Diretamente do folclore grego, para marcar presença neste bloguinho,
temos aqui um poema religioso, a resenhar as horas da paixão de Jesus lá pelas
terras do Médio Oriente, exatamente no dia de hoje, sexta-feira, data santa para os cristãos.
Mais abaixo, um vídeo em que se interpreta “Mariama”, de Milton
Nascimento, música incorporada à “Missa dos Quilombos”, evento religioso,
político e cultural produzido por Dom Pedro Casaldáliga, ex-bispo de São Félix
do Araguaia (MT), nos primeiros anos da década de 80, quando o país, aos poucos, voltava à normalidade democrática.
J.A.R. – H.C.
Perdoada
(Greg Olsen: artista
norte-americano)
O Lamento de Nossa Senhora
Hoje é dia de céu
negro, hoje é dia de negrume,
hoje vestem-se de
luto os anjos mais os arcanjos,
hoje todos estão
tristes, os montes estão chorando,
as pessoas vão e vêm
ante a porta de Maria.
A Virgem Nossa
Senhora, sentada em sua cadeira,
faz as suas orações
pelo seu único filho.
Trovões, relâmpagos
ouve, escuta um grande barulho
e sai à porta de casa
para ver o que se passa.
Vê o céu relampejando,
vê as estrelas com lágrimas,
a voz escuta e ouve a
fala vinda da boca do arcanjo:
“Salve, Senhora
Santíssima, agora é chegada a hora:
agarraram vosso Filho
e para a cruz o levaram”.
Nossa Senhora, ao
ouvi-lo, cai por terra desmaiada;
quando volta a si lhe
fala assim, com estas palavras:
“Todos que chorais o
Cristo, vinde vós todos comigo”.
E eis que a Marta e
Madalena e também à mãe de Lázaro
juntou-se o irmão de
Jacó e os quatro puseram pé
no caminho e lá se
foram, caminha que te caminha.
Viraram à esquerda e
à direita, ao certo ninguém sabia.
Prosseguiram; mais
adiante, avistaram São João:
“Ai meu João,
Precursor e Batista do meu filho,
onde é que está meu
menino, onde é que está o teu mestre?”
“Quem tem boca para
dizer, coração pra revelar,
quem tem mão para
apontar-te o lugar onde encontrá-lo?”
“Tu tens boca para
dizer, coração pra revelar,
e tens mão para
apontar-me o lugar onde encontrá-lo”.
“Vês aquele que está
nu, vês aquele sofredor
que tem a fronte
cingida numa coroa de espinhos?
É aquele o teu
menino, aquele é que é o meu mestre”.
Nossa Senhora, após
ouvi-lo, estas palavras lhe diz:
“Onde fica o
precipício de onde vou precipitar-me?”
Ninguém lhe responde,
ninguém a podia consolar;
só o Cristo lhe
responde do alto da sua cruz:
“Vamos, mãezinha, não
ganhas coisa alguma sem paciência.
Põe a mesa da aflição
para os aflitos comerem,
e sábado de Aleluia
fiquem sentados à espera,
que domingo de manhã
verão Cristo Ressurrecto”.
Mariama
(Milton Nascimento)
Referência:
ANÔNIMO. O lamento de Nossa Senhora.
In: PAES, José Paulo (Seleção, tradução direta do grego, prefácio, textos
críticos e notas). Poesia moderna da
Grécia. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara, 1986. p. 25-26.
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