O sociólogo e poeta
carioca coteja duas criações emanadas do labor de autores distintos: uma, a
máquina, segue soberana como o epítome da sociedade industrial, da “verdade”
metálica dos novos tempos; outra, a rosa, “artifício” da natureza, parodia o
vitral – num plano menos extenso, os efeitos do caleidoscópio – e a palavra,
para lançar-se à eternidade como um “pressentido” axioma, logo derrogado pelo
silêncio.
A criação e recriação
de tudo quanto existe são os efeitos das ações de Deus e do Homem em suas
demarcadas províncias, enquanto demiurgos deste mundo físico: o bem e o mal, a
beleza e a fealdade revezam-se em estágios, fazendo-nos recordar as lições de Heráclito,
para quem nada é tão permanente quanto a mudança!
J.A.R. – H.C.
José Arthur Rios
(1921-2017)
A Máquina e a Rosa
Criação bruta do
homem
Imita a rosa
artificial
Que o solo gera
O vento alimenta
E a noite tece
A máquina resplende
Da verdade metal dos
novos tempos
A rosa prossegue na
eternidade seu murmúrio
Pura forma embalada
pela brisa
Copiando o vitral e a
palavra
Pálpebra entreaberta
Sobre o mistério,
Portal de uma verdade
pressentida
E já silêncio.
Uma rosa à espera
(Vladimir Kush:
pintor russo)
Referência:
RIOS, José Arthur. A
máquina e a rosa. In: __________. Câmara escura: poemas. Rio de Janeiro,
GB: Editora Pongetti, 1972. p. 34.
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