Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Gabriela Mistral - Antígona ‎

A voz lírica empresta um discurso que se atribui a Antígona, filha de Édipo e Jocasta, aliás, mãe de ambos, no momento em que o pai, já cego, fica a vagar pelo bosque sagrado das Eumênides, segundo o enredo das peças “Édipo-Rei” e “Édipo em Colono”, duas das obras pertencentes ao ciclo da trilogia tebana, de autoria do dramaturgo grego Sófocles, complementada ainda por uma última, “Antígona”, em cuja história ela vem a se tornar a heroína maior.

Tudo é tragédia no ciclo, embora haja intérpretes – como o francês Michel Foucault – que interpretam “Antígona” como um confronto entre visões normativas jusnaturalistas e positivistas, em decorrência de Antígona se orientar mais pelas leis divinas do que pelas leis humanas – afinal, ela descumpre o édito de Creonte para que não se enterrasse Polinice.

J.A.R. – H.C.

Gabriela Mistral
(1889-1957)

Antígona

Me conocía el Ágora, la fuente
Dircea y hasta el mismo olivo sacro,
no la ruta de polvo y de pedrisco
ni el cielo helado que muerde la nuca
y befa el rostro de los perseguidos.

Y ahora el viento que huele a pesebres,
a sudor y a resuello de ganados,
es el amante que bate mi cuello
y ofende mis espaldas con su grito.

Iban en el estío a desposarme,
iba mi pecho a amamantar gemelos
como Cástor y Pólux, y mi carne
iba a entrar en el templo triplicada
y a dar al dios los himnos y la ofrenda.
Yo era Antígona, brote de Edipo,
y Edipo era la gloria de la Grecia.

Caminamos los tres: el blanquecino
y una caña cascada que lo afirma
por apartarle el alacrán... la víbora,
y el filudo pedrisco por cubrirle
los gestos de las rocas malhadadas.

Viejo Rey, donde ya no puedas háblame.
Voy a acabar por despojarte un pino
y hacerte lecho de esas hierbas locas.
Olvida, olvida, olvida, Padre y Rey:
los dioses dan, como flores mellizas,
poder y ruina, memoria y olvido.
Si no logras dormir, puedo cargarte
el cuerpo nuevo que llevas ahora
y parece de infante malhadado.
Duerme, sí, duerme, duerme, duerme, viejo Edipo,
y no cobres el día ni la noche.

Édipo e Antígona
(Per Gabriel Wickenberg: pintor sueco)

Antígona

A Ágora me conhecia, a fonte
de Dirce e até mesmo a oliveira sagrada,
não a rota de poeira e de granizo
nem o céu gelado que morde a nuca
e importuna o rosto dos perseguidos.

E agora o vento que cheira a estábulos,
a suor e a resfôlego de gados,
é o amante que fustiga-me o pescoço
e machuca-me as costas com seu grito.

Viriam a desposar-me no verão,
meu peito amamentaria gêmeos
como Castor e Pólux, e minha carne
entraria no templo triplicada
a dirigir hinos e oferendas à divindade.
Eu era Antígona, rebento de Édipo,
e Édipo era a glória da Grécia.

Caminhamos os três: o encanecido
e um báculo desgastado que o ampara
por afastar-lhe o escorpião... a víbora
e o granizo cortante e por proteger-lhe
do resvalo das rochas infames.

Velho Rei, fala-me até onde já não possas.
Acabarei por despir um pinho para ti
e com essas ervas loucas fazer-te um leito.
Esquece, esquece, esquece, Pai e Rei:
os deuses dão, como flores gêmeas,
poder e ruína, memória e esquecimento.
Se não consegues dormir, posso carregar-te
o corpo novo que agora levas
e que se parece ao de um desditoso infante.
Dorme, sim, dorme, dorme, dorme, velho Édipo,
e não reivindiques nem o dia nem a noite.

Referência:

MISTRAL, Gabriela. Antígona. In: __________. Madwomen / Las locas mujeres. A bilingual edition: spanish x english. Edited and translated by Randall Couch. Chicago, IL: The University of Chicago Press, 2008. p. 94.

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