A voz lírica empresta um discurso que se atribui a Antígona, filha de
Édipo e Jocasta, aliás, mãe de ambos, no momento em que o pai, já cego, fica a
vagar pelo bosque sagrado das Eumênides, segundo o enredo das peças “Édipo-Rei”
e “Édipo em Colono”, duas das obras pertencentes ao ciclo da trilogia tebana,
de autoria do dramaturgo grego Sófocles, complementada ainda por uma última, “Antígona”,
em cuja história ela vem a se tornar a heroína maior.
Tudo é tragédia no ciclo, embora haja intérpretes – como o francês
Michel Foucault – que interpretam “Antígona” como um confronto entre visões normativas
jusnaturalistas e positivistas, em decorrência de Antígona se orientar mais pelas
leis divinas do que pelas leis humanas – afinal, ela descumpre o édito de
Creonte para que não se enterrasse Polinice.
J.A.R. – H.C.
Gabriela Mistral
(1889-1957)
Antígona
Me conocía el Ágora,
la fuente
Dircea y hasta el
mismo olivo sacro,
no la ruta de polvo y
de pedrisco
ni el cielo helado
que muerde la nuca
y befa el rostro de
los perseguidos.
Y ahora el viento que
huele a pesebres,
a sudor y a resuello
de ganados,
es el amante que bate
mi cuello
y ofende mis espaldas
con su grito.
Iban en el estío a
desposarme,
iba mi pecho a
amamantar gemelos
como Cástor y Pólux,
y mi carne
iba a entrar en el
templo triplicada
y a dar al dios los
himnos y la ofrenda.
Yo era Antígona,
brote de Edipo,
y Edipo era la gloria
de la Grecia.
Caminamos los tres:
el blanquecino
y una caña cascada
que lo afirma
por apartarle el
alacrán... la víbora,
y el filudo pedrisco
por cubrirle
los gestos de las
rocas malhadadas.
Viejo Rey, donde ya
no puedas háblame.
Voy a acabar por
despojarte un pino
y hacerte lecho de
esas hierbas locas.
Olvida, olvida,
olvida, Padre y Rey:
los dioses dan, como
flores mellizas,
poder y ruina,
memoria y olvido.
Si no logras dormir,
puedo cargarte
el cuerpo nuevo que
llevas ahora
y parece de infante
malhadado.
Duerme, sí, duerme,
duerme, duerme, viejo Edipo,
y no cobres el día ni
la noche.
Édipo e Antígona
(Per Gabriel
Wickenberg: pintor sueco)
Antígona
A Ágora me conhecia,
a fonte
de Dirce e até mesmo
a oliveira sagrada,
não a rota de poeira
e de granizo
nem o céu gelado que
morde a nuca
e importuna o rosto
dos perseguidos.
E agora o vento que cheira
a estábulos,
a suor e a resfôlego
de gados,
é o amante que
fustiga-me o pescoço
e machuca-me as
costas com seu grito.
Viriam a desposar-me
no verão,
meu peito amamentaria
gêmeos
como Castor e Pólux,
e minha carne
entraria no templo
triplicada
a dirigir hinos e
oferendas à divindade.
Eu era Antígona,
rebento de Édipo,
e Édipo era a glória
da Grécia.
Caminhamos os três: o
encanecido
e um báculo
desgastado que o ampara
por afastar-lhe o
escorpião... a víbora
e o granizo cortante
e por proteger-lhe
do resvalo das rochas
infames.
Velho Rei, fala-me
até onde já não possas.
Acabarei por despir
um pinho para ti
e com essas ervas
loucas fazer-te um leito.
Esquece, esquece,
esquece, Pai e Rei:
os deuses dão, como
flores gêmeas,
poder e ruína,
memória e esquecimento.
Se não consegues
dormir, posso carregar-te
o corpo novo que
agora levas
e que se parece ao de
um desditoso infante.
Dorme, sim, dorme,
dorme, dorme, velho Édipo,
e não reivindiques
nem o dia nem a noite.
Referência:
MISTRAL, Gabriela. Antígona. In:
__________. Madwomen / Las locas mujeres.
A bilingual edition: spanish x english. Edited and translated by Randall Couch.
Chicago, IL: The University of Chicago Press, 2008. p. 94.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário