Neste poema-elegia com prenúncios trágicos, o poeta nova-iorquino Allan
Seeger faz referência à morte não de outrem, mas de si próprio. Morte que ele
antevia nos embates da 1GM, quando esteve servindo na Frente Ocidental, e que,
de fato, acabou por ocorrer na Batalha de Somme.
O poeta parece não temer a morte, aceita-a pacificamente, de uma forma talvez
até antecipada. E não emprega o tema em associação com a metáfora do inverno,
por exemplo, senão com a da primavera, diversamente, exatamente quando a
natureza torna a reviver, reproduzindo a vida com prodigalidade.
Trata-se de um poema que nos deixa a pensar se o poeta esperava ver seu
nome na lista de heróis reconhecidos ou se, por razões que não vêm aqui ao
caso, resolveu morrer de modo deliberado, porque, quem sabe, tenha desistido da
lide diária?!
“Buscai e achareis”, é o que consta em Lucas 11:9. O poeta foi em busca
da morte e a encontrou!
J.A.R. – H.C.
Allan Seger
(1888-1916)
I Have a
Rendezvous with Death
I have a rendezvous with Death
At some disputed barricade,
When Spring comes back with rustling shade
And apple-blossoms fill the air −
I have a rendezvous with Death
When Spring brings back blue days and fair.
It may be he shall take my hand
And lead me into his dark land
And close my eyes and quench my breath −
It may be I shall pass him still.
I have a rendezvous with Death
On some scarred slope of battered hill,
When Spring comes round again this year
And the first meadow-flowers appear.
God knows ’twere better to be deep
Pillowed in silk and scented down,
Where love throbs out in blissful sleep,
Pulse nigh to pulse, and breath to breath,
Where hushed awakenings are dear...
But I've a rendezvous with Death
At midnight in some flaming town,
When Spring trips north again this year,
And I to my pledged word am true,
I shall not fail that rendezvous.
Batalha em Seneffe
(Nicaise de Keyser:
pintor belga)
Terei uma Entrevista com a Morte
Terei uma entrevista
com a Morte
em certa barricada em
que se lute,
quando com suas
sombras murmurantes
de novo a Primavera
regressar
e as flores da
macieira encherem o ar...
Terei uma entrevista
com a Morte,
quando trouxer de
novo a Primavera
os dias azulados e
brilhantes.
Talvez ela me tome
pela mão
e me conduza para a
escuridão
do seu país, feche
meus olhos, corte
minha respiração...
Talvez eu passe
no lado dela
silenciosamente.
Terei uma entrevista
com a Morte
tia escarpa recoberta
de feridas
de uma colina
destroçada, quando
este ano a Primavera
vier chegando
e abrir nos prados as
primeiras flores.
Fora melhor estar
entre perfumes
e almofadas de seda
mergulhado,
onde o Amor vibra em
seu sono encantado,
numa só pulsação, num
só respiro,
de que é tão grato o
suave despertar...
Mas tenho uma
entrevista com a Morte
numa cidade em fogo,
à meia-noite,
ao ir a Primavera
para o norte;
serei fiel à palavra
que empenhei:
jamais a essa
entrevista faltarei.
Referência:
SEEGER. Allan. I have a rendezvous with
death / Terei uma entrevista com a morte. Tradução de Abgar Renault. In:
VIZIOLI, Paulo (Seleção e Tradução). Poetas
norte-americanos. Antologia Bilíngue. Edição Comemorativa do Bicentenário
da Independência dos Estados Unidos da América: 1776-1976. Rio de Janeiro, RJ:
Lidador, 1974. p. 172 e 174 (em inglês); 173 e 175 (em português).
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