Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Mia Couto - Falta de reza

Mia Couto, autor moçambicano, rejeita a forma como os humanos vislumbram a figura de Deus: um Eterno que fica a vigiar os vivos, para ter ciência do que andam a fazer, e pedir contas aos já falecidos, pelos atos aqui praticados.

O poeta, de fato, postula por um Deus amigável, com a intimidade para se relacionar em segunda pessoa, sem maiores formalidades: julga ele que, sendo isso possível, a figura divina nem necessitasse de existir.

J.A.R. – H.C.

Mia Couto
(n. 1955)

Falta de reza

Por insuficiência de reza,
por falsidade de crença
meu anjo me culpou
e vaticinou eterna penitência.

Mas não ajoelho
nem peço desculpa.
Não quero um deus
que vigie os vivos
e peça contas aos mortos.

Um deus amigo
que me chame por tu
e que espere por mim
para um copo de riso e abraços:
esse é o deus que eu quero ter.

Um deus
que nem precise de existir.

Menina orando à porta para a Madona
(Ferdinand Georg Waldmüller: pintor austríaco)

Referência:

COUTO, Mia. Falta de reza. In: __________. Poemas escolhidos. Seleção do autor. Apresentação de José Castello. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2016. p. 171.

Nenhum comentário:

Postar um comentário