Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Semana Erótico-Pornográfica: (IV) Drummond

Em nenhuma de suas obras Drummond revela tanto o seu lado erótico quanto em “O Amor Natural”. Alguns poemas estão no limiar da pornografia, como o que apresentamos abaixo.

Infere-se das palavras do soneto uma relação sexual de início não consentida – afinal, a que se refere a expressão “unhas protestantes”?! –, mas ao fim aceita pela parceira: “a bunda torna-se vampiro de rola”, é o que afirma o poeta no fecho do poema.

J.A.R. – H.C.

Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)

No corpo feminino, esse retiro

No corpo feminino, esse retiro
– a doce bunda – é ainda o que prefiro.
A ela, meu mais íntimo suspiro,
Pois tanto mais a apalpo quanto a miro.

Que tanto mais a quero, se me firo
Em unhas protestantes, a respiro
A brisa dos planetas, no seu giro
Lento, violento... Então, se ponho e tiro

A mão em concha – a mão, sábio papiro,
Iluminando o gozo, qual lampiro.
Ou se, dessedentado, já me estiro,

Me penso, me restauro, me confiro,
O sentimento da morte eis que adquiro:
De rola, a bunda torna-se vampiro. 


Referência:

ANDRADE, Carlos Drummond. No corpo feminino, esse retiro. In: __________. O amor natural. 4. ed. São Paulo, SP: Record, 1994. p. 38.

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