Um poema de Emily Dickinson e duas traduções: uma um pouco mais livre em
relação ao original, atendo-se ao sentido e à interpretação que Ivo Bender
extraiu das palavras da poetisa; e outra bem mais literal, retirada de livro
sobre a vida e a obra de Dickinson.
Trata-se de um poema com matizes góticos, em que E. D. nos faz ver que a
alma muitas vezes é paralisada por medos fantasmagóricos, que a mantêm cativa e
sempre à busca de escapar de sua própria prisão.
Afinal, o cérebro pode ser tão mal-assombrado quanto qualquer casa
antiga e abandonada, neste caso, com muito mais razões para sê-lo. E que
tortura vagar pelos cantos e labirintos de nossa mente, de onde poderemos sair
pelo caminho da loucura ou da paralisia ou, ainda, quem sabe?, da iluminação!
J.A.R. – H.C.
Emily Dickinson
(1830-1886)
One need not be
a chamber – to be Haunted
One need not be a Chamber − to be Haunted −
One need not be a House −
The Brain has Corridors − surpassing
Material Place −
Far safer, of a Midnight Meeting
External Ghost
Than its interior Confronting −
That Cooler Host.
Far safer, through an Abbey gallop,
The Stones a’chase −
Than Unarmed, one’s a’self encounter −
In lonesome Place −
Ourself behind ourself, concealed −
Should startle most −
Assassin hid in our Apartment
Be Horror's least.
The Body − borrows a Revolver −
He bolts the Door −
O’erlooking a superior spectre −
Or More −
Casa Abandonada
(Bill Joseph Markowski: pintor norte-americano)
Para as assombrações, desnecessária é a
alcova
Para as assombrações,
desnecessária é a alcova,
Desnecessária, a casa
–
O cérebro tem
corredores que superam
Os espaços materiais.
Mais seguro é
encontrar à meia-noite
Um fantasma,
Que enfrentar,
internamente,
Aquele hóspede mais
pálido.
Mais seguro é galopar
cruzando um cemitério,
Por pedras tumulares
ameaçado,
Que, ausente a lua,
encontrar-se a si mesmo
Em desolado espaço.
O “eu”, por trás de
nós oculto,
É muito mais
assustador,
E um assassino,
escondido em nosso quarto,
Dentre os horrores, é
o menor.
O homem prudente leva
consigo uma arma
E cerra os ferrolhos
da porta,
Sem perceber um outro
espectro,
Mais ínfimo e maior.
(Tradução de Ivo Bender)
(Título e Autoria
Desconhecidos)
A gente não precisa ser uma câmara para
ser
mal-assombrada
A gente não precisa
ser uma câmara para ser
mal-assombrada;
A gente não precisa
ser uma casa.
A mente tem
corredores que ultrapassam
Lugares de pedra e
cal.
Muito melhor à meia-noite
encontrar
Um fantasma de fora
Do que o seu interior
enfrentar –
Esse mais frio
anfitrião.
Muito melhor o
cemitério atravessar
Por entre as lajes
Que desarmado se
defrontar,
Em lugar ermo,
Nós mesmos atrás de
nós, ocultos,
Deveríamos
assustar-nos mais
Que um assassino, em
nossos aposentos
Escondido.
O corpo arma-se com
um revólver,
Passa o ferrolho na
porta
E não se lembra de um
espectro superior,
Ou de mais.
(Tradução de Vera das Neves Pedroso)
Referências:
Em Inglês
DICKINSON, Emily. One need not be a chamber − to be haunted. In: __________. Poemas Escolhidos. Seleção, tradução e
introdução de Ivo Bender. Edição bilíngue. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011. p.
56 e 58. (Coleção L&PM Pocket; v. 436)
Em Português
DICKINSON, Emily. Para as assombrações, desnecessária é a alcova. In: __________. Poemas Escolhidos. Seleção, tradução e
introdução de Ivo Bender. Edição bilíngue. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011. p.
57 e 59. (Coleção L&PM Pocket; v. 436)
DICKINSON, Emily. A gente não precisa
ser uma câmara para ser mal-assombrada. Tradução de Vera das Neves Pedroso. In: JOHNSON, Thomas H. Mistério e solidão: a vida e a obra de
Emily Dickinson. Tradução de Vera das Neves Pedroso. 1. ed. Rio de Janeiro, GB:
Lidador, 1965. p. 147.
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