Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Ricardo Corona - Pessoa Ruim ‎

Se a obra de onde selecionei este poema constitui recolha daquilo que se denomina “poesia de invenção”, na virada do século, no Brasil, então por “invenção” poderíamos também deduzir hipóteses de recriação, intertextualidade, pastiche, diversão – e até mesmo de algum maquiavelismo. (rs)

Com versos que remetem ao “Poema em linha reta”, de Fernando Pessoa, Corona busca atingir o estágio em que se poderia chamar de “antipoeta”, muito operando para que suas criações resultem em maldição às almas que não se convertam aos desígnios desse autodeclarado Fausto do século XXI: do pacto assinado com Mefisto podem-se inferir as razões pelas quais tudo, ao fim, resulta em risos e desmantelamento. “In saecula saeculorum”.

J.A.R. – H.C.

Ricardo Corona

Pessoa Ruim

Nunca fui campeão de nada
Vim pela rota mais rota
Fui até a última encruzilhada
Topei um pacto com o capeta
Em troca nunca me faltou caneta
Sou o escriba do poema em linha reta
Tudo que fiz foi levando porrada
Não escrevo o certo por linhas tortas
Escrevo a obra de quem dobra a esquina errada
Escrevo pra não ser chamado de poeta
Escrevo como quem se ri e espera
A colisão dos planetas
O descarrilo do trem
Escrevo como quem amaldiçoa almas
Amém

Fausto e Mefistófeles
(Ary Scheffer: pintor francês)

Referência:

CORONA, Ricardo. Pessoa ruim. In: DANIEL, Claudio; BARBOSA, Frederico (Organização, Seleção e Notas). Na virada do século: poesia de invenção no Brasil. São Paulo, SP: Landy, 2007. p. 272.

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