Eis aqui um interessante poema sobre os limites da linguagem para
descrever adequadamente as nossas experiências e como, para o fazer, temos que
lançar mão de metáforas, de modo a expressar que esta ou aquela experiência ocorreu
como algo mais palpável e de fácil associação ou assimilação.
Uma coisa é o mundo objetivo, outra aquilo que, dele, a mente humana
apreende. Mas o que fazer quando aquilo que pretendemos descrever é um
sentimento a irromper em nosso âmago, experiência singular a desafiar qualquer
pretensão de decodificação linguística?
Wallace antepõe os contrastes de luz no trânsito da primavera ao outono,
em conjunção com todos os nossos anseios de mudança, neste obscuro mundo em que
as coisas jamais foram suficientemente bem descritas.
Daí o porquê da associação a um incógnito X, como nas equações da
álgebra, valor a que seguimos no encalço, de forma a solucionar o enigma formulado,
ou melhor, dar sentido pelo menos satisfatório aos nossos problemas...
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
The Motive for Metaphor
You like it under the trees in autumn,
Because everything is half dead.
The wind moves like a cripple among the leaves
And repeats words without meaning.
In the same way, you were happy in spring,
With the half colors of quarter-things,
The slightly brighter sky, the melting clouds,
The single bird, the obscure moon −
The obscure moon lighting an obscure world
Of things that would never be quite expressed,
Where you yourself were never quite yourself
And did not want nor have to be,
Desiring the exhilarations of changes:
The motive for metaphor, shrinking from
The weight of primary noon,
The A B C of being,
The ruddy temper, the hammer
Of red and blue, the hard sound −
Steel against intimation − the sharp flash,
The vital, arrogant, fatal, dominant X.
Tesouros do Mar
(Yana Movchan:
artista ucraniana)
O Motivo para a Metáfora
Gostas de estar sob
as árvores no outono,
Porque tudo está meio
morto.
O vento se move como
um trôpego entre as folhas
E repete palavras sem
sentido.
De mesmo modo, foste
feliz na primavera,
Com as meias cores das
coisas aos quartos,
O céu levemente mais
brilhante, as nuvens dissolvendo,
O pássaro
desacompanhado, a lua obscura –
A lua obscura aclarando
um mundo obscuro
De coisas nunca suficientemente
bem expressas,
Onde jamais foste tu
mesmo o bastante
E não o quiseste nem tiveste
motivos para sê-lo,
Desejando os
regozijos das mudanças:
O motivo para a
metáfora, retrocedendo
Ao peso do meio-dia primordial,
O A B C do ser,
A têmpera rubra,
o martelar
Do vermelho e do
azul, o som intenso –
Aço contra a
insinuação – o incisivo clarão,
O vital, arrogante,
fatal, dominante X.
Referência:
STEVENS, Wallace. The motive for metaphor. In: UNTERMEYER, Louis (Ed.). Modern american poetry. Mid-Century
Edition. 7th printing. New York, NY: Harcourt, Brace and Company, 1950. p. 274.
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