Em nenhuma de suas obras Drummond revela tanto o seu lado erótico quanto
em “O Amor Natural”. Alguns poemas estão no limiar da pornografia, como o que
apresentamos abaixo.
Infere-se das palavras do soneto uma relação sexual de início não
consentida – afinal, a que se refere a expressão “unhas protestantes”?! –, mas
ao fim aceita pela parceira: “a bunda torna-se vampiro de rola”, é o que afirma
o poeta no fecho do poema.
J.A.R. – H.C.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
No corpo feminino, esse retiro
No corpo feminino,
esse retiro
– a doce bunda – é
ainda o que prefiro.
A ela, meu mais
íntimo suspiro,
Pois tanto mais a
apalpo quanto a miro.
Que tanto mais a
quero, se me firo
Em unhas
protestantes, a respiro
A brisa dos planetas,
no seu giro
Lento, violento...
Então, se ponho e tiro
A mão em concha – a
mão, sábio papiro,
Iluminando o gozo,
qual lampiro.
Ou se, dessedentado,
já me estiro,
Me penso, me
restauro, me confiro,
O sentimento da morte
eis que adquiro:
De rola, a bunda
torna-se vampiro.
Referência:
ANDRADE, Carlos Drummond. No corpo
feminino, esse retiro. In: __________. O
amor natural. 4. ed. São Paulo, SP: Record, 1994. p. 38.
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