Ricardo associa os polos do binômio espaço x tempo, tão explorado na
Física, às experiências, respectivamente, da vida e da morte. Diz ele que
esparge entre cada um desses extremos o rebanho de estrelas de que é detentor.
Há somente manhãs e amanhãs no dicionário lírico do poeta, nascer e
porvir que, desse modo, não libera tempo para olhares retrospectivos: tudo são
experiências próprias, de primeira mão, num firme avançar que só há de terminar
com o ocaso.
J.A.R. – H.C.
Cassiano Ricardo
(1895-1974)
(1895-1974)
Ode Pastoril
A paisagem é minha
só porque tenho
olhos.
O pássaro é meu
só porque tenho
ouvidos.
Amo com a mão as
coisas
que o estar aqui me
deu.
No universal verde,
sou meu ser, não sou
eu.
Em meu léxico lírico
só existem duas
palavras,
e uma é irmã da
outra:
a manhã e o amanhã.
Sinto que o espaço é
a vida
e que o tempo é a
morte.
E ponho, entre uma e
outra,
Meu rebanho de
estrelas.
Torres de Rocamadour (França)
(Thomas Wells Schaller: pintor norte-americano)
Referência:
RICARDO, Cassiano. Ode pastoril. In:
__________. O arranha-céu de vidro.
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p. 105.
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