Neste soneto dedicado pelo poeta e político espanhol ao grande pensador
iluminista Voltaire, menciona-se a força devastadora das ideias preconizadas
pelo francês, sobretudo aquelas que visavam erradicar o poder da Igreja do
plano temporal, ou melhor, do jogo político.
De fato, o texto de Voltaire é de uma ironia que descamba fácil para o sarcasmo.
E para quem se dispuser a uma leitura detida de suas obras, poderia indicar,
por primeiro, o seu “Dicionário Filosófico”, em especial os verbetes em conexão
com o tema religioso.
A propósito, por que não consignar, por exemplo, a influência de
Voltaire sobre o seu conterrâneo Michel Onfray: o “Tratado de Ateologia” deste
último é capaz de fazer qualquer um rir às escâncaras. Claro está, se as
crenças religiosas não forem tomadas pelo leitor como um dogma irretocável!
E para completar o viés inconformista desta postagem, apresento, logo
abaixo ao texto do poema em espanhol, uma versão ao português que manda às
favas as rimas do original, extirpa os hipérbatos que possibilitam tais rimas
e, pior que isso, reescreve certas passagens, muito embora – o menor dos males!
– não se distancie das ideias grafadas no papel pelo poeta.
J.A.R. – H.C.
Gaspar Núñez de Arce
(1832-1903)
Retrato de Bartolomé
Maura y Montaner
A Voltaie
Eres ariete
formidable: nada
resiste a tu satánica
ironía.
Al través del
sepulcro todavía
resuena tu estridente
carcajada.
Cayó bajo tu sátira
acerada
cuanto la humana
estupidez creía,
y hoy la razón no más
sirve de guía
a la prole de Adán
regenerada.
Ya solo influye en su
inmortal destino
la libre religión de
las ideas;
ya la fe miserable a
tierra vino;
ya el Cristo se
desploma; ya las teas
alumbran los
misterios del camino;
ya venciste,
Voltaire. ¡Maldito seas!
Voltaire
(1694-1778)
Retrato de Jacques-Augustin-Catherine
Pajou
A Voltaire
És aríete formidável:
nada
resiste à tua
satânica ironia.
Através do
sepulcro ainda
ressoa a tua
estridente gargalhada.
Caíram sob tua sátira
mordaz
as crenças urdidas
pela estupidez humana,
e hoje a razão não
serve mais de guia
à prole regenerada de
Adão.
Já só influi em seu imortal
destino
a livre religião das
ideias;
a fé miserável precipitou-se
à terra,
demolindo o sermão de
Cristo; os fachos
agora clareiam os
mistérios do caminho;
já venceste,
Voltaire. Maldito sejas!
Referência:
ARCE, Gaspar Núñez de. A Voltaire. In:
CASANOVA, José Francisco Ruiz (Selección y introducción). Antología cátedra de poesía de las letras hispánicas. 11. ed.
Madrid, ES: Ediciones Cátedra (Grupo Anaya S.A.), 2014. p. 579.
❁
Olá, vc poderia postar de Gaspar Núnez de Arce “A vertigem”?
ResponderExcluirPrezado(a),
ExcluirInfelizmente, o poema é extremamente longo – são 57 décimas de uma obra completa – para acomodar-se no tempo, de pouco mais de uma hora por dia, a mim disponível para traduzi-lo e postá-lo no blog. Com efeito, a limitação temporal é o motivo por que, apenas de duas a três vezes por semana, traduzo poemas de outros idiomas de tamanho restrito – e isto, como esclareço na coluna mais à esquerda, em versões não exatamente poéticas, senão literais.
De todo modo, apresento, abaixo, ‘link’ a conter o original completo, em espanhol, do poema em apreço, que você poderá "baixar" inteiro para a sua estação de trabalho, caso julgue oportuno ou necessário:
https://books.google.com.br/books?id=w1qzAAAAMAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false
Um abraço,
João A. Rodrigues