Tem-se aqui uma narrativa sobre a vida e a morte, num vagar correlacionado
aos efeitos do tempo sobre a natureza, a relatar o contato próximo de alguém
que, assumindo a voz enunciadora do poema, despede-se de uma pessoa na
iminência do óbito, certamente uma dona que lhe é íntima.
A tristeza perante a morte, momento no qual os gestos e os sentimentos superam em
muito as palavras, faz deste poema um belo antecedente a outras obras em
terceiros domínios que não a literatura, como, por exemplo, o filme “Mãe e Filho”, de Aleksandr Sokurov (1997),
cujo enredo trata do derradeiro dia de uma mãe moribunda, acompanhada de perto
por seu filho.
J.A.R. – H.C.
Erik Axel Karlfeldt
(1864-1931)
Avskedet
Vi står du så
plötsligt för mig,
du bleknade, vackra
bild?
Vill du nicka mig
tröst i den djupa höst
där jag känner mig
sänkt och förspilld?
Den stunden nu från den stunden
av ett människoliv är
skild.
Jag hörde du var
dålig.
Så kom jag till din
bädd,
men studsade för din
vita hamn,
där du låg som till
avfärd klädd.
Du hälsade glatt: “Jo,
jag lever än.
Stig fram och var
inte rädd”.
Vi talade lugnt, då
drog du ner
mitt huvud till din
barm
och gav mig den enda
kyss vi bytt,
en hastig och
febervarm.
Jag såg på den grymma
vår som stod
och log vid din
fönsterkarm.
Och nästan vardagsmuntert
du bjöd mig ditt adjö
och sade du visste
mer än väl,
hur snart du var dömd
att dö.
Och allt som våren
framskred,
ditt liv smalt bort
som snö.
Wotan despede-se de Brunhilde
“As Valquírias”, de
Richad Wagner
(Ferdinand Leeke:
pintor alemão)
Adeus
Por que te ergues tão
de súbito à minha frente,
ó bela imagem
empalidecida?
Queres com um aceno
trazer-me o consolo
na profundeza do
outono
em que me enterrei e
me perdi?
Uma vida humana
separa
o ser e o ter sido.
Vim a saber que
estavas mal
e corri à tua
cabeceira,
mas recuei diante de
tua palidez.
Estavas deitada,
vestida para a viagem
e me saudaste
alegremente: “Vês, inda estou viva;
chega-te para mim,
não tenhas medo”.
Calmamente nos
contemplamos e então me puxaste
a cabeça de encontro
a teu regaço
e me deste o único
beijo que trocamos,
rápido e ardente de
febre.
Eu olhava a cruel
primavera
que sorria à tua
janela.
Alegre, como num dia
habitual,
me deste o teu adeus,
e me disseste que
sabias
que em breve
morrerias.
E à medida que
chegava a primavera
tua vida se fundia
como a neve.
Referências:
Em Sueco
KARLFELDT, Erik Axel. Avskedet. In:
__________. Dikter. Stockholm, SE:
Wahlström och Widstrand & Alb. Bonniers Boktryckeri, 1956. s. 379-380. Disponível neste endereço. Acesso em: 4 jan. 2018.
Em Português
KARLFELDT, Erik Axel. Adeus. Tradução
de Ivo Barroso. In: __________. Poesias.
Tradução de Ivo Barroso. Estudo introdutivo de Gunnar Brandell. Rio de Janeiro,
GB: Editora Opera Mundi, 1973. p. 217. (“Biblioteca dos Prêmios Nobel de
Literatura”)
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