Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Emily Dickinson - Para as assombrações, desnecessária é a alcova

Um poema de Emily Dickinson e duas traduções: uma um pouco mais livre em relação ao original, atendo-se ao sentido e à interpretação que Ivo Bender extraiu das palavras da poetisa; e outra bem mais literal, retirada de livro sobre a vida e a obra de Dickinson.

Trata-se de um poema com matizes góticos, em que E. D. nos faz ver que a alma muitas vezes é paralisada por medos fantasmagóricos, que a mantêm cativa e sempre à busca de escapar de sua própria prisão.

Afinal, o cérebro pode ser tão mal-assombrado quanto qualquer casa antiga e abandonada, neste caso, com muito mais razões para sê-lo. E que tortura vagar pelos cantos e labirintos de nossa mente, de onde poderemos sair pelo caminho da loucura ou da paralisia ou, ainda, quem sabe?, da iluminação!

J.A.R. – H.C.

Emily Dickinson
(1830-1886)

One need not be a chamber – to be Haunted

One need not be a Chamber − to be Haunted −
One need not be a House −
The Brain has Corridors − surpassing
Material Place −

Far safer, of a Midnight Meeting
External Ghost
Than its interior Confronting −
That Cooler Host.

Far safer, through an Abbey gallop,
The Stones a’chase −
Than Unarmed, one’s a’self encounter −
In lonesome Place −

Ourself behind ourself, concealed −
Should startle most −
Assassin hid in our Apartment
Be Horror's least.

The Body − borrows a Revolver −
He bolts the Door −
O’erlooking a superior spectre −
Or More −

Casa Abandonada
(Bill Joseph Markowski: pintor norte-americano)

Para as assombrações, desnecessária é a alcova

Para as assombrações, desnecessária é a alcova,
Desnecessária, a casa –
O cérebro tem corredores que superam
Os espaços materiais.

Mais seguro é encontrar à meia-noite
Um fantasma,
Que enfrentar, internamente,
Aquele hóspede mais pálido.

Mais seguro é galopar cruzando um cemitério,
Por pedras tumulares ameaçado,
Que, ausente a lua, encontrar-se a si mesmo
Em desolado espaço.

O “eu”, por trás de nós oculto,
É muito mais assustador,
E um assassino, escondido em nosso quarto,
Dentre os horrores, é o menor.

O homem prudente leva consigo uma arma
E cerra os ferrolhos da porta,
Sem perceber um outro espectro,
Mais ínfimo e maior.

(Tradução de Ivo Bender)

(Título e Autoria Desconhecidos)

A gente não precisa ser uma câmara para ser
mal-assombrada

A gente não precisa ser uma câmara para ser
mal-assombrada;
A gente não precisa ser uma casa.
A mente tem corredores que ultrapassam
Lugares de pedra e cal.

Muito melhor à meia-noite encontrar
Um fantasma de fora
Do que o seu interior enfrentar –
Esse mais frio anfitrião.

Muito melhor o cemitério atravessar
Por entre as lajes
Que desarmado se defrontar,
Em lugar ermo,

Nós mesmos atrás de nós, ocultos,
Deveríamos assustar-nos mais
Que um assassino, em nossos aposentos
Escondido.

O corpo arma-se com um revólver,
Passa o ferrolho na porta
E não se lembra de um espectro superior,
Ou de mais.

(Tradução de Vera das Neves Pedroso)

Referências:

Em Inglês

DICKINSON, Emily. One need not be a chamber − to be haunted. In: __________. Poemas Escolhidos. Seleção, tradução e introdução de Ivo Bender. Edição bilíngue. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011. p. 56 e 58. (Coleção L&PM Pocket; v. 436)

Em Português

DICKINSON, Emily. Para as assombrações, desnecessária é a alcova. In: __________. Poemas Escolhidos. Seleção, tradução e introdução de Ivo Bender. Edição bilíngue. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011. p. 57 e 59. (Coleção L&PM Pocket; v. 436)

DICKINSON, Emily. A gente não precisa ser uma câmara para ser mal-assombrada. Tradução de Vera das Neves Pedroso. In: JOHNSON, Thomas H. Mistério e solidão: a vida e a obra de Emily Dickinson. Tradução de Vera das Neves Pedroso. 1. ed. Rio de Janeiro, GB: Lidador, 1965. p. 147.

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