Se a obra de onde selecionei este poema constitui recolha daquilo que se
denomina “poesia de invenção”, na virada do século, no Brasil, então por “invenção”
poderíamos também deduzir hipóteses de recriação, intertextualidade, pastiche, diversão
– e até mesmo de algum maquiavelismo. (rs)
Com versos que remetem ao “Poema em linha reta”, de Fernando Pessoa, Corona
busca atingir o estágio em que se poderia chamar de “antipoeta”, muito operando
para que suas criações resultem em maldição às almas que não se convertam aos
desígnios desse autodeclarado Fausto do século XXI: do pacto assinado com
Mefisto podem-se inferir as razões pelas quais tudo, ao fim, resulta em risos e
desmantelamento. “In saecula saeculorum”.
J.A.R. – H.C.
Ricardo Corona
Pessoa Ruim
Nunca fui campeão de
nada
Vim pela rota mais
rota
Fui até a última
encruzilhada
Topei um pacto com o
capeta
Em troca nunca me
faltou caneta
Sou o escriba do
poema em linha reta
Tudo que fiz foi
levando porrada
Não escrevo o certo
por linhas tortas
Escrevo a obra de
quem dobra a esquina errada
Escrevo pra não ser
chamado de poeta
Escrevo como quem se
ri e espera
A colisão dos
planetas
O descarrilo do trem
Escrevo como quem
amaldiçoa almas
Amém
Fausto e Mefistófeles
(Ary Scheffer: pintor
francês)
Referência:
CORONA, Ricardo. Pessoa ruim. In:
DANIEL, Claudio; BARBOSA, Frederico (Organização, Seleção e Notas). Na virada do século: poesia de invenção
no Brasil. São Paulo, SP: Landy, 2007. p. 272.
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