Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Edmond Haraucourt - O Melhor Verso

Os mais belos versos escritos pelo poeta, segundo Haraucourt, não são exatamente aqueles que escreveu, mas aqueles que jamais haverá de escrever, tributários que são dos benditos grilhões do amor, sob os quais a sua amada poderá lê-los, em silêncio, numa noite em que as duas mentes se encontrarem.

É isso que Haraucourt promete à Dulcineia que se decida a amá-lo: fazê-la ver o espaço intraduzível encoberto por poemas, um secreto e edênico jardim, flor dos nossos sonhos, onde o pecado da arte jamais terá penetrado.

J.A.R. – H.C.

Edmond Haraucourt
(1856-1941)

Les Plus Beaux Vers

Les plus beaux vers sont ceux qu’on n’écrira jamais,
Fleurs de rêve dont l’âme a respiré l’arôme,
Lueurs d’un infini, sourires d’un fantôme,
Voix des plaines que l’on entend sur les sommets.

L’intraduisible espace est hanté de poèmes,
Mystérieux exil, Eden, jardin sacré
Où le péché de l’art n’a jamais pénétré,
Mais que tu pourras voir quelque jour, si tu m’aimes.

Quelque soir où l’amour fondra nos deux esprits,
En silence, dans un silence qui se pâme,
Viens pencher longuement ton âme sur mon âme
Pour y lire les vers que je n’ai pas écrits...

Dans: “Seul” (1891)

Amantes
(Hessam Abrishami: artista iraniano)

O Melhor Verso

Sempre o verso melhor é o que não foi escrito...
Flor do sonho que envia à noss’alma os perfumes,
Sorriso de um fantasma e luar de um infinito,
Voz de planície ouvida em nebulosos cumes...

O intraduzível céu é todo astral poesía...
Exílio misterioso, Éden, jardim sagrado,
Onde o pecado da arte há jamais penetrado,
Mas que poderás ver, amando-me algum dia!

Quando o amor nos prender com seus grilhões benditos,
Numa noite, em silencio e abismadora calma,
Vem, divina!, inclinar tu’alma sobre minh’alma
Para leres aí meus versos não escritos.

Em: “Sozinho” (1891)

Referências:

Em Francês

HARAUCOURT, Edmond. Les Plus Beaux Vers. In: WALCH, G. Anthologie des poètes français contemporains: le parnasse et les ecoles posterieures au parnasse (1866-1906). Préface de Sully Prudhomme. Tome Deuxieme. Paris: Ch. Delagrave; Leyde: A.-W. Sijthoff, [1907]. p. 205.

Em Português

HARAUCOURT, Edmond. O melhor verso. Tradução de Álvaro Reis. In: MAGALHÃES JR., Raimundo. Antologia de poetas franceses: do século XV ao século XX. Rio de Janeiro: Tupy, 1950. p. 161-162.

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