Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 7 de fevereiro de 2021

José Arthur Rios - A Máquina e a Rosa

O sociólogo e poeta carioca coteja duas criações emanadas do labor de autores distintos: uma, a máquina, segue soberana como o epítome da sociedade industrial, da “verdade” metálica dos novos tempos; outra, a rosa, “artifício” da natureza, parodia o vitral – num plano menos extenso, os efeitos do caleidoscópio – e a palavra, para lançar-se à eternidade como um “pressentido” axioma, logo derrogado pelo silêncio.

 

A criação e recriação de tudo quanto existe são os efeitos das ações de Deus e do Homem em suas demarcadas províncias, enquanto demiurgos deste mundo físico: o bem e o mal, a beleza e a fealdade revezam-se em estágios, fazendo-nos recordar as lições de Heráclito, para quem nada é tão permanente quanto a mudança!

 

J.A.R. – H.C.

 

José Arthur Rios

(1921-2017)

 

A Máquina e a Rosa

 

Criação bruta do homem

Imita a rosa artificial

Que o solo gera

O vento alimenta

E a noite tece

A máquina resplende

Da verdade metal dos novos tempos

A rosa prossegue na eternidade seu murmúrio

Pura forma embalada pela brisa

Copiando o vitral e a palavra

Pálpebra entreaberta

Sobre o mistério,

Portal de uma verdade pressentida

E já silêncio.

 

Uma rosa à espera

(Vladimir Kush: pintor russo)

 

Referência:

 

RIOS, José Arthur. A máquina e a rosa. In: __________. Câmara escura: poemas. Rio de Janeiro, GB: Editora Pongetti, 1972. p. 34.

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