheio de crocodilos. Mas, ainda assim, somos a ele atraídos, seja porque a ponte sobre o fosso e os répteis acha-se em perfeito estado, seja em razão de que as portas do castelo se encontram perenemente abertas.
O tema já foi largamente debatido na literatura, quer lúdica quer científica, de Aristóteles a Sonja Lyubomirsky, de Sêneca a Mihaly Csíkszentmihaly. Com efeito, para os comuns mortais, se ainda há questões remanescentes sobre o que, irrefutavelmente, caracteriza a felicidade, muito mais já terá sido removido da rota que lhe dá acesso, pois que apenas ilusórios desvios.
J.A.R. – H.C.
Stephen Dunn
(n. 1939)
Happiness
A state you must dare not enter
with hopes of staying,
quicksand in the marshes, and all
the roads leading to a castle
that doesn’t exist.
But there it is, as promised,
with its perfect bridge above
the crocodiles,
and its doors forever open.
Neuschwanstein: Castelo Mágico
(Leonid Afremov: pintor israelense)
Felicidade
Um estado em que não deves ousar entrar
com esperanças de nele permanecer,
areias movediças num pântano, e todos
os caminhos conducentes a um castelo
que não existe.
Mas lá está ele, como prometido,
com sua perfeita ponte sobre
os crocodilos,
e suas portas para sempre abertas.
Referência:
DUNN, Stephen. Happiness. In: ASTLEY,
Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New
York, NY: Miramax Books, 2003. p. 81.
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