Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Antônio Girão Barroso - Último poema

O derradeiro poema, do poeta cearense Antônio Girão, apenas por palavras se parece a tantos outros que brilham no campo da literatura. Mas não só: o que o torna singular é a substância que o compõe, da mesma tessitura da própria vida, do homem, da sua pequenez à sua grandeza.

 

Um longo apito de uma locomotiva, um passeio vespertino de bonde: notemos o quanto fugaz é essa experiência, que fende a seta do tempo. Um nada, no breve interregno em que a massa de uma ampulheta flui de cima a baixo de seus dois cones invertidos.

 

Mas uma experiência que deixa os seus efeitos sobre a memória dos que lhe são contemporâneos ou que virão depois. Um apito que tem o dom de, em sua fugacidade, perdurar no tempo!

 

J.A.R. – H.C.

 

Antônio Girão Barroso

(1914-1990)

 

Último poema

 

O que está por trás do poema e da poesia do poema

é o homem e sua vida

sua sobrevida

sua suada subvida

o homem e suas circunstâncias

plantado no espaço

no tempo que vai

p a s s a n d o

O homem e suas (in)finitudes

um olhar breve – e vão

um apito – longo – de locomotiva

um passeio à tarde – de bonde

 

O último poema

(Claude Raguet Hirst: artista norte-americano)

 

Referência:

 

BARROSO, Antônio Girão. Último poema. In: PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os cem melhores poetas brasileiros do século. São Paulo, SP: Geração, 2001. p. 71.

2 comentários:

  1. Sendo filha do AGB, venho lhe agradecer por esta lembrança do grande e inspirado poeta, que tanto me ensinou sobre a vida e como escapar das armadilhas que encontramos pelo caminho. Antônio foi, sobretudo, um amante da Poesia de grandes como Rimbaud e Baudelaire. Ele gostava demais da literatura francesa e se deixou influenciar por ela. Salve, Girãozinho !!

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  2. Prezada,
    Não há por que agradecer. Aliás, este blogueiro é que tem muito a agradecer a todos os poetas que nos legaram as suas belas criações, para que possamos sobre elas refletir – o seu genitor, claro está, aí incluso.
    Um grande abraço,
    João A. Rodrigues

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