O poeta espanhol confidencia o quanto é árdua a sua tarefa de redigir
poemas, a implicar ameaças de fracasso, muitas lutas com as ideias e as palavras,
noites em claro, bastante azáfama, até que, por fim, eles se lhe revelam com
todo o seu sereno esplendor.
São eles compostos com o que de mais desanuviado há no mundo – uma rosa,
uma pedra, um pássaro, as coisas primordiais –, permitindo-se lapidar o quanto
se queira, para que venham a cintilar com o todo o seu brilho, alçados a uma
zenital transparência.
J.A.R. – H.C.
Pedro Salinas
(1891-1951)
El poema
Y ahora, aqui está
frente a mí.
Tantas luchas que ha
costado,
tantos afanes en
vela,
tantos bordes de
fracaso
junto a este
esplendor sereno
ya son nada, se
olvidaron.
Él queda, y en él, el
mundo,
la rosa, la piedra,
el pájaro,
aquéllos, los del
principio,
de este final
asombrados.
iTan claros que se
veían,
y aún se podia
aclararlos!
Están mejor; una luz
que el sol no sabe,
unos rayos
los iluminan, sin
noche,
para siempre
revelados.
Las claridades de
ahora
lucen más que las de
mayo.
Si allí estaban,
ahora aqui;
a más transparência
alzados.
iQué naturales
parecen,
qué sencillo el gran
milagro!
En esta luz del
poema,
todo,
desde el más nocturno
beso
al cenital esplendor,
todo está mucho más
claro.
Buquê de Flores
(Paul Cézanne: pintor
francês)
O Poema
E agora, ei-lo aqui à
minha frente.
Tantas lutas que custou,
tantas fadigas em
claro,
tantas ameaças de
fracasso
junto a este sereno
esplendor
já nada são, foram
esquecidas.
Mas ele permanece, e
nele, o mundo,
a rosa, a pedra, o
pássaro,
aqueles, os do
princípio,
surpreendidos com
este final.
Tão claramente se
mostravam,
e poderiam ser
aclarados ainda mais.
Melhor aqui estão;
uma luz
que o sol não
conhece, alguns raios
os iluminam, sem
noite,
para sempre
revelados.
As claridades de
agora
cintilam mais que as
de maio.
Se ali estavam, agora
aqui;
alçados a uma maior
transparência.
Quão naturais
parecem,
quão simples o grande
milagre!
Sob a luz do poema,
tudo,
desde o mais noturno
beijo
ao zenital esplendor,
tudo está muito mais
claro.
Referência:
SALINAS, Pedro. El poema. In:
__________. Aventura poética: antologia.
Edición de David L. Stixrude. 10. ed. Madrid, ES: Cátedra, 2010. p. 229.
(“Letras Hispánicas”)
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