Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Wisława Szymborska - Pensamentos que me visitam nas ruas movimentadas

A competente tradutora Regina Przybycien, neste ano de 2016, nos deu mais um grande presente, depois de “Poemas” (2011), da poetisa polonesa em epígrafe: “Um amor feliz”, de onde extraímos o interessante poema desta postagem.

Costumamos dizer que cada pessoa é especial e única, mas será que realmente isso é verdade? Olhe lá: você pode deparar com o rosto de uma das grandes figuras da história, agora mesmo, enquanto circula pela calçada da rua, em frente à sua casa, ainda que a desconheça ou não se dê conta!

Seria o “eterno retorno”, os pressupostos da “reencarnação”, as hipóteses kardecistas ou nada disso: apenas um jogo de suposições da poetisa, para despertar a curiosidade dos leitores por meio de imagens sugestivas – Arquimedes de jeans, Catarina com roupas nada dignas para uma imperatriz, um faraó executivo e por aí vai...

J.A.R. – H.C.

Wisława Szymborska
(1923-2012)

Myśli nawiedzające mnie
na ruchliwych ulicach

Twarze.
Miliardy twarzy na powierzchni świata.
Podobno każda inna
od tych, co były i będą.
Ale Natura – bo kto ją tam wie –
może zmęczona bezustanną pracą
powtarza swoje dawniejsze pomysły
i nakłada nam twarze
kiedyś już noszone.

Może cię mija Archimedes w dżinsach,
caryca Katarzyna w ciuchu z wyprzedaży,
któryś faraon z teczką, w okularach.

Wdowa po bosym szewcu
z malutkiej jeszcze Warszawy,
mistrz z groty Altamiry
z wnuczkami do zoo,
kudłaty Wandal w drodze do muzeum
pozachwycać się trochę.

Jacyś polegli dwieście wieków temu,
pięć wieków temu
i pół wieku temu.

Ktoś przewożony tędy złoconą karetą,
ktoś wagonem zagłady.
Montezuma, Konfucjusz, Nabuchodonozor,
ich piastunki, ich praczki i Semiramida,
rozmawiająca tylko po angielsku.

Miliardy twarzy na powierzchni świata.
Twarz twoja, moja, czyja –
nigdy się nie dowiesz.
Może Natura oszukiwać musi,
i żeby zdążyć, i żeby nastarczyć
zaczyna łowić to, co zatopione
w zwierciadle niepamięci.

(Tutaj, 2009)

Os serventes do pintor
(William Hogarth: pintor inglês)

Pensamentos que me visitam nas
ruas movimentadas

Rostos.
Bilhões de rostos na face da Terra.
Dizem que cada um é diferente
dos que existiram ou existirão.
Mas a Natureza – quem lá a entende –
talvez cansada do trabalho incessante,
repete suas antigas ideias
e nos coloca rostos
já usados um dia.

Talvez você cruze com Arquimedes de jeans,
a tsarina Catarina com roupas de liquidação,
algum faraó de pasta e de óculos.

A viúva de um sapateiro descalço
de uma Varsóvia ainda pequenina,
um mestre da gruta de Altamira
indo com os netos ao zoológico,
um vândalo cabeludo, ao museu,
deslumbra-se um pouco.

Uns que tombaram duzentos séculos atrás,
cinco séculos atrás
e meio século atrás.

Alguém transportado aqui numa carruagem
dourada,
alguém num vagão de extermínio.
Montezuma, Confúcio, Nabucodonosor,
suas babás, lavadeiras, e Semíramis,
que fala somente inglês.

Bilhões de rostos na face da Terra.
O teu, o meu, o rosto de quem –
você nunca vai saber.
Talvez a Natureza precise enganar,
e para dar conta de prazos e demandas,
comece a pescar aquilo que está submerso
no espelho da desmemória.

(Aqui, 2009)

Referência:

SZYMBORSKA, Wisława. Myśli nawiedzające mnie na ruchliwych ulicach / Pensamentos que me visitam nas ruas movimentadas. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Um amor feliz. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. 1. ed. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2016. Em polonês: p. 266 e 268; em português: p. 267 e 269.

Nenhum comentário:

Postar um comentário