Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Vicente Aleixandre - Para quem escrevo (I)

O poeta revela quem são os destinatários de sua poesia: não uma minoria seleta, como frequentemente ocorria – e ainda ocorre – nos meios literários, aqui como alhures, mas aqueles homens e mulheres comuns do povo, a imensa maioria.

Afinal, todo poeta espera que a sua mensagem atinja um destinatário capaz de capturar a sua essência, porque, de outro modo, a poesia ficará presa nas páginas de um tomo, estática e estéril, sem produzir quaisquer efeitos sobre o mundo!

J.A.R. – H.C.

Vicente Aleixandre
(1898-1984)

Para quién escribo (I)

¿Para quién escribo?, me preguntaba el cronista, el
periodista o simplemente el curioso.

No escribo para el señor de la estirada chaqueta, ni
para su bigote enfadado, ni siquiera para su alzado
índice admonitorio entre las tristes ondas de música.

Tampoco para el carruaje, ni para su ocultada
señora (entre vidrios, como un rayo frío, el brillo de
los impertinentes).

Escribo acaso para los que no me leen. Esa mujer
que corre por la calle como si fuera a abrir las
puertas a la aurora.

O ese viejo que se aduerme en el banco de esa plaza
chiquita, mientras el sol poniente con amor le
toma, le rodea y le deslíe suavemente en sus luces.

Para todos los que no me leen, los que no se cuidan
de mí, pero de mí se cuidan (aunque me ignoren).

Esa niña que al pasar me mira, compañera de mi
aventura, viviendo en el mundo.

Y esa vieja que sentada a su puerta ha visto vida,
paridora de muchas vidas, y manos cansadas.

Escribo para el enamorado; para el que pasó con su
angustia en los ojos; para el que le oyó; para el que al
pasar no miró; para el que finalmente cayó cuando
preguntó y no le oyeron.

Para todos escribo. Para los que no me leen sobre
todo escribo. Uno a uno, y la muchedumbre. Y
para los pechos y para las bocas y para los oídos
donde, sin oírme, está mi palabra.

En: “Em un vasto dominio” (1962)

Velho a Dormitar
(Greg Cartmell: pintor norte-americano)

Para quem escrevo (I)

Para quem escrevo?, perguntava-me o cronista, o
periodista ou simplesmente o curioso.

Não escrevo para o senhor da imodesta jaqueta, nem
para seu enfadado bigode, nem sequer para seu elevado
índice admonitório entre as tristes ondas de música.

Tampouco para a carruagem, nem para a senhora que
nela se oculta (entre vidros, como um raio frio, o brilho
dos impertinentes).

Escrevo acaso para os que não me leem. Essa mulher
que corre pela rua como se fosse abrir as portas à aurora.

Ou esse velho que adormece no banco dessa pequena
praça, enquanto o sol poente toma-o com amor,
rodeia-o e dissolve-o suavemente em suas luzes.

Para todos os que não me leem, os que não se
cuidam de mim, porém de mim se cuidam (ainda que
me ignorem).

Essa menina que me olha ao passar, companheira de
minha aventura, vivendo no mundo.

E essa velha que sentada à sua porta tem visto vida,
paridora de muitas vidas, e mãos cansadas.

Escrevo para o enamorado; para o que passou com sua
angústia nos olhos; para o que o ouviu; para o que ao
passar não olhou; para o que finalmente caiu quando
perguntou e não o ouviram.

Para todos escrevo. Para os que não me leem
sobretudo escrevo. Um a um, e à multidão. E
para os peitos e para as bocas e para os ouvidos
onde, sem ouvir-me, está minha palavra.

Em: “Em um vasto domínio” (1962)

Referência:

ALEIXANDRE, Vicente. Para quién escribo (I). In: VARIOS. Edición, introducción, notas, comentarios y apéndice de Esperanza Ortega. Antología de la generación del 27. Madrid, ES: Anaya, 1987. p. 131-132. (Biblioteca Didáctica Anaya; v. 23)

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