Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Robert Frost - A Porta sem Fechadura

Aqui está um poema em que o sentido conotativo das palavras é soberano: é claro que não houve qualquer autodefenestramento do poeta pela janela de sua residência. Tampouco alguém, literalmente, bateu à sua porta. E se se trata de uma porta, para quê tê-la se não há como impedir que terceiros a atravessem sem consentimento?!

O sentido é suficientemente evidente para mostrar que o poeta estava preso a um estado autotélico de consciência. Estado de autorreferência, no qual o salto qualitativo para se fazer diferença no mundo fica embotado.

Tornando-se um referente de segundo grau, passou o autor a enxergar-se com os olhos de outrem. E mesmo nisso há certos perigos. Veja o leitor que Frost afirma ter-se “escondido” no mundo. Se outra não for a interpretação, suas palavras parecem afirmar que se pode esquivar da responsabilidade de seus próprios atos, torando-se um homem comum, médio, quando então qualquer mudança só se poderá perceber com o avançar da idade.

Mas... Frost não era um homem médio! Há uma certa modéstia que se intui por trás de suas palavras!

J.A.R. – H.C.

Robert Frost
(1874-1963)

The Lockless Door

It went many years,
But at last came a knock,
And I thought of the door
With no lock to lock.

I blew out the light,
I tip-toed the floor,
And raised both hands
In prayer to the door.

But the knock came again.
My window was wide;
I climbed on the sill
And descended outside.

Back over the sill
I bade a ‘Come in’
To whatever the knock
At the door may have been.

So at a knock
I emptied my cage
To hide in the world
And alter with age. 


A Porta sem Fechadura

Passaram-se muitos anos,
Mas, por fim, alguém bateu,
E pensei na porta
Sem fechadura para trancar.

Apaguei a luz,
Fui na ponta dos pés,
E ergui minhas mãos
Em oração à porta.

Mas repetiu-se a batida.
Minha janela era ampla;
Subi no peitoril
E pulei para fora.

Voltei-me sobre o peitoril
E exclamei ‘Pode entrar!’
A quem quer que houvera
Chamado à porta.

Assim, ao apelo de uma batida,
Escapei de minha cela
Para esconder-me no mundo
E mudar com a idade.

Referência:

FROST, Robert. The lockless door. In: __________. Collected poems of Robert Frost. Garden City, NY: Halcyon House, 1942. p. 299.

6 comentários:

  1. Eu achei incrível esse poema, entre as buscas por poemas do H. Hesse acabei encontrando seu blog... E achei muito bom seu texto, fez refletir muito sobre a(s) ideia(s) existentes por trás da porta das palavras. Obrigada!

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    1. Prezada Rafaela: sou eu a muito agradecer pelo seu comentário. Quanto aos poemas do Hesse ou de Frost, são mais ou menos uma dúzia de cada um deles neste blog, até aqui. Para consultá-los, você pode digitar o nome de Robert Frost ou de Hermann Hesse no campo "Pesquisa Neste Blog", no meio da coluna à esquerda e clicar em "Pesquisar". As postagens correspondentes aparecerão em sequência.
      Um abraço.
      João A. Rodrigues

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    2. Sim, vou procurá-los para ler com tempo. Você fez a tradução do poema, mas sabe se existiria algum livro do Robert Frost em português para recomendar?

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    3. Rafaela: de fato, não saberia lhe informar. Mas quando se consulta o 'site' da Estante Virtual aparece a obra "Poemas Escolhidos", pela editora Lidador, em 1969, com a tradução de Marisa Murray. Recentemente, não tenho visto traduções dele consolidadas em antologia própria, senão apenas traduções esparsas de alguns poemas que aparecem aqui e ali.
      Um abraço.
      João A. Rodrigues

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    4. Grata pela indicação! Uma pena só haver disponível esta edição brasileira dos poemas de Robert Frost. Continuo a pesquisar sobre ele, por curiosidade mesmo... Encontrei "Poemas escolhidos" na biblioteca da minha universidade, estou ansiosa para ler. Até mais.

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  2. Justo o que eu procurava sobre fechadura e segurança eletronica obrigada!

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