Neste sugestivo poema, Mallarmé se compraz em apenas tocar o cabelo de sua
musa, desatando as tranças em ondas, para transformá-lo em bandeira da vitória,
depois de atravessar terríveis paisagens, para fazer cerco ao fortificado
castelo da esperança.
Retornando à lucidez de seu precipitado arrebatamento, o poeta percebe,
ao fim, que a esperança é apenas um velado e estéril espectro sitiado num baluarte, a lamuriar-se
apaticamente, entre arrepios e mansuetudes, sem que um pálido astro irrompa como um gato preto na noite escura.
J.A.R. – H.C.
Stéphane Mallarmé
(1842-1898)
Le Château de l’Espérance
Ta pâle chevelure
ondoie
Parmi les parfums de
ta peau
Comme folâtre un
blanc drapeau
Dont la soie au
soleil blondoie.
Las de battre dans
les sanglots
L’air d’un tambour
que l’eau défonce,
Mon coeur à son passé renonce
Et, déroulant ta tresse en flots,
Marche à l’assaut,
monte, – ou roule ivre
Par des marais de
sang, afin
De planter ce drapeau
d’or fin
Sur un sombre château
de cuivre
– Où, larmoyant de
nonchaloir,
L’Espérance rebrousse
et lisse
Sans qu’un astre pâle
jaillisse
La Nuit noire comme un chat noir.
Jardim do castelo à noite com a Lua
refletindo sobre as águas do porto de Nova York
(Jasper Francis
Cropsey: pintor norte-americano)
O Castelo da Esperança
Teu flavescente cabelo
ondula
Por entre os aromas
de tua pele
Como meneia uma bandeira branca
Cuja seda tem reflexos louros ao sol.
Cansado de percutir
em meio a soluços
O ar de um tambor que
o pranto avariou,
Meu coração renuncia ao
seu passado
E, desatando tuas
tranças em ondas,
Parte ao ataque,
monta, – ou rola ébrio
Por pântanos de
sangue, a fim de
Cravar essa bandeira
do ouro mais fino
Sobre um sombrio
castelo de cobre.
– Ali onde, chorando apaticamente,
A Esperança se encrespa
e se anedia
Sem que um pálido
astro irrompa
Como um gato preto na
noite escura.
Referência:
MALLARMÉ, Stéphane. Le château de l’espérance. In: __________. Collected poems and other verse. New
translation by E. H. and A. M. Blackmore with parallel french text. With an
introduction by Elizabeth McCombie. Oxford, UK: Oxford University Press, 2006. p.
188 and 190.
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