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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Folclore Grego - O Lamento de Nossa Senhora

Diretamente do folclore grego, para marcar presença neste bloguinho, temos aqui um poema religioso, a resenhar as horas da paixão de Jesus lá pelas terras do Médio Oriente, exatamente no dia de hoje, sexta-feira, data santa para os cristãos.

Mais abaixo, um vídeo em que se interpreta “Mariama”, de Milton Nascimento, música incorporada à “Missa dos Quilombos”, evento religioso, político e cultural produzido por Dom Pedro Casaldáliga, ex-bispo de São Félix do Araguaia (MT), nos primeiros anos da década de 80, quando o país, aos poucos, voltava à normalidade democrática.

J.A.R. – H.C.

Perdoada
(Greg Olsen: artista norte-americano)

O Lamento de Nossa Senhora

Hoje é dia de céu negro, hoje é dia de negrume,
hoje vestem-se de luto os anjos mais os arcanjos,
hoje todos estão tristes, os montes estão chorando,
as pessoas vão e vêm ante a porta de Maria.
A Virgem Nossa Senhora, sentada em sua cadeira,
faz as suas orações pelo seu único filho.
Trovões, relâmpagos ouve, escuta um grande barulho
e sai à porta de casa para ver o que se passa.
Vê o céu relampejando, vê as estrelas com lágrimas,
a voz escuta e ouve a fala vinda da boca do arcanjo:
“Salve, Senhora Santíssima, agora é chegada a hora:
agarraram vosso Filho e para a cruz o levaram”.
Nossa Senhora, ao ouvi-lo, cai por terra desmaiada;
quando volta a si lhe fala assim, com estas palavras:
“Todos que chorais o Cristo, vinde vós todos comigo”.
E eis que a Marta e Madalena e também à mãe de Lázaro
juntou-se o irmão de Jacó e os quatro puseram pé
no caminho e lá se foram, caminha que te caminha.
Viraram à esquerda e à direita, ao certo ninguém sabia.
Prosseguiram; mais adiante, avistaram São João:
“Ai meu João, Precursor e Batista do meu filho,
onde é que está meu menino, onde é que está o teu mestre?”
“Quem tem boca para dizer, coração pra revelar,
quem tem mão para apontar-te o lugar onde encontrá-lo?”
“Tu tens boca para dizer, coração pra revelar,
e tens mão para apontar-me o lugar onde encontrá-lo”.
“Vês aquele que está nu, vês aquele sofredor
que tem a fronte cingida numa coroa de espinhos?
É aquele o teu menino, aquele é que é o meu mestre”.
Nossa Senhora, após ouvi-lo, estas palavras lhe diz:
“Onde fica o precipício de onde vou precipitar-me?”
Ninguém lhe responde, ninguém a podia consolar;
só o Cristo lhe responde do alto da sua cruz:
“Vamos, mãezinha, não ganhas coisa alguma sem paciência.
Põe a mesa da aflição para os aflitos comerem,
e sábado de Aleluia fiquem sentados à espera,
que domingo de manhã verão Cristo Ressurrecto”. 

Mariama
(Milton Nascimento)

Referência:

ANÔNIMO. O lamento de Nossa Senhora. In: PAES, José Paulo (Seleção, tradução direta do grego, prefácio, textos críticos e notas). Poesia moderna da Grécia. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara, 1986. p. 25-26.

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