O poeta e jornalista pernambucano foi, certamente, um homem aficionado
por livros e, neste soneto, revela a sua experiência com a leitura de tantos
deles, a renderem-lhe maus e bons proveitos, e como procedia em relação à
guarda ou à troca de obras do acervo.
Diz ele que um livro mau não se empresta, se vende; e um livro bom não
se devolve ao dono. Mas ora: e o que fazer com os livros bons, que são
propriedade sua, se terceiros quiserem levá-los por empréstimo?
Posso declinar o modo como procedo com os meus livros: troco ou faço doação
de obras fracas ou, ainda que não sendo fracas, daquelas que julgo já terem
exaurido qualquer serventia para mim. Livros bons, caros ou raros não os
empresto e nem afirmo aos quatro cantos que os possuo.
Agora, ficar com livros que eventualmente emprestei de alguém – rotina
de que pouco lanço mão, exceto se houver dificuldade em obtê-los no mercado – é
prática que não se amolda aos bons costumes, sobretudo se se ponderar que o
usuário pode estar em ambos os lados do negócio, podendo sofrer os mesmos danos
que houver imputado a outrem...
J.A.R. – H.C.
Austro-Costa
(1899-1953)
Livros...
Livros bons... Livros
maus... Livros... Ah! Quantos
comprei e recebi,
compro e recebo!
Mestres de encantos e
de desencantos...
Mestres cujas lições
com os olhos bebo...
Livros meus... Mil e
tantos acalantos
em minhas horas
más!... Só eu percebo
o que vale “cavar”
uns “mil e tantos”
quando levo alguns
deles para o “sebo”...
Sempre aferrado aos
livros, noite e dia,
na ânsia de algo
saber, – ânsia funesta
a que malucamente me
abandono,
só aprendi esta
filosofia:
um livro mau se
vende, não se empresta;
e um livro bom... não
se devolve ao dono...
Natureza-Morta com Livros e Vela
(Henri Matisse:
artista francês)
Referência:
COSTA, Austro. Livros... In:
__________. Meio dia eterno: antologia poética de Austro-Costa. Apresentação,
seleção e notas de Paulo Gustavo. Recife, PE: Fundarpe, 1994. p. 130.
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