Aos artistas que têm identidade com o sofrimento do povo – portanto, não
exatamente aos da espécie “coxinha” (rs) –, prestamos homenagem por meio desta
postagem, dividida em três poemas ao estilo da poesia engajada do alemão
Bertolt Brecht, acompanhados por imagens de telas do pintor de Brodowski (SP),
Cândido Portinari.
O autor, também músico, reside em Juazeiro-BA e atua na Comissão
Pastoral da Terra do São Francisco: observa-se, por tal descritivo, o seu
compromisso com o trabalho de conscientização política, conexo à missão diocesano-religiosa.
Havendo interesse em conhecê-lo melhor, internauta, você poderá navegar pelo próprio endereço eletrônico criado por Malvezzi na
internet.
J.A.R. – H.C.
Roberto Malvezzi
(n. 1953)
Meu I Plágio de Brecht
Enquanto eu era
gestado,
meu pai trabalhava no
campo e
minha mãe rezava uma
ave-maria.
Quando cresci, fui-me
embora pelo mundo.
A ligação uterina da
transcendência e
da terra, porém,
ficará comigo até o
fim de meus dias.
O Lavrador de Café
Meu II Plágio de Brecht
Não havia marujos
cansados nas
caravelas de Cabral
quando o Brasil
foi descoberto?
Se Tiradentes
condensou em si a revolta
dos dominados, por
que é o mártir dos
dominantes?
Por acaso Juscelino
carregou nos ombros
o concreto para o
palácio da Alvorada?
Não consta que os
frontispícios de
Brasília contenham o
suor de Niemeyer...
Os candangos ergueram
Brasília: onde está
sua representação no
Congresso?
As estruturas
metálicas de São Paulo
estão embasadas no
sangue e no suor
dos governantes ou da
massa trabalhadora?
O milagre econômico –
o blefe – foi operado
pelas mãos refinadas
do ministro ou pelas
palmas calejadas dos
operários?
Mostrem-me, por
favor, onde está o túmulo
do nordestino
desconhecido...
Tantas construções,
Quantas interrogações...
Café
Meu III Plágio de Brecht
Que época é essa onde
os sonhos devem
se ocultar para não
se tornarem ridículos?
Que época é essa onde
os rostos que
sorriem podem
demonstrar insensibilidade?
Que época é essa onde
comer um pedaço
de pão pode ser injustiça?
Que época é essa onde
parar para
contemplar pode ser
omissão?
Que época é essa onde
você pode
ser denunciado por
seus amigos?
Que época é essa onde
falar de justiça
pode trazer a
condenação?
Que época é essa onde
falar de liberdade
pode gerar a prisão?
Que época é essa onde
andar pelas ruas
é correr ao encontro
da morte?
Que época é essa onde
sobreviver
é um acaso?
Retirantes
Referência:
MALVEZZI, Roberto. Meu I plágio de
Brecht / Meu II plágio de Brecht / Meu III plágio de Brecht. In: __________. Os sete pecados do capital: poeta, uma
porção humana, cercada de fatos e de sonhos por todos os
lados. São Paulo: Paulinas, 1982. p. 17, 54 e 57. (Grão de trigo; v. 1)
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