Pasolini, o grande diretor de cinema italiano,
também foi poeta, como se pode constatar pela bela publicação bilíngue de seus
poemas, por parte da editora Cosac Naify, cujas atividades foram encerradas
muito prematuramente no ano passado (vide campo de referência desta postagem).
Neste exemplar, Pasolini medita sobre o ocaso de
sua própria juventude, de sua curiosidade juvenil, e compendia as condições
para que se possa ser um grande poeta: há de se ter horas e horas de solidão
para transformar o cenário devastado pelo caos. A poesia como reflexo da
vida...
J.A.R. – H.C.
Pier Paolo Pasolini
(1922-1975)
Al principe
Se torna il sole, se discende la sera,
se la notte ha un sapore di notti future,
se un pomeriggio di pioggia sembra tornare
da tempi troppo amati e mai avuti del tutto,
io non sono più felice, né di goderne né di
soffrirne:
non sento più, davanti a me, tutta la vita…
Per essere poeti bisogna avere molto tempo:
ore e ore di solitudine sono il solo modo
perché si formi qualcosa, che è forza,
abbandono,
vizio, libertà, per dare stile al caos.
Io tempo ormai ne ho poco: per colpa della morte
che viene avanti, al tramonto della gioventù.
Ma per colpa anche di questo nostro mondo umano,
che ai poveri toglie il pane, ai poeti la pace.
In: “La Religioni del mio Tempo” (1961)
As Dores de Aminta
(Bartolomeo Cavarozzi:
pintor italiano)
Ao príncipe
Se torna o sol, se o crepúsculo baixa,
se a noite tem gosto de noites futuras,
se uma tarde de chuva parece voltar
de tempos muito amados e jamais possuídos de
todo,
eu não sou mais feliz, nem disso extraio prazer
ou pena:
não sinto mais, diante de mim, toda a vida...
Para ser poeta é preciso ter tempo de sobra:
horas e horas de solidão são o único meio
de se formar algo, que é força, abandono,
vício, liberdade, de dar estilo ao caos.
Tempo hoje tenho pouco: por culpa da morte
que vem e avança, no ocaso da juventude.
Mas também por culpa de nosso mundo humano
que aos pobres tira o pão, aos poetas, a paz.
Em: “A Religião do meu Tempo” (1961)
Referência:
PASOLINI, Pier Paolo. Al principe / Ao príncipe.
Tradução de Maurício Santana Dias. In: __________. Poemas.
Organização e introdução de Alfonso Berardinelli e Maurício Santana Dias.
Posfácio de Maria Betânia Amoroso. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Cosac Naify,
2015. Em italiano: p. 130; em português: p. 131.
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