O sujeito lírico detém-se a rememorar, com muita imaginação, os dias
felizes e despreocupados passados numa fazenda interiorana, alheio à passagem
de sua juventude, usufruindo certo padrão de felicidade conectado ao sentido de
identidade com aquele cenário pastoril.
“Fern Hill” é um lugar mágico, pleno de carga emocional, onde cabem a
lua, os pássaros, as plantas, os animais, o mar – a natureza em suma –, tudo fixado
indelevelmente na mente de uma criança. Mas “Fern Hill” é, do mesmo modo, o
trânsito para o mundo da experiência, da perda da inocência, rumo à maturidade.
Assim, passa o poeta das belas paisagens rurais, onde se sente seguro e
confiante, para outras instâncias sob as quais o “pathos” de impermanência ou
transitoriedade torna-se manifesto, turbando o frescor e a vitalidade das
experiências da primeira idade.
J.A.R. – H.C.
Dylan Thomas
(1914-1953)
Fern Hill
Now as I was young
and easy under the apple boughs
About the lilting
house and happy as the grass was green,
The night above the
dingle starry,
Time let me hail and
climb
Golden in the heydays
of his eyes,
And honoured among
wagons I was prince of the apple towns
And once below a time
I lordly had the trees and leaves
Trail with daisies
and barley
Down the rivers of
the windfall light.
And as I was green
and carefree, famous among the barns
About the happy yard
and singing as the farm was home,
In the sun that is
young once only,
Time let me play and
be
Golden in the mercy
of his means,
And green and golden
I was huntsman and herdsman, the calves
Sang to my horn, the
foxes on the hills barked clear and cold,
And the sabbath rang
slowly
In the pebbles of the
holy streams.
All the sun long it
was running, it was lovely, the hay
Fields high as the
house, the tunes from the chimneys, it was air
And playing, lovely
and watery
And fire green as
grass.
And nightly under the
simple stars
As I rode to sleep
the owls were bearing the farm away,
All the moon long I
heard, blessed among stables, the nightjars
Flying with the
ricks, and the horses
Flashing into the
dark.
And then to awake,
and the farm, like a wanderer white
With the dew, come
back, the cock on his shoulder: it was all
Shining, it was Adam
and maiden,
The sky gathered
again
And the sun grew
round that very day.
So it must have been
after the birth of the simple light
In the first,
spinning place, the spellbound horses walking warm
Out of the whinnying
green stable
On to the fields of
praise.
And honoured among
foxes and pheasants by the gay house
Under the new made
clouds and happy as the heart was long,
In the sun born over
and over,
I ran my heedless
ways,
My wishes raced
through the house high hay
And nothing I cared,
at my sky blue trades, that time allows
In all his tuneful
turning so few and such morning songs
Before the children
green and golden
Follow him out of
grace.
Nothing I cared, in
the lamb white days, that time would take me
Up to the swallow
thronged loft by the shadow of my hand,
In the moon that is
always rising,
Nor that riding to
sleep
I should hear him fly
with the high fields
And wake to the farm
forever fled from the childless land.
Oh as I was young and
easy in the mercy of his means,
Time held me green
and dying
Though I sang in my
chains like the sea.
In: “Deaths and Entrances” (1946)
Colina das Samambaias
(Diana Lehr: artista
norte-americana)
Colina das Samambaias
Quando, junto à casa
em festa, sob os ramos da macieira,
Eu era lépido e
jovem, e feliz como era verde a relva,
A noite suspensa
sobre as estrelas do desfiladeiro,
O tempo a permitir
que eu gritasse e me erguesse,
Dourado, no
fulgurante apogeu de seus olhos,
Eu, venerado entre as
carroças, era o príncipe da cidade das maçãs,
E certa vez, com
orgulho, fiz com que as árvores e as folhas
Se arrastassem com
margaridas e cevada
Até os rios
iluminados pelos frutos caídos sobre a terra.
E como era moço e
descuidado, famoso entre os celeiros
Ao redor do pátio
feliz, e cantava, pois a fazenda era o meu lar,
Sob o sol, que é jovem
apenas uma vez,
O tempo deixava-me
brincar e ser dourado
Na misericórdia de
seus bens,
E, verde e dourado,
eu era caçador e pastor, mugiam os bezerros
Ao som de minha
trompa, das colinas vinha o uivo claro e frio das
raposas,
E lentamente ecoava a
celebração do domingo
Nos seixos dos
córregos sagrados.
Tudo fluía e era belo
sob o sol: os campos de feno
Altos como a casa, a
música das chaminés, tudo era ar
E ecoava, cheio de
água e sortilégio,
E o fogo era tão
verde quanto a relva,
E à noite, sob a luz
das estrelas humildes,
Enquanto eu cavalgava
rumo ao sono, as corujas subjugavam a
fazenda,
E sob a lua,
abençoado entre os estábulos, eu ouvia os noitibós
Voando entre as
medas, e os cavalos
Que flamejavam em
meio às trevas.
E então, ao
despertar, a fazenda, como um vagabundo
Branco de orvalho,
regressa com o galo sobre o ombro: tudo
Fulgia, tudo era Adão
e a sua donzela,
O céu se adensava
outra vez
E o sol crescia ao
redor daquele dia imaculado.
Assim deve ter sido
após o nascimento da luz elementar
No primitivo espaço
giratório, e os ardentes cavalos encantados
Saíam relinchando da
verde estrebaria
Rumo aos campos da
celebração.
E na casa em festa,
venerado entre raposas e faisões,
Sob as nuvens
recém-formadas, e tão feliz quanto era grande o
coração,
Ao sol que renasce a
cada dia,
Eu corria por meus
caminhos temerários,
Meus desejos se
precipitavam pelo alto feno da casa
E nada me importava,
em meu comércio celestial, pois o tempo
Em suas órbitas
melodiosas, só concede raras canções matinais
Antes que as crianças
verdes e douradas
O acompanham até o
estertor da graça,
Nada me importava,
nos dias brancos como cordeiros, que
o tempo me levasse,
Pela sombra de minhas
mãos, até o paiol cheio de andorinhas,
Sob a lua que jamais
deixa de galgar os céus,
Nem mesmo, ao
cavalgar rumo ao sono,
Que chegasse a
ouvi-la flutuar entre os altos campos
E acordasse na
fazenda apagada para sempre nessa terra sem
crianças,
Ah! Quando eu era
lépido e jovem, na misericórdia de seus bens,
O tempo subjugou-me,
verde e agonizante,
Embora eu cantasse em
meus grilhões como canta o mar.
Em: “Mortes e Entradas” (1946)
Referências:
Em Inglês
THOMAS, Dylan. Fern hill. In:
__________. Collected poems: 1934-1952.
1st. ed.; 12th rep. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may 1959. p.
159-161
Em Português
THOMAS, Dylan. Colina das samambaias.
Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford
Davies e Ralph Maud. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1991. p. 123-124.
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