O poeta formula conselhos que bem poderiam ter saído da boca de Luzbel,
a mesma figura alegórica que, sendo inicialmente um ser de luz, depois de sua
queda e desterro ao inferno, passou a denominar-se Satã, o consabido adversário
do divino.
As paixões e os prazeres inferiores são o objeto dos versos incitadores
de Brines, autênticas provocações filosóficas que tangenciam as palavras da
serpente no Gênesis: “Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em
que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, conhecendo o
bem e o mal” (Gênesis 3:4,5).
J.A.R. – H.C.
Francisco Brines
(n. 1932)
Los placeres inferiores
No desdeñes las
pasiones vulgares.
Tienes los años
necesarios para saber
que ellas se
corresponden exactamente con la vida.
No reduzcas su
acción,
pues si del breve
tiempo en que consistes
las sustraes,
es todavía el existir
más deficiente.
Descubre su verdad
tras la apariencia,
y así no habrá
falsía,
y no podrás mentir
que fue razón de vida lo que sólo fue
tránsito.
Más ellas te enviaron
el fiel aburrimiento de las horas.
Exigen lucidez, no en
su experiencia,
sino en su escaso
ser;
valóralas exactas,
para lo cual has de
saber lo que la vida vale,
y esa sabiduría hace
tiempo que es tuya.
Si cometes error
cuando las midas,
hazlo siempre en
tendencia de la degradación.
Nunca mejores lo que
vale poco.
Y que no tengan
nombre, ni tiempo detenido,
y queden confundidas
en su promiscuidad.
Sabes que tu memoria
es débil, y te ayuda.
Todas son una sola,
como es una la vida.
Y las otras pasiones,
que merecen un nombre
y el cobijo de un
tiempo,
sálvalas lejos de
ellas,
y siempre te recuerden
lo que la vida no es.
Y agradece a la vida
esos errores.
De: “Insistencias em Luzbel” (1977)
Gravura para o “Inferno” de Dante
(Gustave Doré:
artista francês)
Os prazeres inferiores
Não desdenhes as
paixões vulgares.
Tens os anos
necessários para saber
que elas correspondem
exatamente à vida.
Não reduzas sua ação,
pois se do breve
tempo em que consistes
tu as subtrais,
és ainda assim o mais deficiente existir.
Descobre a sua
verdade por trás da aparência,
e assim não haverá
falsidade,
e não poderás mentir que
foi razão de vida o que somente foi
trânsito.
Enviaram-te elas, nada
obstante, o lídimo tédio das horas.
Exigem lucidez, não
em sua experiência,
senão em seu escasso
ser;
valora-as com exatidão,
para o que hás de
saber o quanto vale a vida,
e essa sabedoria faz
tempo que é tua.
Se cometes erros quando
as mensuras,
faze-o sempre com tendência
à degradação.
Nunca melhores o que
pouco vale.
E as coisas que não tenham
nome, nem tempo detido,
e fiquem confundidas
em sua promiscuidade.
Sabes que tua memória
é fraca, e te ajuda.
Todas são somente
uma,
como uma é a vida.
E as outras paixões
que merecem um nome
e o refúgio de um
tempo,
salva-as longe delas,
e sempre te recordem
o que a vida não é.
E agradece à vida por
tais erros.
De: “Insistências em Luzbel” (1977)
Referência:
BRINES, Francisco. Los placeres
inferiores. In: RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Sellección, estudio y notas). Poesia española contemporánea: historia
y antología (1939-1980). 1. ed. Madrid (ES): Editorial Alhambra, 1981. p.
300-301.
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