O poeta revela quem são os destinatários de sua poesia: não uma minoria
seleta, como frequentemente ocorria – e ainda ocorre – nos meios literários,
aqui como alhures, mas aqueles homens e mulheres comuns do povo, a imensa
maioria.
Afinal, todo poeta espera que a sua mensagem atinja um destinatário
capaz de capturar a sua essência, porque, de outro modo, a poesia ficará presa nas
páginas de um tomo, estática e estéril, sem produzir quaisquer efeitos sobre o
mundo!
J.A.R. – H.C.
Vicente Aleixandre
(1898-1984)
Para quién escribo (I)
¿Para quién escribo?,
me preguntaba el cronista, el
periodista o
simplemente el curioso.
No escribo para el
señor de la estirada chaqueta, ni
para su bigote enfadado,
ni siquiera para su alzado
índice admonitorio
entre las tristes ondas de música.
Tampoco para el
carruaje, ni para su ocultada
señora (entre
vidrios, como un rayo frío, el brillo de
los impertinentes).
Escribo acaso para
los que no me leen. Esa mujer
que corre por la
calle como si fuera a abrir las
puertas a la aurora.
O ese viejo que se
aduerme en el banco de esa plaza
chiquita, mientras el
sol poniente con amor le
toma, le rodea y le
deslíe suavemente en sus luces.
Para todos los que no
me leen, los que no se cuidan
de mí, pero de mí se
cuidan (aunque me ignoren).
Esa niña que al pasar
me mira, compañera de mi
aventura, viviendo en
el mundo.
Y esa vieja que
sentada a su puerta ha visto vida,
paridora de muchas
vidas, y manos cansadas.
Escribo para el
enamorado; para el que pasó con su
angustia en los ojos;
para el que le oyó; para el que al
pasar no miró; para
el que finalmente cayó cuando
preguntó y no le
oyeron.
Para todos escribo.
Para los que no me leen sobre
todo escribo. Uno a
uno, y la muchedumbre. Y
para los pechos y
para las bocas y para los oídos
donde, sin oírme,
está mi palabra.
En: “Em un vasto dominio” (1962)
Velho a Dormitar
(Greg Cartmell:
pintor norte-americano)
Para quem escrevo (I)
Para quem escrevo?,
perguntava-me o cronista, o
periodista ou
simplesmente o curioso.
Não escrevo para o
senhor da imodesta jaqueta, nem
para seu enfadado
bigode, nem sequer para seu elevado
índice admonitório
entre as tristes ondas de música.
Tampouco para a
carruagem, nem para a senhora que
nela se oculta (entre
vidros, como um raio frio, o brilho
dos impertinentes).
Escrevo acaso para os
que não me leem. Essa mulher
que corre pela rua
como se fosse abrir as portas à aurora.
Ou esse velho que
adormece no banco dessa pequena
praça, enquanto o sol
poente toma-o com amor,
rodeia-o e dissolve-o
suavemente em suas luzes.
Para todos os que não
me leem, os que não se
cuidam de mim, porém
de mim se cuidam (ainda que
me ignorem).
Essa menina que me
olha ao passar, companheira de
minha aventura,
vivendo no mundo.
E essa velha que
sentada à sua porta tem visto vida,
paridora de muitas
vidas, e mãos cansadas.
Escrevo para o
enamorado; para o que passou com sua
angústia nos olhos;
para o que o ouviu; para o que ao
passar não olhou; para
o que finalmente caiu quando
perguntou e não o
ouviram.
Para todos escrevo.
Para os que não me leem
sobretudo escrevo. Um
a um, e à multidão. E
para os peitos e para
as bocas e para os ouvidos
onde, sem ouvir-me,
está minha palavra.
Em: “Em um vasto domínio” (1962)
Referência:
ALEIXANDRE, Vicente. Para quién escribo
(I). In: VARIOS. Edición, introducción, notas, comentarios y apéndice de
Esperanza Ortega. Antología de la generación
del 27. Madrid, ES: Anaya, 1987. p. 131-132. (Biblioteca Didáctica Anaya;
v. 23)
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