Com aquela sua costumeira forma de grafar as poesias – nas quais o único
meio de pontuação empregado consiste em pródigos travessões, singular forma de
forçar o leitor a pausas mais pronunciadas –, a poetisa norte-americana Emily
Dickinson, no poema nº 254, datado de 1861, nos brinda com uma síntese do que
seja a “esperança”.
Num estilo notoriamente homilético, o poema metaforiza a esperança na
figura de um “pequeno pássaro”, que fica a mercê das borrascas da vida. E é o
seu canto melodioso que nos “mantém aquecidos” ante os nossos mais comezinhos infortúnios,
o nome explícito para as tempestades a que se refere a autora.
J.A.R. – H.C.
Emily Dickinson
(1830-1886)
“Hope” is the
thing with feathers
“Hope” is the thing with feathers −
That perches In the soul −
And sings the tune Without the words −
And never stops − at all −
And sweetest − in the Gale − is heard −
And sore must be the storm −
That could abash the little Bird
That kept so many warm −
I’ve heard it in the chillest land
And on the strangest Sea −
Yet, never, in Extremity,
It asked a crumb − of Me.
Esperança
Elzbieta Mozyro: artista
polonesa
A esperança é coisa com plumas
A esperança é coisa
com plumas
Que pousa na alma,
Entoa melodias sem
palavras,
E não se detém por
nada,
Ressoando ainda mais
doce no vendaval.
Agitada há de ser a
tormenta
Capaz de abater o pequeno
pássaro
Que mantém aquecidos
a muitos.
Tenho-o escutado na terra
mais gélida
E no mais estranho
mar;
Mas jamais, mesmo no
infortúnio,
Arriscou-se a pedir-me uma só
migalha.
Referência:
DICKINSON, Emily. “Hope” is the thing with feathers. In: __________. The complete poems of Emily Dickinson.
Edited by Thomas H. Johnson. Boston, MA: Little, Brown and Company, 1960. p.
116.
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