Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Dylan Thomas - Colina das Samambaias

O sujeito lírico detém-se a rememorar, com muita imaginação, os dias felizes e despreocupados passados numa fazenda interiorana, alheio à passagem de sua juventude, usufruindo certo padrão de felicidade conectado ao sentido de identidade com aquele cenário pastoril.

“Fern Hill” é um lugar mágico, pleno de carga emocional, onde cabem a lua, os pássaros, as plantas, os animais, o mar – a natureza em suma –, tudo fixado indelevelmente na mente de uma criança. Mas “Fern Hill” é, do mesmo modo, o trânsito para o mundo da experiência, da perda da inocência, rumo à maturidade.

Assim, passa o poeta das belas paisagens rurais, onde se sente seguro e confiante, para outras instâncias sob as quais o “pathos” de impermanência ou transitoriedade torna-se manifesto, turbando o frescor e a vitalidade das experiências da primeira idade.

J.A.R. – H.C.

Dylan Thomas
(1914-1953)

Fern Hill

Now as I was young and easy under the apple boughs
About the lilting house and happy as the grass was green,
The night above the dingle starry,
Time let me hail and climb
Golden in the heydays of his eyes,
And honoured among wagons I was prince of the apple towns
And once below a time I lordly had the trees and leaves
Trail with daisies and barley
Down the rivers of the windfall light.

And as I was green and carefree, famous among the barns
About the happy yard and singing as the farm was home,
In the sun that is young once only,
Time let me play and be
Golden in the mercy of his means,
And green and golden I was huntsman and herdsman, the calves
Sang to my horn, the foxes on the hills barked clear and cold,
And the sabbath rang slowly
In the pebbles of the holy streams.

All the sun long it was running, it was lovely, the hay
Fields high as the house, the tunes from the chimneys, it was air
And playing, lovely and watery
And fire green as grass.
And nightly under the simple stars
As I rode to sleep the owls were bearing the farm away,
All the moon long I heard, blessed among stables, the nightjars
Flying with the ricks, and the horses
Flashing into the dark.

And then to awake, and the farm, like a wanderer white
With the dew, come back, the cock on his shoulder: it was all
Shining, it was Adam and maiden,
The sky gathered again
And the sun grew round that very day.
So it must have been after the birth of the simple light
In the first, spinning place, the spellbound horses walking warm
Out of the whinnying green stable
On to the fields of praise.

And honoured among foxes and pheasants by the gay house
Under the new made clouds and happy as the heart was long,
In the sun born over and over,
I ran my heedless ways,
My wishes raced through the house high hay
And nothing I cared, at my sky blue trades, that time allows
In all his tuneful turning so few and such morning songs
Before the children green and golden
Follow him out of grace.

Nothing I cared, in the lamb white days, that time would take me
Up to the swallow thronged loft by the shadow of my hand,
In the moon that is always rising,
Nor that riding to sleep
I should hear him fly with the high fields
And wake to the farm forever fled from the childless land.
Oh as I was young and easy in the mercy of his means,
Time held me green and dying
Though I sang in my chains like the sea.

In: “Deaths and Entrances” (1946)

Colina das Samambaias
(Diana Lehr: artista norte-americana)

Colina das Samambaias

Quando, junto à casa em festa, sob os ramos da macieira,
Eu era lépido e jovem, e feliz como era verde a relva,
A noite suspensa sobre as estrelas do desfiladeiro,
O tempo a permitir que eu gritasse e me erguesse,
Dourado, no fulgurante apogeu de seus olhos,
Eu, venerado entre as carroças, era o príncipe da cidade das maçãs,
E certa vez, com orgulho, fiz com que as árvores e as folhas
Se arrastassem com margaridas e cevada
Até os rios iluminados pelos frutos caídos sobre a terra.

E como era moço e descuidado, famoso entre os celeiros
Ao redor do pátio feliz, e cantava, pois a fazenda era o meu lar,
Sob o sol, que é jovem apenas uma vez,
O tempo deixava-me brincar e ser dourado
Na misericórdia de seus bens,
E, verde e dourado, eu era caçador e pastor, mugiam os bezerros
Ao som de minha trompa, das colinas vinha o uivo claro e frio das
raposas,
E lentamente ecoava a celebração do domingo
Nos seixos dos córregos sagrados.

Tudo fluía e era belo sob o sol: os campos de feno
Altos como a casa, a música das chaminés, tudo era ar
E ecoava, cheio de água e sortilégio,
E o fogo era tão verde quanto a relva,
E à noite, sob a luz das estrelas humildes,
Enquanto eu cavalgava rumo ao sono, as corujas subjugavam a
fazenda,
E sob a lua, abençoado entre os estábulos, eu ouvia os noitibós
Voando entre as medas, e os cavalos
Que flamejavam em meio às trevas.

E então, ao despertar, a fazenda, como um vagabundo
Branco de orvalho, regressa com o galo sobre o ombro: tudo
Fulgia, tudo era Adão e a sua donzela,
O céu se adensava outra vez
E o sol crescia ao redor daquele dia imaculado.
Assim deve ter sido após o nascimento da luz elementar
No primitivo espaço giratório, e os ardentes cavalos encantados
Saíam relinchando da verde estrebaria
Rumo aos campos da celebração.

E na casa em festa, venerado entre raposas e faisões,
Sob as nuvens recém-formadas, e tão feliz quanto era grande o
coração,
Ao sol que renasce a cada dia,
Eu corria por meus caminhos temerários,
Meus desejos se precipitavam pelo alto feno da casa
E nada me importava, em meu comércio celestial, pois o tempo
Em suas órbitas melodiosas, só concede raras canções matinais
Antes que as crianças verdes e douradas
O acompanham até o estertor da graça,

Nada me importava, nos dias brancos como cordeiros, que
o tempo me levasse,
Pela sombra de minhas mãos, até o paiol cheio de andorinhas,
Sob a lua que jamais deixa de galgar os céus,
Nem mesmo, ao cavalgar rumo ao sono,
Que chegasse a ouvi-la flutuar entre os altos campos
E acordasse na fazenda apagada para sempre nessa terra sem
crianças,
Ah! Quando eu era lépido e jovem, na misericórdia de seus bens,
O tempo subjugou-me, verde e agonizante,
Embora eu cantasse em meus grilhões como canta o mar.

Em: “Mortes e Entradas” (1946)

Referências:

Em Inglês

THOMAS, Dylan. Fern hill. In: __________. Collected poems: 1934-1952. 1st. ed.; 12th rep. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may 1959. p. 159-161

Em Português

THOMAS, Dylan. Colina das samambaias. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford Davies e Ralph Maud. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1991. p. 123-124.

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