Este poema nos incita a tomarmos as rédeas de nossas vidas, em busca de brasões
próprios, em vez de seguir formulando justificações frívolas que mais nos afastam
da genuína autoconsciência. Em suma: trocar tudo quanto revela superficialidade
por outro padrão de comportamento centrado no que seja substancial, ou como
diria outro autor alemão, sejamos
imprescindíveis!
É por meio desse avançar elíptico que saímos de estágios que poderíamos
adjetivar de fantasmáticos ou ilusórios para outros mais essencialistas, a
revelarem formas superiores do ser, assim como já preconizava a máxima
socrática há milênios: “Conhece-te a ti mesmo!”.
J.A.R. – H.C.
Ernst Stadler
(1883-1914)
Der Spruch
(ca. 1914)
In einem alten Buche
stieß ich auf ein Wort,
Das traf mich wie ein
Schlag und brennt durch meine Tage fort:
Und wenn ich mich an
trübe Lust vergebe,
Schein, Lug und Spiel
zu mir anstatt des Wesens hebe,
Wenn ich gefällig
mich mit raschem Sinn belüge,
Als wäre Dunkles
klar, als wenn nicht Leben tausend wild
verschloßne Tore
trüge,
Und Worte
wiederspreche, deren Weite nie ich ausgefühlt,
Und Dinge fasse,
deren Sein mich niemals aufgewühlt,
Wenn mich willkommner
Traum mit Sammethänden streicht,
Und Tag und
Wirklichkeit von mir entweicht,
Der Welt entfremdet,
fremd dem tiefsten Ich,
Dann steht das Wort
mir auf: Mensch, werde wesentlich!
Retrato do Escritor Vsevolod M. Garshin
(Ilya Y. Repin:
pintor russo)
A Sentença
(ca. 1914)
Num velho livro topei
com uma palavra
Que me veio como um golpe
e ainda arde em brasa:
E quando me entrego a
um turvo prazer
Preferindo brilho,
mentira e jogo em vez do puro ser,
Quando acho melhor
com supérfluos me enganar,
Como se fosse claro o
escuro, como se a vida não tivesse milhares
de portas a fechar,
E repito palavras
cuja amplidão nunca senti,
E toco em coisas cujo
sentido jamais resolvi,
Quando um sonho
bem-vindo me acaricia com mãos de veludo
Aliviando-me do
cotidiano sobretudo,
Longe do mundo,
alheio ao mais profundo eu,
Então se ergue em mim
a palavra: Homem, procura o teu apogeu!
Referência:
STADLER, Ernst. Der spruch / A
sentença. Tradução de Claudia Cavalcanti. In: BECHER, Johannes R. et al. Poesia expressionista alemã: uma
antologia. Organização e tradução de Claudia Cavalcanti. Edição bilíngue
ilustrada. São Paulo, SP: Estação Liberdade, 2000. Em alemão: p. 180; em
português: p. 181.
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