Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

John Keats - Vendo os mármores de Elgin pela primeira vez ‎

Primeiramente, neste soneto de Keats, talvez se devesse, a bem da verdade, se fazer referência ao principal autor dos mármores a que o poeta inglês alude: Phidias, um dos principais artistas que decoraram o tempo do Parthenon, em Atenas, de onde os mármores foram retirados, a mando de Elgin, para serem transportados à Inglaterra, por mar, onde hoje se encontram no Museu Britânico. Saque cultural?! Eufemismos não deveriam ser empregados para esse tipo de ação!

Na visão do poeta, tais esculturas são belas e deslumbrantes peças concebidas pela criatividade humana, ou melhor, pela grandeza dos gregos, com poder para perdurar por centúrias aos seus autores, conferindo-lhes algum domínio sobre o tempo, embora já demonstrem algum desgaste.

Keats emprega imagens com sentidos opostos, como a claridade do sol e o turvar das nuvens, para evidenciar o embate constante das forças da estabilidade e da imortalidade contra a soberania do transitório e da finitude, ou por outra, o vetusto antagonismo entre os pontos de vista de Heráclito e de Parmênides.

J.A.R. – H.C.

John Keats
(1795-1821)
Retrato de Joseph Severn

On seeing the Elgin marbles
for the first time

My spirit is too weak; mortality
Weighs heavily on me like unwilling sleep.
And each imagin’d pinnacle and steep
Of godlike hardship tells me I must die
Like a sick eagle looking at the sky.
Yet ’tis a gentle luxury to weep,
That I have not the cloudy winds to keep
Fresh for the opening of the morning’s eye.
Such dim-conceived glories o f the brain
Bring round the heart an indescribable feud;
So do these wonders a most dizzy pain,
That mingles Grecian grandeur with the rude
Wasting of old Time – with a billowy main,
A sun, a shadow of a magnitude.

Mármores de Elgin no Museu Britânico

Vendo os mármores de Elgin
pela primeira vez

Meu espírito é frágil; ser mortal
Pesa-me como sono indesejado,
E cada abismo ou penhasco escarpado
Lá, de deus, fala que terei final
Como águia enferma a contemplar o céu.
Porém é um fausto luxo o lacrimar,
Que eu, os nevados ventos a guardar,
Não os tenha ao abrir do amanhecer.
Essas obscuras glórias do pensar
O coração envolvem em grande arfar;
Tal obra é bela dor estonteante
Que mescla a grandeur grega com o rude
Varrer do velho Tempo – alvor avante,
Um sol – a sombra dessa magnitude.

Referência:

KEATS, John. On seeing the Elgin marbles for the first time / Vendo os mármores de Elgin pela primeira vez. Tradução de José Lino Grünewald. In: GRÜNEWALD, José Lino (Seleção, tradução e organização). Grandes poetas da língua inglesa do século XX. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1988. Em inglês: p. 56; em português: p. 57. (“Poesia de Todos os Tempos”)

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