Mesclando a solidão e os silogismos que gravitam à sua volta, a voz lírica dirige-se a um presumido homem que, vivendo sempre perto da terra onde nasceu, põe-se fora do alcance de um chamado vindo de um mundo distante, seja porque assim o escolheu, seja pela limitação de recursos que poderiam facilitar a iniciativa de partida.
De fato, o título do poema subentende a confluência de réplicas que, de algum modo, deslindam, ao sujeito em apreço, as razões pelas quais algo lhe vem sucedendo, algo esse que, ao leitor, não se explicita, mas que se pode presumir como decorrente do cenário em que presentemente vive, em contraposição a outro mais bem provido de perspectivas ou, quem sabe, de aventuras.
J.A.R. – H.C.
Esther Morgan
(n. 1970)
The Reason
It’s because you never left
these endless fields
where an oak tree sails the horizon
like a lost galleon
where rabbits crouch in mad-dog heat
under a sky full of eyes
where a gunshot scatters acres of birds
leaving wires like empty staves
where a road runs straight for hours
towards a shimmering spire
where a man can live all his life
beyond calling distance.
Levantando-se
(Pierre Édouard Frère: pintor francês)
O Motivo
Se deve a que jamais foste além
destes campos intermináveis
onde um carvalho voga no horizonte
como um galeão perdido
onde coelhos se retraem num calor de cachorro louco
sob um céu repleto de olhos
onde um disparo esparge acres de pássaros
deixando os fios como pentagramas vazios
onde uma estrada segue por horas em linha reta
rumo a um cintilante pináculo
onde um homem pode viver toda a sua vida
para além da distância de um chamado.
Referência:
MORGAN, Esther. The reason. In: ASTLEY,
Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New
York, NY: Miramax Books, 2003. p. 305.
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