Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Cassiano Ricardo - Ode Pastoril

Ricardo associa os polos do binômio espaço x tempo, tão explorado na Física, às experiências, respectivamente, da vida e da morte. Diz ele que esparge entre cada um desses extremos o rebanho de estrelas de que é detentor.

Há somente manhãs e amanhãs no dicionário lírico do poeta, nascer e porvir que, desse modo, não libera tempo para olhares retrospectivos: tudo são experiências próprias, de primeira mão, num firme avançar que só há de terminar com o ocaso.

J.A.R. – H.C.

Cassiano Ricardo
(1895-1974)

Ode Pastoril

A paisagem é minha
só porque tenho olhos.
O pássaro é meu
só porque tenho ouvidos.

Amo com a mão as coisas
que o estar aqui me deu.
No universal verde,
sou meu ser, não sou eu.

Em meu léxico lírico
só existem duas palavras,
e uma é irmã da outra:
a manhã e o amanhã.

Sinto que o espaço é a vida
e que o tempo é a morte.
E ponho, entre uma e outra,
Meu rebanho de estrelas.

Torres de Rocamadour (França)
(Thomas Wells Schaller: pintor norte-americano)

Referência:

RICARDO, Cassiano. Ode pastoril. In: __________. O arranha-céu de vidro. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p. 105.

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