Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

François Coppée ‎- Fevereiro ‎

Ainda transcorre o inverno no hemisfério norte, quando os dias de fevereiro se passam. Daí porque o poeta francês menciona o período de hibernação por que passa a terra, toda recoberta de neve – e tanto mais, quanto mais ao norte nos encontramos.

Geadas e flocos de neve recobrem o solo, e muito sofrem os pássaros que, por isso mesmo, acabam por migrar para regiões de temperaturas mais cálidas. Nesses dias de noites mais longas, todos esperam pelo futuro abril, quando reaparece, com toda a sua pujança, a flora terrestre.

J.A.R. – H.C.

François Coppée
(1842-1908)

Février

Hélás! dis-tu, la froide neige
Recouvre le sol et les eaux;
Si le bon Dieu ne les procège,
Le printemps n’aura plus d’oíseaux!

Rassure-toi, tendre peureuse;
Les doux chanteurs n’ont point péri.
Sous plus d’une racine creuse
Ils ont un chaud et sûr abri.

Lá, se serrant l’un contre l’autre
Et blottis dans l’asile obscur,
Pleins d’un espoir pareil au nôtre,
Ils attendent l’Avril futur;

Et, malgré la brise qui passe
Et leur jette en vain ses frissons,
Ils répètent à voix très basse
Leurs plus amoureuses chansons.

Ainsi, ma mignonne adorée,
Mon coeur où rien ne remuait,
Avant de t’avoir rencontrée,
Comme un sépulcre étaít muet;

Mais quand ton cher regard y tombe,
Aussi pur qu’un premier beau jour,
Tu fais jaillir de cette tom be
Tout un essaim de chants d’amour.

Fevereiro
(Olga Vorobyova: pintora ucraniana)

Fevereiro

Ai! dizes, cobrem os gelos
Árvores, águas, caminhos,
Se o bom Deus não protegê-los
Morrerão os passarinhos.

Tranquiliza-te; as queridas
Aves não correm perigo,
Nas raízes carcomidas
Têm seguro e quente abrigo.

E aconchegadas, medrosas,
No seu fundo asilo obscuro,
Como nós, esperançosas,
Aguardam o abril futuro.

E em vão os ventos praguejam
Frios, nos troncos sem flores,
Em voz baixa, murmurejam
Elas seus cantos de amores.

Assim, criança, meu seio
Antes de ver-te, tranquilo,
Era triste como um feio, é
Como um sepulcral asilo.

Mas se aquecem-no, raiando
Teus olhos, duas auroras,
Rompem do túmulo em bando
Canções límpidas, sonoras.

Raimundo Correia e
Valentim Magalhães
(30 de abril de 1881)

Referência:

COPPÉE, François. Fevereiro. Tradução de Raimundo Correia e Valentim Magalhães. In: ‎‎__________. Poesias completas de Raimundo Correia. Vol. II. Organização, prefácio e notas de Múcio Leão. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional, ‎‎1948. Em francês: p. 449-450; em português: p. 374.

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