Em provável passeio pelo Vaticano, o poeta espanhol teve inspiração para
verter em poema as impressões que lhe ficaram do enorme contingente de turistas
que vaga pela Basílica de São Pedro, pela Capela Sistina ou mesmo pelo espetacular
museu de arte contíguo, com aquele enorme acervo de obras no mais das vezes a
referir-se a eventos bíblicos, como não poderia deixar de ser.
Pressentiu, Alberti, o suposto deplorar dos fatos por um Cristo a quem
menos se dedica todo aquele “tropel”, que passando por portais, cúpulas,
galerias, esculturas mil, não se mostra hábil a perceber a presença daquele
que, em seu nome, tudo quanto ali exposto foi erigido.
J.A.R. – H.C.
Rafael Alberti
(1902-1999)
Entro, Señor, en tus iglesias...
Entro, Señor, en tus
iglesias... Dime,
si tienes voz, ¿por qué siempre vacías?
Te lo pregunto por si
no sabias
que ya a muy pocos tu
Pasión redime.
Respóndeme, Señor, si
te deprime
decirme lo que a
nadie le dirías:
si entre las sombras
de esas naves frias
tu corazón anonadado
gime.
Confiésalo, Señor.
Sólo tus fieles
hoy son esos anônimos
tropeles
que en todo ven una
lección de arte.
Miran acá, miran
allá, asombrados,
ángeles, puertas,
cúpulas, dorados...
y no te encuentran
por ninguna parte.
En: “Roma, peligro para caminantes” (1964-1967)
Multidão de Turistas no interior da
Capela Sistina no Vaticano
Entro, Senhor, em tuas igrejas...
Entro, Senhor, em
tuas igrejas... Dize-me
se tens voz, por que
sempre estão vazias?
Pergunto-te se acaso antes
não sabias
que já a bem poucos a
tua Paixão redime.
Responde-me, Senhor,
se te desnorteia
dizer-me o que a
ninguém o dirias:
se entre as sombras
dessas naves frias
desconcertado teu
coração pranteia.
Confessa-o, Senhor.
Somente teus fiéis
hoje são esses
anônimos tropéis
que em tudo veem uma
lição de arte.
Olham aqui, olham
ali, assombrados,
anjos, portas,
cúpulas, dourados,
e não te encontram
por nenhuma parte.
Em: “Roma, perigo para caminhantes” (1964-1967)
Referência:
ALBERTI, Rafael. Entro, señor, en tus
iglesias... In: __________. Los bosques
que regresan: antología poética (1924-1988). Selección y prólogo de Antonio
Colinas. Barcelona, ES: Galaxia Gutenberg & Círculo de Lectores, 2002. p.
355.
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