Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Ernst Stadler - A Sentença

Este poema nos incita a tomarmos as rédeas de nossas vidas, em busca de brasões próprios, em vez de seguir formulando justificações frívolas que mais nos afastam da genuína autoconsciência. Em suma: trocar tudo quanto revela superficialidade por outro padrão de comportamento centrado no que seja substancial, ou como diria outro autor alemão, sejamos imprescindíveis!

É por meio desse avançar elíptico que saímos de estágios que poderíamos adjetivar de fantasmáticos ou ilusórios para outros mais essencialistas, a revelarem formas superiores do ser, assim como já preconizava a máxima socrática há milênios: “Conhece-te a ti mesmo!”.

J.A.R. – H.C.

Ernst Stadler
(1883-1914)

Der Spruch
(ca. 1914)

In einem alten Buche stieß ich auf ein Wort,
Das traf mich wie ein Schlag und brennt durch meine Tage fort:
Und wenn ich mich an trübe Lust vergebe,
Schein, Lug und Spiel zu mir anstatt des Wesens hebe,
Wenn ich gefällig mich mit raschem Sinn belüge,
Als wäre Dunkles klar, als wenn nicht Leben tausend wild
verschloßne Tore trüge,
Und Worte wiederspreche, deren Weite nie ich ausgefühlt,
Und Dinge fasse, deren Sein mich niemals aufgewühlt,
Wenn mich willkommner Traum mit Sammethänden streicht,
Und Tag und Wirklichkeit von mir entweicht,
Der Welt entfremdet, fremd dem tiefsten Ich,
Dann steht das Wort mir auf: Mensch, werde wesentlich!

Retrato do Escritor Vsevolod M. Garshin
(Ilya Y. Repin: pintor russo)

A Sentença
(ca. 1914)

Num velho livro topei com uma palavra
Que me veio como um golpe e ainda arde em brasa:
E quando me entrego a um turvo prazer
Preferindo brilho, mentira e jogo em vez do puro ser,
Quando acho melhor com supérfluos me enganar,
Como se fosse claro o escuro, como se a vida não tivesse milhares
de portas a fechar,
E repito palavras cuja amplidão nunca senti,
E toco em coisas cujo sentido jamais resolvi,
Quando um sonho bem-vindo me acaricia com mãos de veludo
Aliviando-me do cotidiano sobretudo,
Longe do mundo, alheio ao mais profundo eu,
Então se ergue em mim a palavra: Homem, procura o teu apogeu!

Referência:

STADLER, Ernst. Der spruch / A sentença. Tradução de Claudia Cavalcanti. In: BECHER, Johannes R. et al. Poesia expressionista alemã: uma antologia. Organização e tradução de Claudia Cavalcanti. Edição bilíngue ilustrada. São Paulo, SP: Estação Liberdade, 2000. Em alemão: p. 180; em português: p. 181.

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