Bondy, poeta peruano, discursa sobre a natureza da poesia, não daquela
que se costuma se apurar à mesa, entre finos doces e aromáticos chás, mas da
que perdura turbulenta nas escuridões do espírito, entre solidões e desafios.
A seu ver, estão destratando a poesia, de sorte que ela tem-se mostrado
algo inepta, incapaz de dar conta de renovar-se, de propor-se novos rumos, sempre
a rastejar pelas mesmas paragens sobre as quais se assenta o pó dos séculos.
J.A.R. – H.C.
Sebastián Salazar Bondy
(1924-1964)
El poeta conoce la Poesía
Permítanme decir que
la poesía
es una habitación a
oscuras, y permítanme también
que confiese que
dentro de ella nos sentimos muy solos,
nos palpamos el
cuerpo y lo herimos,
nos quitamos el
sombrero y somos estatuas,
nos arrojamos contra
las paredes y no las hallamos,
pisamos en agua
infinita y aspiramos el olor de la sangre
como si la flor de la
vida exhalara en esa soledad
toda su plenitud sin
fracasos.
Permítanme, al mismo
tiempo, que pregunte
si un peruano, si un
fugitivo de la memoria del hombre,
puede sentarse allí
como un señor en su jardín,
tomar el té y dar los
buenos días a la alegría.
Qué equivocados
estamos, entonces, qué pálida
es la idea que
tenemos de algo tan ardiente y doloroso.
Porque, para ser
justos, es necesario que envolvamos
nuestra ropa,
demos fuego a
nuestras bibliotecas,
arrojemos al mar las
máquinas felices que resuenan todo
el día,
y vayamos al corazón
de esa tumba
para sacar de ahí un
polvo de siglos que está olvidado
todavía.
No sé si esto será
bueno, pero permítanme que diga
que de otro modo la
poesía está resultando un poco tonta.
Café da Manhã no Jardim
(Frederick C.
Frieseke: pintor norte-americano)
O poeta conhece a Poesia
Permitam-me dizer que
a poesia,
é um quarto às
escuras, e permitam-me também
que confesse que
dentro dela nos sentimos muito sozinhos,
nos apalpamos o corpo
e o ferimos,
nos privamos do
chapéu e somos estátuas,
nos lançamos contra
as paredes e não as encontramos,
pisamos em água
infinita e aspiramos o cheiro do sangue
como se a flor da
vida exalasse nessa solidão
toda a sua plenitude
sem fracassos.
Permitam-me, ao mesmo
tempo, que pergunte
se um peruano, se um
fugitivo da memória do homem,
pode sentar-se ali
como um senhor em seu jardim,
tomar o chá e dar
bons dias à alegria.
Quão equivocados
estamos, quão pálida
é a ideia que temos
de algo tão ardente e doloroso.
Porque, para sermos
justos, é necessário que embrulhemos
nossa roupa,
toquemos fogo em
nossas bibliotecas,
atiremos ao mar as
máquinas felizes que ressoam todo
o dia,
e sigamos até o
coração dessa tumba
para daí retirar um
pó de séculos que ainda está esquecido.
Não sei se isso será
bom, porém permitam-me que diga
que de outro modo a
poesia está resultando um pouco
obtusa.
Referência:
BONDY, Sebastián Salazar. El poeta
conoce la poesía. In: BORDA, Juán Gustavo Cobo (Selección, prólogo y notas).
Antología de la poesía hispanoamericana. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura
Económica, 1985. p. 298-299. (Colección Tierra Firme)
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