Primeiramente, neste soneto de Keats, talvez se devesse, a bem da
verdade, se fazer referência ao principal autor dos mármores a que o poeta
inglês alude: Phidias, um dos principais artistas que decoraram o tempo do Parthenon,
em Atenas, de onde os mármores foram retirados, a mando de Elgin, para serem
transportados à Inglaterra, por mar, onde hoje se encontram no Museu Britânico.
Saque cultural?! Eufemismos não deveriam ser empregados para esse tipo de ação!
Na visão do poeta, tais esculturas são belas e deslumbrantes peças
concebidas pela criatividade humana, ou melhor, pela grandeza dos gregos, com
poder para perdurar por centúrias aos seus autores, conferindo-lhes algum domínio
sobre o tempo, embora já demonstrem algum desgaste.
Keats emprega imagens com sentidos opostos, como a claridade do sol e o
turvar das nuvens, para evidenciar o embate constante das forças da
estabilidade e da imortalidade contra a soberania do transitório e da finitude,
ou por outra, o vetusto antagonismo entre os pontos de vista de Heráclito e de
Parmênides.
J.A.R. – H.C.
John Keats
(1795-1821)
Retrato de Joseph
Severn
On seeing the Elgin marbles
for the first time
My spirit is too
weak; mortality
Weighs heavily on me
like unwilling sleep.
And each imagin’d pinnacle
and steep
Of godlike hardship
tells me I must die
Like a sick eagle
looking at the sky.
Yet ’tis a gentle
luxury to weep,
That I have not the
cloudy winds to keep
Fresh for the opening
of the morning’s eye.
Such dim-conceived
glories o f the brain
Bring round the heart
an indescribable feud;
So do these wonders a
most dizzy pain,
That mingles Grecian
grandeur with the rude
Wasting of old Time –
with a billowy main,
A sun, a shadow of a
magnitude.
Mármores de Elgin no Museu Britânico
Vendo os mármores de Elgin
pela primeira vez
Meu espírito é
frágil; ser mortal
Pesa-me como sono
indesejado,
E cada abismo ou
penhasco escarpado
Lá, de deus, fala que
terei final
Como águia enferma a
contemplar o céu.
Porém é um fausto
luxo o lacrimar,
Que eu, os nevados
ventos a guardar,
Não os tenha ao abrir
do amanhecer.
Essas obscuras
glórias do pensar
O coração envolvem em
grande arfar;
Tal obra é bela dor
estonteante
Que mescla a grandeur grega com o rude
Varrer do velho Tempo
– alvor avante,
Um sol – a sombra
dessa magnitude.
Referência:
KEATS, John. On seeing the Elgin
marbles for the first time / Vendo os mármores de Elgin pela primeira vez.
Tradução de José Lino Grünewald. In: GRÜNEWALD, José Lino (Seleção, tradução e
organização). Grandes poetas da língua
inglesa do século XX. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1988. Em inglês:
p. 56; em português: p. 57. (“Poesia de Todos os Tempos”)
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