Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Wallace Stevens - O Motivo para a Metáfora

Eis aqui um interessante poema sobre os limites da linguagem para descrever adequadamente as nossas experiências e como, para o fazer, temos que lançar mão de metáforas, de modo a expressar que esta ou aquela experiência ocorreu como algo mais palpável e de fácil associação ou assimilação.

Uma coisa é o mundo objetivo, outra aquilo que, dele, a mente humana apreende. Mas o que fazer quando aquilo que pretendemos descrever é um sentimento a irromper em nosso âmago, experiência singular a desafiar qualquer pretensão de decodificação linguística?

Wallace antepõe os contrastes de luz no trânsito da primavera ao outono, em conjunção com todos os nossos anseios de mudança, neste obscuro mundo em que as coisas jamais foram suficientemente bem descritas.

Daí o porquê da associação a um incógnito X, como nas equações da álgebra, valor a que seguimos no encalço, de forma a solucionar o enigma formulado, ou melhor, dar sentido pelo menos satisfatório aos nossos problemas...

J.A.R. – H.C.

Wallace Stevens
(1879-1955)

The Motive for Metaphor

You like it under the trees in autumn,
Because everything is half dead.
The wind moves like a cripple among the leaves
And repeats words without meaning.

In the same way, you were happy in spring,
With the half colors of quarter-things,
The slightly brighter sky, the melting clouds,
The single bird, the obscure moon −

The obscure moon lighting an obscure world
Of things that would never be quite expressed,
Where you yourself were never quite yourself
And did not want nor have to be,

Desiring the exhilarations of changes:
The motive for metaphor, shrinking from
The weight of primary noon,
The A B C of being,

The ruddy temper, the hammer
Of red and blue, the hard sound −
Steel against intimation − the sharp flash,
The vital, arrogant, fatal, dominant X.

Tesouros do Mar
(Yana Movchan: artista ucraniana)

O Motivo para a Metáfora

Gostas de estar sob as árvores no outono,
Porque tudo está meio morto.
O vento se move como um trôpego entre as folhas
E repete palavras sem sentido.

De mesmo modo, foste feliz na primavera,
Com as meias cores das coisas aos quartos,
O céu levemente mais brilhante, as nuvens dissolvendo,
O pássaro desacompanhado, a lua obscura –

A lua obscura aclarando um mundo obscuro
De coisas nunca suficientemente bem expressas,
Onde jamais foste tu mesmo o bastante
E não o quiseste nem tiveste motivos para sê-lo,

Desejando os regozijos das mudanças:
O motivo para a metáfora, retrocedendo
Ao peso do meio-dia primordial,
O A B C do ser,

A têmpera rubra, o martelar
Do vermelho e do azul, o som intenso –
Aço contra a insinuação – o incisivo clarão,
O vital, arrogante, fatal, dominante X.

Referência:

STEVENS, Wallace. The motive for metaphor. In: UNTERMEYER, Louis (Ed.). Modern american poetry. Mid-Century Edition. 7th printing. New York, NY: Harcourt, Brace and Company, 1950. p. 274.

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