Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Sebastián Salazar Bondy - O poeta conhece a Poesia

Bondy, poeta peruano, discursa sobre a natureza da poesia, não daquela que se costuma se apurar à mesa, entre finos doces e aromáticos chás, mas da que perdura turbulenta nas escuridões do espírito, entre solidões e desafios.

A seu ver, estão destratando a poesia, de sorte que ela tem-se mostrado algo inepta, incapaz de dar conta de renovar-se, de propor-se novos rumos, sempre a rastejar pelas mesmas paragens sobre as quais se assenta o pó dos séculos.

J.A.R. – H.C.

Sebastián Salazar Bondy
(1924-1964)

El poeta conoce la Poesía

Permítanme decir que la poesía
es una habitación a oscuras, y permítanme también
que confiese que dentro de ella nos sentimos muy solos,
nos palpamos el cuerpo y lo herimos,
nos quitamos el sombrero y somos estatuas,
nos arrojamos contra las paredes y no las hallamos,
pisamos en agua infinita y aspiramos el olor de la sangre
como si la flor de la vida exhalara en esa soledad
toda su plenitud sin fracasos.

Permítanme, al mismo tiempo, que pregunte
si un peruano, si un fugitivo de la memoria del hombre,
puede sentarse allí como un señor en su jardín,
tomar el té y dar los buenos días a la alegría.
Qué equivocados estamos, entonces, qué pálida
es la idea que tenemos de algo tan ardiente y doloroso.
Porque, para ser justos, es necesario que envolvamos
nuestra ropa,
demos fuego a nuestras bibliotecas,
arrojemos al mar las máquinas felices que resuenan todo
el día,
y vayamos al corazón de esa tumba
para sacar de ahí un polvo de siglos que está olvidado
todavía.

No sé si esto será bueno, pero permítanme que diga
que de otro modo la poesía está resultando un poco tonta.

Café da Manhã no Jardim
(Frederick C. Frieseke: pintor norte-americano)

O poeta conhece a Poesia

Permitam-me dizer que a poesia,
é um quarto às escuras, e permitam-me também
que confesse que dentro dela nos sentimos muito sozinhos,
nos apalpamos o corpo e o ferimos,
nos privamos do chapéu e somos estátuas,
nos lançamos contra as paredes e não as encontramos,
pisamos em água infinita e aspiramos o cheiro do sangue
como se a flor da vida exalasse nessa solidão
toda a sua plenitude sem fracassos.

Permitam-me, ao mesmo tempo, que pergunte
se um peruano, se um fugitivo da memória do homem,
pode sentar-se ali como um senhor em seu jardim,
tomar o chá e dar bons dias à alegria.
Quão equivocados estamos, quão pálida
é a ideia que temos de algo tão ardente e doloroso.
Porque, para sermos justos, é necessário que embrulhemos
nossa roupa,
toquemos fogo em nossas bibliotecas,
atiremos ao mar as máquinas felizes que ressoam todo
o dia,
e sigamos até o coração dessa tumba
para daí retirar um pó de séculos que ainda está esquecido.

Não sei se isso será bom, porém permitam-me que diga
que de outro modo a poesia está resultando um pouco
obtusa.

Referência:

BONDY, Sebastián Salazar. El poeta conoce la poesía. In: BORDA, Juán Gustavo Cobo (Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispanoamericana. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 1985. p. 298-299. (Colección Tierra Firme)

Nenhum comentário:

Postar um comentário