Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Pablo Neruda - Ode a um albatroz viajante

Não há como deixar de associar este poema de Neruda ao “Albatroz” de Baudelaire, muito embora as diferenças entre as imagens empregadas pelos dois poetas para esta grande ave marinha, pode ser, de fato, bem mais relevantes do que as aparentes semelhanças.

E não passe ao largo o fato de o vocativo empregado por Neruda em relação à ave muito lembrar a passagem de um famoso poema de Whitman... “Capitão, meu capitão!” Mas não só: a leitura atenta do poema revela que Neruda é um ávido apreciador dos pássaros. Fique, leitor, como esta obra-prima da sensibilidade humana!

J.A.R. – H.C.

Pablo Neruda
(1904-1973)

Ode a un albatros viajero

Un gran albatros
gris
murió aquel día.
Aquí cayó
en las húmedas
arenas.
En este
mês
opaco, em
este día
de otoño plateado
y lloviznero,
parecido
a una red
con peces fríos
y agua
de mar.
Aquí
cayó
muriendo
el ave magna.

Era
en
la muerte
como una cruz negra.
De punta a punta de ala
tres metros de plumaje
y la cabeza curva
como un gancho
con los ojos ciclónicos
cerrados.

Desde Nueva Zelandia
cruzó todo el océano
hasta
morir en Chile.

Por qué? Por qué? Qué sal,
qué ola, qué viento
buscó en el mar?
Qué levantó su fuerza
contra todo
el espacio?
Por qué su poderío
se probó en las más duras
soledades?
O fue su meta
la magnética rosa
de una estrella?
Nadie
podrá saberlo, ni decirlo.

El océano en este
ancho sendero
no tiene
isla ninguna,
y el albatros errante
en la interplanetaria
parábola
del victorioso vuelo
no encontró sino días,
noches, agua,
soledades,
espacio.

Él, con sus alas, era
la energía,
la dirección, los ojos
que vencieron
sol y sombra:
el ave
resbalaba en el cielo
hacia
la más
lejana
tierra
desconocida.

Pájaro extenso, inmóvil
perecías
volando
entre los continentes
sobre mares perdidos,
un solo
temblor de ala,
un ágil
golpe de campana y pluma:
así cambiaba apenas
tu majestad el rumbo
y triunfante seguías
fiel en el implacable,
desierto
derrotero.

Hermoso eras girando
apenas
entre la ola y el aire,
sumergiendo la punta
de tu ala en el océano
o sentándote en medio
de la extensión marina
con las alas cerradas como un cofre
de secretas alhajas,
balanceado
por las
solitarias
espumas
como uma profecia
muda
en el movimiento de los salmos.

Ave albatros, perdón,
dije, en silencio,
cuando lo vi extendido,
agarrotado
en la arena, después
de la inmensa
travesía.
Héroe, le dije, nadie
levantará sobre la tierra
en uma
plaza de pueblo
tu arrobadora
estatua,
nadie.
Allí tendrán en medio
de los tristes laureles
oficiales
al hombre de bigotes
con levita o espada,
al que mató
en la guerra
a la aldeana,
al que con un solo
obús sangriento
hizo polvo
una escuela
de muchachas,
al que usurpó
las tierras
de los indios,
o al cazador
de palomas, al
exterminador
de cisnes negros.

Sí,
no esperes,
dije,
al rey del viento
al ave de los mares,
no esperes
un túmulo
erigido
a tu proeza,
y mientras
tétricos ciudadanos
congregados en torno a tus despojos
te arrancaban
una pluma, es decir,
un pétalo, un mensaje
huracanado,
yo me alejé
para que,
por lo menos,
tu recuerdo,
sin piedra, sin estatua,
en estos versos vuele
por vez postrera contra
la distancia
y quede así cerca del mar tu vuelo.

Oh, capitán oscuro,
derrotado en mi patria,
ojalá que tus alas
orgullosas
sigan volando sobre
la ola final, la ola de la muerte.

(1956)

Albatroz
(Andrew McIlroy: artista australiano)

Ode a um albatroz viajante

Um grande albatroz
cinzento
morreu naquele dia.
Aqui caiu
nas úmidas
areias.
Neste
mês
opaco,
neste dia
de outono prateado
e chuviscante,
parecido
a uma rede
com peixes frios
e água
de mar.
Aqui
caiu
morrendo
a ave magna.

Assemelhava-se
na
morte
a uma cruz negra.
De ponta a ponta da asa
três metros de plumagem
e a cabeça curva
como um gancho
com os olhos ciclônicos
fechados.

Desde a Nova Zelândia
cruzou todo o oceano
até
morrer no Chile.

Por quê? Por quê? Que sal,
que onda, que vento
buscou no mar:
O que levantou sua força
contra todo
o espaço?
Por que seu poderio
se provou nas mais duras
solidões?
Ou foi sua meta
a magnética rosa
de uma estrela?
Ninguém
poderá sabê-lo, nem dizê-lo.

O oceano nesta
ampla senda
não tem
ilha nenhuma,
e o albatroz errante
na interplanetária
parábola
do vitorioso voo
não encontrou senão dias,
noites, água,
solidões,
espaço.

Ele, com suas asas, era
a energia,
a direção, os olhos
que venceram
sol e sombra:
a ave
resvalava no céu
até
a mais
distante
terra
desconhecida.

Pássaro extenso, imóvel
perecias
voando
entre os continentes
sobre mares perdidos,
um só
tremor de asa,
um ágil
golpe de sino e pluma:
assim mudava apenas
tua majestade o rumo
e triunfante seguias
fiel na implacável,
deserta
rota.

Belo eras girando
apenas
entre a onda e o ar,
submergindo a ponta
de tua asa no oceano
ou sentando-te em meio
à extensão marinha
com as asas fechadas como um cofre
de secretas joias,
balanceado
pelas
solitárias
espumas
como uma profecia
muda
no movimento dos salmos.

Ave albatroz, perdão,
disse, em silêncio,
quando o vi estendido,
retesado
na areia, depois
da imensa
travessia.
Herói, lhe disse, ninguém
levantará sobre a terra
numa
praça de povoado
tua arrebatadora
estátua,
ninguém.
Ali haverá em meio
aos tristes louros
oficiais
o homem de bigodes
com fraque ou espada,
o que matou
na guerra
a aldeã,
o que com um só
obus sangrento
transformou em pó
uma escola
de meninas,
o que usurpou
as terras
dos índios,
ou o caçador
de pombas, o
exterminador
de cisnes negros.

Sim,
não esperes,
disse,
ao rei do vento,
à ave dos mares,
não esperes
um túmulo
erigido
à tua proeza,
e enquanto
tétricos cidadãos
congregados em torno aos teus despojos
te arrancavam
uma pluma, isto é,
uma pétala, uma mensagem
impetuosa,
eu me distanciei
para que,
pelo menos,
tua recordação,
sem pedra, sem estátua,
neste versos voe
pela derradeira vez contra
a distância
e fique assim o teu voo próximo do mar.

Oh, sombrio capitão,
derrotado em minha pátria,
oxalá que tuas asas
orgulhosas
sigam voando sobre
a onda final, a onda da morte.

(1956)

Referência:

NERUDA, Pablo. Oda a un albatros viajero. In: __________. Tercer libro de las odas. 2. ed. Buenos Aires, AR: Losada, 1972. p. 22-27. (Biblioteca Clásica y Contemporánea)

2 comentários:

  1. Um poema belíssimo que não me canso de revisitar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado(a) internauta: decerto, um dos mais bonitos poemas de Neruda, a refletir poeticamente sobre a natureza, a liberdade e a brevidade da vida. O albatroz é um pouco como cada um de nós, uma criatura viajante em sua implacável busca por significado e propósito para os seus dias.
      João A. Rodrigues

      Excluir