Há um discurso do ente lírico direcionado a alguém, para que se contente
em ter a felicidade ao seu alcance, agora que a rua encontrou sossego e esparge
acolhedora poesia, depois de um dia ensolarado, longo e alvoroçado no centro
urbano.
Fala-se em perdão e pode-se supor que há alguma indulgência no amor
tranquilo vivenciado pelo destinatário da mensagem, a quem se recomenda passar a
noite a usufruir o bem-querer dos irmãos, talvez camaradas, no instante mesmo
em que os primeiros resplendores do ocaso espargem uma amorosa e tentadora atmosfera.
J.A.R. – H.C.
Marcel Thiry
(1897-1977)
La poésie de la rue calme
La poésie de la rue
calme
Est accueillante
après ce trop long jour
Comme le fut autrefois
à telle âme
Tel calme amour
Ne cherche pas d’autres
images
Pour dire le pardon
qui descend sur ta vie
Que celle de la rue
assagie
Après trop de soleil
et de gens en tapage;
Contente-toi ce soir
d’aimer comme des frères
Les pavés las, les
calmes maisons fatiguées,
Contente-toi d’aimer
les premiers réverbères,
Va, va, ne cherche
pas de rime à ton bonheur!
Dans: “Poésie: 1924-1957”
O Panteão
(Antoine Blanchard:
pintor francês)
A poesia da rua tranquila
A poesia da rua
tranquila
É acolhedora depois
deste dia demasiado longo
Como o foi anteriormente
a tal alma
Tal tranquilo amor
Não procures por
outras imagens
Para expressar o
perdão que pousa sobre a tua vida
Além dessa da rua
quieta
Depois de muito sol e
pessoas em alvoroço;
Contenta-te esta
noite com o amor dos irmãos
As calçadas
extenuadas, as casas fatigadas e tranquilas,
Contenta-te com o
amor dos primeiros revérberos,
Vai, vai, não
procures rima para a tua felicidade!
De: “Poesia: 1924-1957”
Referência:
THIRY, Marcel. La poésie de la rue
calme. In: DÉCAUDIN, Michel (Éd.). Anthologie
de la poésie française du XXe siècle. Préface de Claude Roy. Édition revue
et augmentée. Paris, FR: Gallimard, 2000. p. 376.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário