A competente tradutora Regina Przybycien, neste ano de 2016, nos deu
mais um grande presente, depois de “Poemas” (2011), da poetisa polonesa em
epígrafe: “Um amor feliz”, de onde extraímos o interessante poema desta postagem.
Costumamos dizer que cada pessoa é especial e única, mas será que
realmente isso é verdade? Olhe lá: você pode deparar com o rosto de uma das
grandes figuras da história, agora mesmo, enquanto circula pela calçada da rua,
em frente à sua casa, ainda que a desconheça ou não se dê conta!
Seria o “eterno retorno”, os pressupostos da “reencarnação”, as
hipóteses kardecistas ou nada disso: apenas um jogo de suposições da poetisa,
para despertar a curiosidade dos leitores por meio de imagens sugestivas –
Arquimedes de jeans, Catarina com roupas nada dignas para uma imperatriz, um
faraó executivo e por aí vai...
J.A.R. – H.C.
Wisława Szymborska
(1923-2012)
Myśli nawiedzające
mnie
na
ruchliwych ulicach
Twarze.
Miliardy twarzy na
powierzchni świata.
Podobno każda inna
od tych, co były i będą.
Ale Natura – bo kto ją tam wie –
może zmęczona bezustanną pracą
powtarza swoje
dawniejsze pomysły
i nakłada nam twarze
kiedyś już noszone.
Może cię mija
Archimedes w dżinsach,
caryca Katarzyna w ciuchu z wyprzedaży,
któryś faraon z teczką, w okularach.
Wdowa po bosym szewcu
z malutkiej jeszcze Warszawy,
mistrz z groty Altamiry
z wnuczkami do zoo,
kudłaty Wandal w drodze do muzeum
pozachwycać się trochę.
Jacyś polegli dwieście wieków temu,
pięć wieków temu
i pół wieku temu.
Ktoś przewożony tędy
złoconą karetą,
ktoś wagonem zagłady.
Montezuma,
Konfucjusz, Nabuchodonozor,
ich piastunki, ich
praczki i Semiramida,
rozmawiająca tylko po angielsku.
Miliardy twarzy na
powierzchni świata.
Twarz twoja, moja,
czyja –
nigdy się nie dowiesz.
Może Natura oszukiwać musi,
i żeby zdążyć, i żeby
nastarczyć
zaczyna łowić to, co
zatopione
w zwierciadle niepamięci.
(“Tutaj”, 2009)
(“Tutaj”, 2009)
Os serventes do pintor
(William Hogarth:
pintor inglês)
Pensamentos que me visitam nas
ruas movimentadas
Rostos.
Bilhões de rostos na
face da Terra.
Dizem que cada um é
diferente
dos que existiram ou
existirão.
Mas a Natureza – quem
lá a entende –
talvez cansada do
trabalho incessante,
repete suas antigas ideias
e nos coloca rostos
já usados um dia.
Talvez você cruze com
Arquimedes de jeans,
a tsarina Catarina
com roupas de liquidação,
algum faraó de pasta
e de óculos.
A viúva de um
sapateiro descalço
de uma Varsóvia ainda
pequenina,
um mestre da gruta de
Altamira
indo com os netos ao
zoológico,
um vândalo cabeludo,
ao museu,
deslumbra-se um
pouco.
Uns que tombaram
duzentos séculos atrás,
cinco séculos atrás
e meio século atrás.
Alguém transportado
aqui numa carruagem
dourada,
alguém num vagão de
extermínio.
Montezuma, Confúcio,
Nabucodonosor,
suas babás,
lavadeiras, e Semíramis,
que fala somente
inglês.
Bilhões de rostos na
face da Terra.
O teu, o meu, o rosto
de quem –
você nunca vai saber.
Talvez a Natureza
precise enganar,
e para dar conta de
prazos e demandas,
comece a pescar
aquilo que está submerso
no espelho da
desmemória.
(“Aqui”, 2009)
(“Aqui”, 2009)
Referência:
SZYMBORSKA, Wisława. Myśli nawiedzające mnie na ruchliwych ulicach / Pensamentos
que me visitam nas ruas movimentadas. Tradução de Regina Przybycien. In:
__________. Um amor feliz. Seleção,
tradução e prefácio de Regina Przybycien. 1. ed. Edição bilíngue. São Paulo,
SP: Companhia das Letras, 2016. Em polonês: p. 266 e 268; em português: p. 267
e 269.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário