A poesia de Benedetti é um compromisso só com a liberdade e a verdade, contra
a violência e pela justiça social. Daí porque nos passa a sensação de que se
volta às pessoas do povo que circula pelas ruas das cidades, não se devotando,
por conseguinte, a subsistir numa pretensa torre de marfim.
Benedetti cultiva um estilo dialogal, como se disse, compromissado
politicamente. E mesmo quando se exprime introspectivamente, não se torna
autorreferencial, como é possível ratificar no poema abaixo, rico em versos
breves, diretos, sem pontuação e sem qualquer opacidade.
J.A.R. – H.C.
Mario Benedetti
(1920-2009)
Arte Poética
Es un modo de crecer
en lo que dura un
suspiro
o maneras de decir
de otra manera lo
mismo
que nos enseñan la
historia
las estaciones el río
una suerte de jugar
con formas y
contenidos
y regla para quien
quiera
violar las reglas del
siglo
ingenio contra la
asfixia
recurso para el
respiro
pero no la vanagloria
ni lo que arrastra
consigo
es un modo de
entender
o aproximarse al
prodigio
con el paisaje en los
ojos
y en el alma un
calofrío
con la palabra en
volandas
o el corazón en
añicos
aprendiendo a
transfomar
lo sobrehumano en
sencillo
nadie podrá
despojarnos
ni los sueños
impedirnos
ni quitarnos lo
bailado
ni matarnos lo vivido
ni convertirnos en
otro
ni usarnos como
testigo
es un modo de sentir
y casi como vivirlo
y si la memoria
aprieta
para eso esta el
olvido
o trasmutar el
recuerdo
en cualquier otro
peligro
si es otoño / en
primavera
si es invierno / en
el estío
si es desamor / en
amor
y si es amor / en
delirio
si es ordenanza / en
azar
y si es azar / en
destino
lo malo que poseemos
en lo bueno que
perdimos
es un modo de arrojar
por la borda lo
prohibido
y aunque extraviemos
los nombres
incautarnos de sus
símbolos
y archivar al pobre
dios
como asunto concluido
es un modo de
quedarse
frente a frente con
el niño
que fuimos alguna vez
sin saberlo y sin
sufrirlo
una forma de asumir
señales muros y mitos
y no morir de
nostalgia
ni asomarnos al
abismo
Corrente: estudo para uma pintura mural
(Edward Biberman: pintor
norte-americano)
Arte Poética
É um modo de crescer
no que dura um
suspiro
ou maneiras de dizer
de outra maneira o
mesmo
que nos ensinam a
história
as estações o rio
uma sorte de brincar
com formas e
conteúdos
e regras para quem
queira
violar as regras do
século
engenho contra a
asfixia
recurso para o
suspiro
mas não a vanglória
nem o que arrasa
consigo
é um modo de entender
ou aproximar-se do
prodígio
com a paisagem nos
olhos
e na alma um calafrio
com a palavra pelos
ares
ou o coração em
migalhas
aprendendo a
transformar
o sobre-humano em
sincero
ninguém poderá
despojar-nos
nem os sonhos impedir-nos
nem tirar-nos o
prazer
nem matar-nos o
vivido
nem converter-nos em
outro
nem usar-nos de
testemunha
é um modo de sentir
e quase como vivê-lo
e se a memória aperta
para isso existe o
esquecimento
ou transmutar a
recordação
em qualquer outro
perigo
se é outono / em
primavera
se é inverno / no
estio
se é desamor / em
amor
e se é amor / em
delírio
se é ordem / em acaso
e se é acaso / em
destino
o mal que temos
no bom não mais
possuído
é um modo de atirar
pela borda o proibido
e mesmo que
extraviemos os nomes
adonar-nos de seus
símbolos
e arquivar o pobre
deus
como assunto
concluído
é um modo de ficar
frente a frente com o
menino
que fomos alguma vez
sem sabê-lo e sem
sofrê-lo
uma forma de assumir
sinais muros e mitos
e não morrer de
saudades
nem debruçar-nos no
abismo
Referência:
BENEDETTI, Mario. Arte poética / Arte
poética. Tradução de Julio Luís Gehlen. In: __________. Antologia poética. Tradução de Julio
Luís Gehlen. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1988. Em
espanhol: p. 94 e 96; em português: p. 95 e 97.
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